quarta-feira, 29 de outubro de 2014


HISTÓRIA DE MARIA (5º Conto)


Parte 3
Eram 7h da manhã e Maria já estava acordada, dado que se encontrava muito nervosa por ter que enfrentar esta nova etapa. A sua tia Júlia já lhe tinha preparado o pequeno-almoço e tentou acalmá-la o mais possível e que se por acaso não se desse bem, ela ali estaria para cuidar dela e tentar arranjar-lhe outro trabalho.
Ainda não eram 9h da manhã e Maria já estava a tocar à porta dos seus novos patrões, para não chegar atrasada e queria dar boa impressão logo no primeiro dia.
A dona casa acolheu-a com muita simpatia para a colocar mais à vontade, dado que notou o nervosismo da sua nova empregada.
D. Amélia era uma senhora com um aspecto frágil e com um olhar meigo mas muito triste. Foi-lhe diagnosticado leucemia há cerca de meio ano e a sua saúde começou a debilitar-se rapidamente, pelo que necessitava de estar acompanhada assiduamente. Maria foi essencialmente contratada para a acompanhar e prestar todo o auxílio à sua patroa.
Maria começou a receber as instruções de tudo o que teria de fazer e o mais importante era estar sempre ao lado da sua senhora, acompanhá-la nos tratamentos do hospital diariamente, uma vez que estes eram muito agressivos.
Nessa mesma manhã, pelas 11h, Maria já teria de se deslocar ao hospital com  a sua senhora e foi-lhe explicado com delicadeza os efeitos secundários do tratamento que iriam administrar para que ela não se assustasse.
Francisco era o motorista da casa e seria sempre ele que as transportaria. Era um homem muito bem-disposto e elegante na sua farda. Foi apresentado a Maria e ficou muito satisfeito com a contratação da sua nova colega, que lhe pareceu deveras simpática.
Na hora marcada D. Amélia despediu-se de Maria para entrar na sala de tratamento e pediu-lhe para esperar cerca de 1h e que quando regressasse deveria estar mais debilitada ainda, colocando-a de sobreaviso, dado que iria levar uma dose muito forte que a deixaria sempre assim, mas era necessário para tentar combater aquela terrível doença.
Quando Maria viu D. Amélia sair de cadeira de rodas do tratamento ficou perplexa e mesmo tendo sido alertada não conteve um ar de pânico e correu de imediato para a auxiliar e se inteirar do seu estado, se era normal, se tinha corrido tudo dentro da normalidade e o que teria de fazer naquele momento, mas não obteve grandes respostas porque D. Amélia nem conseguia falar e reparou que ela transportava um saco de plástico onde era já visível que servia para acatar os vómitos contínuos, efeito da sobre-dosagem que levou.
Sabia que teria de a transportar na cadeira de rodas até ao carro onde se estava Francisco à espera como de costume e de olhos cravejados de lágrimas, por ver a sua patroa a sofrer assim, foi empurrando-a com a coragem que conseguiu arranjar, tentando não demonstrar o pânico em que se encontrava.
Francisco pegou ao colo D. Amélia, tarefa que já era rotineira no dia-a-dia, e colocou-a com o maior cuidado no banco de trás do carro e Maria entrou de seguida para junto dela, encostando-se e apoiando-a junto ao seu corpo para que se sentisse amparada.

Como era costume Francisco tratou logo de animar o ambiente dizendo algumas piadas que sabia que eram bem aceites por D. Amélia e que a faziam sorrir mesmo estando atordoada e cheia de dores. Depois colocava a sua música clássica preferida, que a acalmava até ao aconchego dos seus aposentos.
(continua...)

domingo, 9 de outubro de 2011

HISTÓRIA DE MARIA (5º Conto)


Parte 2
Quando Maria chegou ao Algarve foi acolhida pela sua Tia Júlia, o marido António e os primos João e Catarina com muita satisfação e tentaram fazer com que ela se sentisse totalmente à vontade e não ficasse assustada com a sua nova vida.
Dado os tios estarem bastante afastada da sua localidade, mais de 700 km, pouco contacto tinha com eles e de inicio custou-lhe imenso habituar-se a um novo viver com outras pessoas, mas aos poucos tudo se iria compor.
Para se ambientar à nova vida, Maria não foi logo trabalhar na primeira semana porque sua tia achou por bem mostrar-lhe inicialmente como se deslocar na sua nova morada, indicar-lhe os locais que lhe poderiam ser mais úteis e todos os caminhos a percorrer para não se perder. Assim tirou férias, dado que trabalhava como enfermeira no hospital de Faro, para a poder acompanhar nestes primeiros dias.
A casa onde Maria iria trabalhar era de pessoas amigas da família e cujo dono é colega de trabalho do tio António e frequentavam amiúde as casas uns dos outros. Ficava a cerca de 5km da casa dos tios e teria de apanhar um transporte para se deslocar até lá, pelo que sua tia teve de lhe ensinar onde era a paragem e onde sair.
Apresentou-a aos seus novos patrões como sendo a sua sobrinha, que começaria a trabalhar na semana seguinte e para que ficassem a conhecer a sua nova empregada.
Maria estava ainda muito envergonhada e também ficou assustada com a dimensão e riqueza daquela casa. Os donos eram um casal de meia-idade, na casa dos 55 anos, a D. Amélia e o Sr. Sampaio e soube que tinham 3 filhos, 2 rapazes e uma rapariga, que estudavam no estrangeiro e só estavam presentes em altura de férias.
Fizeram-lhe uma visita guiada pela casa e deram-lhe a conhecer mais ou menos o que esperavam que ela fizesse mas nas devidas alturas lhe seriam dadas ordens mais elaboradas. Acordaram o seu vencimento, dias de folga e outros pormenores para que ficasse tudo esclarecido. Pareciam ser uns patrões bastante acessíveis e com muita simpatia e deixaram-na menos assustada. Colocaram-na mais à vontade quando lhe disseram que seria ajudada por outros empregados que a casa tinha. O seu horário de trabalho seria das 9h da manhã até às 19h.
Depois desta primeira entrevista o resto da semana foi para passear pelo Algarve, conhecer melhor seus tios e primos e até deu para fazer uns dias de praia, coisa que Maria nunca tinha feito, pois no Gerês o que ainda podia fazer era ir até ao rio e pouco mais. Nunca tinha entrado no mar e foi maravilhosa a primeira vez que o fez, sentia-se mais feliz depois de desfrutar de toda essa beleza e começou a sentir-se menos triste, só a lembrança do seu Luís a fazia chorar quando ficava sozinha no seu quarto. Tentava sempre esconder de todos este relacionamento porque ninguém sabia e tinha medo da reação de seus pais.
Durante essa semana não teve nenhuma notícia de Luís porque ela seria a primeira a escrever-lhe e lhe dar a morada utilizar. Maria enviou a sua primeira carta a dar-lhe notícias de si e pediu que lhe escrevesse logo mas que no envelope colocasse o nome de Luísa Maria para disfarçar e ela poder dizer que era duma amiga.
Logo a semana passou e no dia seguinte seria o seu primeiro dia como empregada doméstica da família Sampaio.

sábado, 24 de setembro de 2011

HISTÓRIA DE MARIA

Parte 1

Maria impaciente, hesita e deambula pela casa. Aquela sensação de poder estar grávida deixava-a preocupada e ao mesmo tempo muito feliz, mas achava que era impensável naquela altura. Tinha de tirar teimas rapidamente e para isso teria de comprar um teste de gravidez logo que possível para desfazer esta dúvida na sua cabeça.

Sempre sonhou ser mãe mas não era o momento oportuno. Conseguiu encontrar um homem de boas posses e mantinha uma boa relação, era uma senhora de grande respeito no meio da alta sociedade, mas seu coração nunca se desligou do seu grande amor de juventude. O seu casamento estava a ser preparado e faltavam apenas 2 meses para se casar com Rodrigo Sampaio.

Teve uma infância cheia de dificuldades e piorou quando sua mãe teve de abandonar ainda jovem o trabalho para cuidar dos 2 filhos gémeos que nasceram. Não tinham dinheiro e nem outros familiares por perto para poderem ajudar e tomar conta deles pelo que a mãe teve de permanecer por casa para cuidar dos filhos.

Seu pai era o único que trabalhava mas o dinheiro não chegava, pois era empregado numa fábrica têxtil e o seu vencimento era muito pequeno para sustentar 5 pessoas.

Maria, filha mais velha, quando começou a estudar pouca ajuda teve para comprar livros e materiais escolares e a partir dos 16 anos teve de abandonar os estudos, passado pouco tempo dos seus irmãos terem nascido e as despesas começarem a aumentar.

Assim, ajudou a mãe a criar os irmãos e para contribuir nas despesas fazia limpezas quando sabia de alguém que precisava desses serviços.

Do seu tempo de escola, Maria teve um namorado que conseguiu manter escondido de seus pais e de vez enquanto dava umas escapadelas de casa para se poder encontrar com ele, chamava-se Luís e foi sempre a sua grande paixão. Luís também era pobre mas como era filho único ainda conseguiu continuar a estudar e era no final das aulas que esperava sempre à porta da escola pela sua amada.

Com tantos contratempos e dificuldades, Maria foi obrigada repentinamente a ir trabalhar para o Algarve como empregada doméstica em casa de uma família rica que estava interessada em contratar uma pessoa de confiança e a sua tia Júlia, que sabia da aflição da família de sua irmã que vivia naquela pequena localidade perto do Gerês, logo propôs ajudar daquela forma, tendo convidado a sobrinha para viver com ela. Assim Maria teve que fazer as malas e partir contrariada.

A sua relação com Luís teve um corte brusco. Ambos eram pobres e muito jovens para poderem deslocar-se e matarem saudades e Maria ainda tentou fazer com que seus pais mudassem de ideias mas em vão, pelo que sofreu imenso com esta separação.

Só lhes restava trocar correspondência fazendo juras de amor e promessas que um dia aquele afastamento iria terminar e pediam um ao outro para esperarem que o destino os voltasse a juntar.

(continua....)


terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Na integra


Um Conto Rimado


Parte 1

Gonçalo é um grande sonhador,
que já não se contenta com o que tem,
sempre em busca do verdadeiro amor,
percorre caminhos para se sentir bem.

Casado com Joana há cerca de 15 anos,
construiu um lar e tiveram um filho,
mas neste percurso também houve danos,
pois tanta monotonia tinha de dar sarilho.

O afastamento tornou-se mais evidente,
já era um viver sem grande entusiasmo,
novas vivências estavam em sua mente,
queria a todo o custo sair deste marasmo.

Só seu filho o prendia ao casamento,
era a sua alegria naquele meio sem cor,
mas não podia continuar em sofrimento,
queria ter um futuro muito mais animador.

Começou aos poucos a sair com amigos,
e as discussões em casa aumentaram,
refugiava-se então em outros abrigos,
assim divertia-se e não o massacravam.

Numa dessas escapadelas de casa,
encontrou uma amiga de longa data,
que o entusiasmava e arrastou a asa,
mas perdeu-lhe o rasto, sorte ingrata.

Mal a viu, seu coração bateu forte,
foi de imediato ao seu encontro,
nesse dia sentiu-se com muita sorte,
como seria este novo reencontro?

Laura também se surpreendeu,
não esperava voltar a ver Gonçalo,
tinha-o perdido na altura do liceu,
mas nunca o esqueceu nesse intervalo.

Houve um abraço cheio de sentimento,
nos seus olhares cintilava satisfação,
a saudade sentiu-se nesse momento,
e o reencontro foi cheio de emoção.

Sentaram-se à mesa de um bar,
quiseram saber tudo de suas vidas,
com curiosidade não paravam de falar,
reviveram muitas cenas esquecidas.

Quando Laura soube que era casado,
baixou a cabeça e seu olhar entristeceu,
mas passado tantos anos era esperado,
também ela já foi mas o marido morreu.

Os números de telefone foram anotados,
não queriam se perder novamente,
e um novo encontro foi agendado,
num local calmo e com menos gente.

As horas naquela noite pareciam voar,
Gonçalo não queria exceder o tempo,
em casa teria sermão ao demorar,
e exigidas explicações pelo passatempo.

Naquela noite tiveram de se despedir,
embora a vontade não fosse nenhuma,
mas outra oportunidade estava p’ra vir,
no dia seguinte para almoçar há uma.

Parte 2

Ao chegar a casa teve discussão,
já era de prever dada a hora tardia,
disfarçou inventando uma situação,
que seu carro tivera uma anomalia.

A esposa ficou muito desconfiada,
já não acreditava no seu marido,
o que a deixava mais indignada,
era o seu ar de comprometido.

Chorou baixinho desesperada,
seu casamento não tinha remédio,
a separação parecia esperada,
até quando aguentaria esse tédio?

Sabia que seu filho é que o prendia,
e era nele que tentava se segurar,
andava a ver se um milagre surgia,
mas sem esperança de o voltar amar.

Já não tinha soluções para o agradar,
pois nem ela já sentia essa vontade,
a monotonia acabou por degradar,
o amor inicial e até a sua amizade.

Teria de esperar por melhores dias,
quem sabe as coisas podiam mudar,
já nada lhe trazia grandes alegrias,
mas queria ter esperança e sonhar.

Há meses que já não se tocavam,
dormiam juntos por imposição,
era certo que já não se amavam,
um dia terminaria esta situação.

Não faziam programas aos pares,
tentando não demonstrar a ninguém,
nem ao filho, nem aos seus familiares,
é assim que o casamento ainda se mantém.

Parte 3

No dia seguinte Gonçalo quis se produzir,
queria causar muito boa impressão,
um futuro melhor queria construir,
e Laura estava presente no seu coração.

Foi trabalhar de manhã com a cabeça na lua,
às 13 horas queria estar no local marcado,
para a tarde arranjou quem o substitua,
depois do almoço seria como um dia feriado.

Chegaram praticamente ao mesmo tempo,
ambos pareciam ansiar por aquele almoço,
chegaram antes, não houvesse contratempo,
mais vale chegar cedo e não haver alvoroço.

Laura apareceu deveras fascinante,
Gonçalo ficou ainda mais apaixonado,
juntos faziam um casal brilhante,
a quem deitavam o olho arregalado.

Foram almoçar com animosidade,
e combinaram a seguir ir passear,
havia muita coisa que era novidade,
que queriam saber e desvendar.

Laura notou o interesse de Gonçalo,
mas o ser casado colocava-lhe travão,
gostava dele mas seria um abalo,
se viessem a saber dessa situação.

Gonçalo disse que não era feliz,
um filho não resolve uma união,
podia sempre vê-lo, é sua raiz,
mas o divórcio seria a solução.

Se ela estivesse disposta a arriscar,
era nítido que se entendiam bem,
experimentavam uns tempos namorar,
e mais tarde podiam ir mais além.

À praia decidiram ir passear,
caminharam no passadiço de madeira,
deram as mãos e foram a conversar,
horas a fio e sempre na brincadeira.

Sentaram-se na areia a dada altura,
olharam-se seriamente e com ternura,
suas bocas colaram-se com doçura,
era o primeiro passo daquela loucura.

Laura por momentos deixou-se envolver,
mas sua consciência logo a veio alertar,
há tanta coisa a ponderar antes do prazer,
seria melhor ir com calma para não errar.

Gonçalo foi muito compreensivo,
não forçou e encheu-a mais de carinho,
dado que era seu grande objectivo,
ambos seguirem pelo mesmo caminho.

Teria de resolver primeiro a sua situação,
não queria ser apanhado em contra fé,
conversar amigavelmente e sem agressão,
para que cada um siga a vida pelo seu pé.

Estiveram juntos até antes do jantar,
acharam por bem o encontro terminar,
para que a esposa não viesse a perguntar,
porque tinha chegado tarde sem avisar.

Ficaram muitas promessas no ar,
e Laura incutiu-lhe muita coragem,
despediram-se até data a combinar,
talvez com mais novidades na bagagem.

Parte 4

Gonçalo começou a andar nervoso,
não sabia como enfrentar sua mulher,
toda esta situação o deixava ansioso,
teria de ser forte e conseguir resolver.

O seu filho Tiago começou por alertar,
que seus pais andavam insatisfeitos,
se não se davam o melhor era separar,
do que andar toda a vida a pôr defeitos.

Mas acontecendo nunca seria esquecido,
porque foi sempre desejado e adorado,
para seu pai será sempre muito querido,
mesmo longe irá ser sempre bem amado.

Nunca lhe deixará faltar necessidades,
qualquer coisa vai ser um pai presente,
sempre dentro das suas possibilidades,
só falhará se sofrer algum acidente.

Tiago com 13 anos já compreendia,
embora com uma certa tristeza,
queria ter mais a sua companhia,
mas era melhor, disso tinha a certeza.

Já tinha desconfiado imensas vezes,
as discussões já eram em todo o lado,
e se arrastavam há alguns meses,
que o deixavam deveras incomodado.

Pediu ao filho para sua mãe ajudar,
iria ser uma batalha bastante difícil,
um casamento de 15 anos iria terminar,
quando desse a notícia seria um míssil.

Sua mãe não deveria aceitar inicialmente,
tentaria demove-lo de todas as maneiras,
mas uma solução para ambos era urgente,
não podiam continuar a cometer asneiras.

Decidiu esperar o próximo fim-de-semana,
conversariam com mais calma e com tempo,
se corresse para o torto apoiaria Joana,
neste período inicial seria um tormento.

Parte 5

Laura sabia de tudo o que se passava,
falava muitas vezes com seu amado,
também ela com esta situação andava,
com um nervoso miudinho instalado.

Tinha receio da reacção de Joana,
que pudesse colocar algum entrave,
punha-se no lugar dela, era humana,
e previa sempre tudo muito grave.

Passava as noites meia acordada,
o pensamento cheio de remorsos,
sentia culpa e a consciência pesada,
seria compensador tantos esforços?

Por vezes pensava retroceder,
um casamento podia terminar,
mas amava tanto aquele ser,
que ficar sem ele não ia aguentar.

Decidiu esperar sem interferir,
para que não sentisse tanta culpa,
o destino se encarregaria de agir,
para no futuro não pagar multa.

Parte 6

Finalmente chegou o dia decisivo,
Gonçalo chamou Joana para conversar,
falou calmamente e sem ser agressivo,
para não a assustar e nem enervar.

Estranhou o marido mas já calculava,
sabia que um dia o poderia perder,
para Gonçalo, era uma simples escrava,
e como mulher só o fazia aborrecer.

Começou por falar da monotonia,
já não mantinham uma relação feliz,
não havia entusiasmo, nem euforia,
continuar juntos, seriam uns imbecis.

Não era o fim do mundo por terminar,
eram ainda jovens para refazer a vida,
o primeiro impacto iria magoar,
mas o tempo curaria essa ferida.

Joana ouviu-o mantendo-se calada,
sabia que ia acontecer mas não acreditava,
com esta realidade sentiu uma alfinetada,
e subitamente ficou bastante brava.

Começaram a agredir-se verbalmente,
já não era uma conversa amena,
insultavam-se indecentemente,
pareciam dois touros numa arena.

Joana começou a ter medo de Gonçalo,
mas disse que não haveria separação!
Encrespou-se para ela como um galo,
suas mãos ao pescoço, foi a reacção!

Ela esbracejou tentando se soltar,
à cómoda do quarto ficou encostada,
de costas tentou com as mãos achar,
algo duro para lhe dar uma paulada.

Uma boneca de porcelana foi a arma,
bateu-lhe com força, violentamente,
Gonçalo caiu inanimado sobre a cama,
com a cabeça a sangrar do incidente.

Joana ficou em pânico e muito aflita,
seu filho entrou no quarto assustado,
viu o pai esvair-se em sangue e grita,
- Acudam que meu pai está desmaiado.

Ligaram ao 115 e foi para o hospital,
diagnosticando-lhe uma grave fractura,
Gonçalo encontrava-se mesmo mal,
um coma profundo era realidade pura.

Joana teve de prestar declarações,
e justificou-se com auto-defesa,
mostrou o pescoço com escoriações,
o marido a queria matar de certeza.

Ficou ilibada de qualquer culpa,
mas martirizava-se do mal do marido,
chorava e dizia que não tinha desculpa,
não devia tê-lo agredido e ferido.

Passava os dias no hospital com o filho,
à espera que acordasse ou dum sinal,
sua vida deixou de ter qualquer brilho,
e nunca mais sua relação seria igual.

Parte 7

Laura não sabia de nada deste drama,
nem uma única notícia de seu amado,
estranhava a ausência de quem ama,
encontrava sempre o telemóvel desligado.

Decidiu rondar sua casa a ver se o via,
mas só conseguiu avistar a família,
mais preocupada ficou ao fim do dia,
porque não entrou nesse tempo de vigília.

Sabia onde trabalhava, era Guarda-Fiscal,
no dia seguinte foi pedir uma informação,
foi quando soube que estava no hospital,
deixando-lhe um grande aperto no coração.

Dirigiu-se ao hospital da sua zona,
porque era o único que por lá havia,
com ar sofredor e meia chorona,
deu o nome dele para ver se existia.

Informaram-na que estava lá internado,
que o seu estado era muito complicado,
em coma profundo era o seu estado,
e ao acordar poderia ficar incapacitado.

Quis saber se o poderia visitar,
mas as visitas eram só para a família,
a uma funcionária tentou implorar,
uma escapadela rápida nesse dia.

A senhora viu o seu ar preocupado,
disse-lhe para voltar depois das visitas,
que a fazia passar por outro lado,
como enfermeira que leva as marmitas.
Laura agradeceu imenso a simpatia,
e comoveu-se com tanta gratidão,
quis retribuir com uma certa quantia,
mas foi-lhe logo negada essa doação.

Foi embora era quase hora de almoço,
sua cabeça estava a mil e meia confusa,
esperava que não houvesse alvoroço,
e não viesse a ser tida como intrusa.

Voltou ao hospital depois das sete,
passou por enfermeira de bata branca,
tinha a indicação do quarto num bilhete,
mas sentia-se como uma saltimbanca.

Conseguiu finalmente ver o seu amor,
chorou imenso ao vê-lo inanimado,
estava muito pálido e quase sem cor,
queria tanto que estivesse acordado.

Pegou na sua mão para lhe dar calor,
impressionava-a estar todo entubado,
falava-lhe ao ouvido palavras de amor,
e custava-lhe deixá-lo ali abandonado.

Permaneceu junto dele até poder,
não se cansava de o acariciar,
mas o tempo passava a correr,
teria de ir embora sem ele acordar.

De repente sentiu-o mexer a mão,
quando na sua houve uma pressão,
era um sinal de que ouviu sua oração,
e a deixou com esperança no coração.

Foi logo avisar o médico de serviço,
que satisfeito verificou as melhoras,
disse-lhe que ela quebrou o feitiço,
agora era esperar as próximas horas.

Não podia permanecer mais tempo,
beijou-o apaixonada e foi embora,
esperançosa por este acontecimento,
e animada por esta grande melhora.

Parte 8

Nessa noite Laura mal conseguiu dormir,
Gonçalo não saía do seu pensamento,
um amor assim ninguém podia destruir,
teria de acabar logo com este sofrimento.

Cedo ligou à senhora que a ajudou,
quis saber de alguma novidade,
depressa muito bem disposta ficou,
sabendo que acabou aquela fatalidade.

Pediu novamente para o visitar,
queria muito vê-lo acordado,
só depois é que poderia avaliar,
o que na verdade se tinha passado.

Teve novamente consentimento,
mas não podia deixar ser sempre,
compreendeu sua dor e sofrimento,
permitindo-a de ir ver o doente.

Quando Gonçalo a viu na sua frente,
seus olhos brilharam de emoção,
um abraço entre eles era urgente,
comovidos depois de toda a aflição.

Laura ficou ao corrente do incidente,
sentindo-se meia culpada do sucedido,
e do futuro ficou ainda mais temente,
com receio que Joana mate o marido.

Avisou que ao hospital não podia voltar,
porque as visitas não lhe eram concedidas,
se o seu estado não se viesse a agravar,
logo seriam curadas todas as feridas.

Parte 9

Permaneceu no hospital mais 1 semana,
e só tinha a visita dos seus familiares,
falava bem ao filho mas ignorava Joana,
dirigindo-se a ela em assuntos peculiares.

Quando o filho não estava presente,
fez ver à esposa as suas intenções,
o que já tinha dito era ponto assente,
ela que arranjasse novas soluções.

Joana ouvia-o e só conseguia chorar,
depois do acidente piorou a situação,
teria que ter força e a sua vida mudar,
não havia clima para uma reconciliação.

Com Laura só falava ao telemóvel,
prometendo poder vê-la brevemente,
sentia-se melhor e menos imóvel,
tendo alta só a queria ver na frente.

Avisou os seus pais da sua decisão,
ficaram tristes mas compreenderam,
amavam-no e estenderam-lhe a mão,
e o regresso ao seu lar lhe propuseram.

Rapidamente voltou a casa recuperado,
mas com algumas restrições do hospital,
trabalhar e sair de casa não era adequado,
poderia ainda ter náuseas e sentir-se mal.

Enquanto permanecia meio preso,
o telefone era o objecto de comunicação,
com a esposa continuava o seu desprezo,
para que não tivesse esperanças na relação.

Na semana seguinte deixaria de vez o lar,
na casa dos seus pais iria voltar a residir,
não queria por enquanto de Laura falar,
mas no futuro era com ela que se ia unir.

Tudo a seu tempo se iria encaixar,
sem pressas e sem ferir ninguém,
até lá algum sigilo, mas podia namorar,
e mais tarde no altar poder dizer amém.

Passaram-se alguns meses neste impasse,
os papéis do divórcio em andamento,
parecia estar mais perto o seu novo enlace,
mas queria com Joana ter bom entendimento.

Havia um filho, fruto daquela união,
que gostaria que os pais se entendessem,
já era desgostoso viver com a separação,
pior seria se mãe e pai se indispusessem.

Parte 10

Nesse período de um certo sigilo,
Gonçalo e Laura viam-se às escondidas,
preferiu assim para andar mais tranquilo,
e mais tarde não ter surpresas indevidas.

No início do namoro já assumido,
finalmente o desejo falou mais alto,
entregaram-se a um amor destemido,
e nos braços dele Laura deu o salto.

Sentia-se mais segura para o fazer,
sabia que Gonçalo a amava de verdade,
com ele todos os dias queria amanhecer,
e permanecer para toda a prosperidade.

Chegou o dia de à família a apresentar,
dado aos pais Gonçalo já ter contado,
convidou o filho mas antes quis falar,
e prepará-lo para depois não ser julgado.

Tiago já tinha idade para compreender,
ouviu-o atento e deu-lhe consentimento,
embora com receio de a conhecer,
com medo dum futuro afastamento.

Mas o pai depressa o fez sossegar,
que nunca o abandonaria por nada,
e nenhuma mulher os faria separar,
sendo mesmo a sua namorada.

Disse que Laura iria ser sua amiga,
porque era uma mulher especial,
tinha a certeza que não haveria briga,
e manteriam uma relação sensacional.

Pediu para à sua mãe ainda não contar,
pelo menos até ao divórcio sair,
porque sua vida poderia complicar,
se Joana, traída se pudesse sentir.

Estava tudo preparado para o jantar,
Laura encontrava-se muito nervosa,
havia sempre o medo de não agradar,
mas sentia-se confiante e corajosa.

Os pais de Gonçalo se esmeraram,
queriam que o filho se sentisse satisfeito,
e um jantar com requinte elaboraram,
preparado com gosto para esse efeito.

Laura é uma mulher linda mas modesta,
que transborda simplicidade e simpatia,
seria apenas um jantar e não uma festa,
bom entendimento é o que mais queria.

Foi buscar o filho e deixou-o nos avós,
para depois ir ter com sua amada,
transmitindo-lhe confiança ainda a sós,
levando-a depois menos assustada.

Quando a viu ficou deslumbrado,
tinha-se produzido ainda mais,
estava linda e ele fascinado,
outra mulher assim não teria jamais.

Beijou-a orgulhoso e apaixonado,
seu dias eram cada vez melhores,
a felicidade afinal tinha voltado,
depois daqueles tempos piores.

Estava pronta para a apresentação,
sentia ter um amor verdadeiro,
tinha a certeza naquela relação,
mas Tiago teria de conquistar primeiro.

Iria ser muito fácil com certeza,
porque Laura é uma mulher adorável,
e quando estivessem todos à mesa,
seria um jantar bem agradável.

Parte 11

Finalmente todos se enfrentaram,
foram feitas as devidas apresentações,
juntos à mesa conversaram e jantaram,
com serenidade e sem complicações.

Notava-se que Laura tinha tido sucesso,
pela alegria com que todos se encontravam,
e Gonçalo sentiu um grande progresso,
orgulhoso pelo encontro que efectuaram.
Sentiu-se com coragem para uma surpresa,
que antes não tinha ainda decidido fazer,
mas preparou-se para a fazer com a certeza,
que ela tinha sido aceite por todos com prazer.

Retirou do bolso uma linda caixinha preta,
para sua amada se virou e disse de seguida:
- Laura amo-te muito mas não sou poeta;
- Queres casar comigo minha querida?

Bateram-se palmas em redor daquela mesa,
Laura abriu a caixinha que continha um anel,
sem contar ficou espantada e disse com subtileza:
- É lindo! Ser tua mulher vai ser o meu papel.

Uma garrafa de champanhe foi aberta,
para festejar este pedido de casamento,
e os pais de Gonçalo fizeram uma oferta,
de um ramo de rosas para este momento.

Parte 12

O divórcio saiu passado pouco tempo,
agora já não havia perigo de se saber,
a todos mostravam o seu sentimento,
namoravam abertamente sem se esconder.

Joana veio a saber desta relação,
mas há muito que já desconfiava,
sofreu bastante com esta revelação,
mas era passado, não podia ficar brava.

Tinha também que sobreviver,
era jovem e bonita para ficar só,
resolveu valorizar-se e emagrecer,
conhecer alguém para o forró.

Passado poucos meses Gonçalo casou,
em casa de sua amada foi acolhido,
dado ter enriquecido quando enviuvou,
herdando todos os bens do seu marido.

Laura era empresária duma loja de ouro,
foi desta forma que o ex marido investiu,
era dona e senhora dum grande tesouro,
e com a morte dele, ela prosseguiu.

Por isso sua casa era muito espaçosa,
não foi preciso procurarem casa nova,
bem decorada porque Laura era habilidosa,
um gosto requintado que qualquer um aprova.

Tiago, com o pai passava muito tempo,
embora judicialmente fosse quinzenalmente,
a boa relação com Joana dava consentimento,
e se o filho queria, a mãe não era intransigente.

A felicidade reinava neste novo lar,
só faltava ver aumentada a família,
e ambos decidiram por isso lutar,
ao filho Tiago dar um irmão um dia.

Laura, nas suas regras sentiu um ligeiro atraso,
fez análises em segredo para não dar esperança,
não fosse o resultado negativo por acaso,
e afinal não estar à espera duma criança.

Mas a boa notícia veio rapidamente,
era verdade que estava de esperanças,
quando o marido chegou disse suavemente:
- Querido, senta-te aqui e vê se descansas!

Gonçalo estranhou esta sua atitude,
ficou preocupado e também curioso,
quis logo saber se estava boa de saúde,
ao que ela o descansou em tom amoroso.

Sobre a sua barriga colocou a mão dele,
sorriu graciosamente para o seu marido,
Gonçalo entendeu que momento era aquele,
e as lágrimas escorreram-lhe agradecido.

Parte 13

Ao filho Tiago quis dar a boa nova,
dando-lhe a noticia quando apareceu,
queria saber se não haveria reprova,
por deixar de ser o único filho seu.

Tiago riu-se muito daquela novidade,
porque seriam sim mais dois irmãos,
pois sua mãe também estaria na maternidade,
dali a uns meses haveria dois bebés chorões.

Para Gonçalo foi uma grande surpresa,
porque ainda não sabia que Joana namorava,
ela tinha pedido segredo para sua defesa,
com medo que ele sabendo o filho resgatava.

Estavam ambas grávidas com o mesmo tempo,
prevendo-se que nascessem em Dezembro,
Se fosse a 25 seria um grande acontecimento,
sendo o Menino Jesus esse novo membro.

Passaram meses e tudo corria muito bem,
o filho Tiago era o pombo-correio,
acarinhado por todos neste vaivém,
fazer um convívio juntos era seu anseio.

Então os seus pais resolveu convidar,
cada qual com o seu acompanhante,
para travarem conhecimento num jantar,
e no final brindarem com espumante.

Passado uns dias o jantar aconteceu,
os pais orgulharam-se do seu filho,
com a sua atitude a amizade fortaleceu,
davam-se todos bem e não havia sarilho.

Já existiam mais dois irmãos no Natal,
nasceu a irmã Filipa e um irmão João;
Tiago sentia uma felicidade sem igual,
tinha duas famílias que amava de coração.

E para comemorar melhor esta benção,
resolveram fazer a festa em conjunto,
em casa de Laura fizeram a junção,
de familiares e o Natal foi todo junto.


F i m


Paula Costa