quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

1º Conto - "Sandra e Carlos" (na integra)

Sandra e Carlos

Parte 1


Quando Sandra entrou no gabinete, tive logo a vaga sensação de que aquela cara não me era estranha, mas não disse nada. Depois do habitual cumprimento, dezenas de vezes ouvido durante todos os dias, convidei-a a sentar-se. Com um sorriso perfeitamente natural, aceitou o convite escolhendo a cadeira que estava mais à sua direita, a quarenta e cinco graus do meu raio de acção se estivesse a olhar para a porta. Cruzou as pernas, agora sim de uma forma estudada, deixando que a saia que vestia deixasse a descoberto um bom palmo da perna que se adivinhava tão bem tratada como cuidada. Tudo condizia, o seu rosto, o cabelo, … na minha frente estava uma mulher na casa dos trinta, bonita, atraente, que sabia muito bem o que queria e como o conseguir. Sorriu e contou ao que vinha.
- Dr. Carlos, talvez o meu caso não seja igual a qualquer um que já tenha defendido. Foi uma amiga quem mo indicou e espero que me ajude a resolver o problema.
- Sabe que os casos, mesmo parecendo iguais, têm sempre alguma coisa que os torna diferentes; os contornos nunca são iguais, o que à partida os torna diferentes.
- Sim, mas neste caso, talvez que até os contornos sejam diferentes, acho até que só a finalidade venha a ter alguma coisa de comum com aqueles a que foi chamado a resolver.
- Só depois de ouvir poderei ter opinião – disse-lhe.
- Então, não percamos mais tempo – disse Sandra.
E contou-me a causa da sua visita: vivia num bloco de apartamentos não muito longe do centro da cidade, mas suficientemente afastado do movimento habitual das grandes cidades. O exercício da sua profissão, obrigava-a a chegar a casa a horas pouco normais e, muito embora nunca tendo sido perseguida ou incomodada quando regressava a casa, a verdade é que sentia sempre um certo receio quando se aproximava da porta de entrada do bloco onde residia. Os poucos lugares de estacionamento raramente lhe permitiam deixar o carro à porta de casa, receando sempre caminhar a centena de metros que era obrigada a percorrer, quando saia do carro a caminho do bloco de habitações onde residia, não obstante as horas tardias a que normalmente cumpria esse ritual. Na verdade não era isso que a incomodava, o seu problema nascia quando chegava a casa e pouco depois de fechar a porta atrás de si, o telefone tocava e do outro lado só ouvia sons indecifráveis, imperceptíveis, como se o autor da ligação estivesse a gemer, um gemer um tanto ou quanto diferente, porque não era um gemer de dor, antes um gemer incómodo, como que ameaçador. Não ouvia uma única palavra, apenas esse gemer estranho. Ao princípio não ligou muita importância, mas com a repetição contínua sempre que chegava a casa, começou a ter medo.
- E isso só acontece quando chega a casa? – quis saber.
- Segundos depois de fechar a porta – disse Sandra.
- Sinal de que quem estabelece essas ligações a vê entrar. Tem gravador de chamadas?
- Sim tenho e quando vou ouvir as mensagens do dia, nunca tenho uma que seja com essas características.
- Temos portanto a certeza de que quem faz essas ligações a vê chegar a casa. Outra pergunta – o bloco onde reside é isolado ou há mais?
- Há mais, quase colados – disse-me ela.
- E enquanto caminha a pé costuma ver luzes acesas?
- Sim, algumas estão acesas mas isso não quer dizer que esse meu vizinho – parece ser efectivamente um vizinho – esteja com a luz acesa, antes pelo contrário, deve estar às escuras, não apenas para ver melhor mas também para não despertar atenções.
- E há quanto tempo isso acontece?
- Há um mês, aproximadamente.
- E para além desses telefonemas, não percebeu outro qualquer sinal? Por exemplo, uma carta na caixa do correio, um carro atrás de si quando sai de casa, um contacto no seu local de trabalho?
- Não, durante o dia, tudo corre normalmente.
- Vai desculpar-me a pergunta, mas é inevitável que lha faça – marido, ex-marido, ex-namorado, como está a sua vida sentimental?
- Olhe Doutor, há quase um ano que cortei com esses complementos, se é que entende o que quero dizer. Estou divorciada há alguns anos, já tive um ou outro namorado, mas de momento não tenho ninguém, nem estou a ver qualquer um desses ex a espiar-me só para saber quando chego a casa e fazer então esses telefonemas que me estão a pôr maluca, é o termo.
- E quer então que eu descubra o autor e o processe.
- Nem mais nem menos, a insistência e a regularidade desses telefonemas estão a dar cabo do meu sistema nervoso. Pior, começam a perturbar negativamente o meu rendimento no local de trabalho.
- Vamos então combinar o seguinte, hoje vai fazer como habitualmente e se o telefone tocar quando chegar a casa atende e não diz nada. Deixa o auscultador fora do descanso, vai fazer o que costuma fazer quando chega a casa e passados uns minutos vai ouvir se a ligação ainda está estabelecida ou se ele ou ela desligou. Amanhã telefona-me a dizer o resultado. Aqui tem o meu cartão, onde está também o meu particular. Pode ligar a qualquer hora, pois vivo sozinho.
Ela aceitou a sugestão, levantou-se, compôs a saia e preparou-se para sair. Antes de atravessar a porta, consegui descobrir, vendo-a por trás, que se tratava de uma mulher na plena acepção da palavra e suficientemente atraente para provocar a qualquer homem uma tentativa de aproximação.
No dia seguinte esperei pelo seu telefonema, que chegou cerca das duas da tarde, logo que, no meu entender, terá chegado ao seu local de trabalho.
- Então, que aconteceu? – perguntei-lhe.
- A mesma coisa.
- Chegou a casa a que horas?
- Deviam ser duas da manhã.
- Fez o que lhe pedi no que diz respeito ao auscultador?
- Sim, exactamente.
- E então?
- Não desligou.
- A que horas sai hoje?
- Hoje vou sair um pouco mais cedo, por volta das 20h.
- E tem planos?
- Não, vou jantar e sigo para casa.
- Posso convidá-la para jantar?
- Porquê?
- Porque quero tirar mais umas conclusões e depois de jantar vou consigo até sua casa, deixo-a à porta para sabermos se ele ou ela, vendo-a acompanhada, também telefona.
- Mas se ela – a pessoa, entenda-se – o vir depois ir embora, fica a saber que subo sozinha.
- Bem observado! Resolveremos isso na hora. Aceita o jantar?
- Só se for eu a pagar – disse Sandra.
- Resolveremos isso na hora.
Combinámos a hora do encontro e o restaurante onde iríamos, tendo ficado com a certeza de que, ao contrário do que era habitual com as senhoras, ela não iria chegar muito atrasada.

Parte 2


Rapidamente chegou a hora marcada e tanto Sandra como o Dr. Carlos Costa apareceram no restaurante quase em simultâneo. Quando se avistaram, saíram ambos dos seus carros e foram ao encontro um do outro.
Os seus olhares cruzaram-se e notou-se uma reciprocidade entre eles, pois um sorriso, como que de admiração, surgiu das suas bocas, dado ambos se terem esmerado em se apresentar bem para esse jantar.
Sandra trazia vestido um tailleur preto bem justo ao corpo, a saia bem travada e acima do joelho, com uma pequena racha. Acompanhava com uma camisa branca, bem decotada que lhe realçava o peito. O sapato de salto alto dava-lhe uma elegância tremenda e a tornava numa mulher de sonho aos olhares de qualquer homem.
Carlos também não lhe ficava atrás, com um fato azul-escuro de bom corte, gravata a condizer e camisa azul clara, fazia o par perfeito junto dela.
- Boa noite Dr., vamos então? – disse Sandra esboçando um sorriso.
- Muito boa noite, vamos lá! – e abriu a porta do restaurante dando prioridade à entrada dela, cortesmente.
O restaurante que Carlos tinha escolhido e solicitado a Sandra era muito distinto e conhecido na zona, onde grandes individualidades se deslocavam para seu belo proveito.
Dirigiram-se ao empregado para que lhes fossem destinada uma mesa e dado haver algumas disponíveis, preferiram escolher uma mais reservada para que fosse possível ter uma conversa mais privada.
Depois de observarem o menu preferiram pedir ao empregado que lhes sugerissem o que havia de melhor naquela altura, ao que lhes foi indicado um delicioso arroz de marisco. O vinho para acompanhar seria também do melhor.
Deliciaram-se com o requinte daquele jantar, conversando sobre o assunto que lhes trazia ali e combinaram amiúde o que fazer naquela noite quando se dirigissem para casa dela.
- Então – disse Carlos – acho melhor acompanhar a Sandra até sua casa e subir consigo, senão penso que a história se repetirá, porque se há alguém a espiá-la quando entra, se vê que entra sozinha vai ligar-lhe de novo com os tais gemidos.
- Não tem problema Dr., eu quero é resolver este martírio, já nem consigo dormir direito a pensar neste problema.
- Fica combinado, subimos, esperamos e vemos o que acontece. Porque se entrarmos e não houver ligações é porque alguém está mesmo à espreita quando entra e se nos viu entrar vai ficar intimidado(a).
Seguidamente passaram à sobremesa e foi-lhes sugestionado o doce da casa, que era um dos atractivos do restaurante. Confeccionado com leite condensado e bolacha demolhada em café, faziam contrastar o doce e amargo, servido bem gelado.
- Muito bom, este restaurante é uma delícia, não conhecia, ainda bem que o indicou – disse Sandra.
- É mesmo, venho aqui inúmeras vezes em almoços ou jantares de trabalho, nunca fiquei decepcionado, temos sempre a sugestão do chefe e somos servidos com muita classe.
- Bem, só falta o café, pelos menos para mim, não sei se o Dr. também toma?
- Claro que sim e acompanho com um Logan, não sei se também quer algum digestivo?
- Obrigada, mas para mim é só mesmo o café, já me basta fazer excessos noutras ocasiões.
Terminado o jantar Sandra preparava-se para pagar, como tinha dito anteriormente e que seria com essa condição, mas Carlos disse-lhe para guardar o dinheiro porque tinha conta aberta nesse restaurante, que era sempre frequentado por ele para negócios.
- Oh Dr., assim não vale, eu tinha-me comprometido e afinal sou eu a interessada e que o contratei para que tratasse do meu caso.
- Não se incomode, tudo isto faz parte do negócio – disse dando uma gargalhada.
Saíram do restaurante e prepararam-se para pôr em prática os seus planos. Ele deveria segui-la até casa no seu carro, dado não saber onde ficava e depois de estacionarem no local em que Sandra costumava ficar, seguiriam a pé descontraidamente até sua casa.

Parte 3


E assim foi. Sandra, conduzindo o seu Skoda Octávia arrancou, não sem antes se ter certificado que Carlos também não tinha tido nenhum problema no seu Alpha GT. A viagem não demorou muito, devido ao pouco transito àquela hora e também porque os carros respondiam ambos à pressão exercida nos aceleradores. Só que, já muito perto da casa de Sandra, Carlos notou um abrandamento súbito no carro da sua cliente, ao mesmo tempo que o viu perder um pouco a estabilidade. A seguir, viu o Skoda parar na berma da estrada. Carlos também parou e saiu para saber o que tinha acontecido.
Não foi necessário perguntar nada, notou logo que o pneu traseiro do lado esquerdo estava em baixo. Dirigiu-se à janela do carro de Sandra e disse-lhe:
- Nada de importante. Apenas um furo.
- Senti o carro derrapar um pouco e notei logo que deveria ser um furo – respondeu Sandra.
- Agora temos duas soluções, ou substituímos o pneu ou vamos no meu e amanhã pede à assistência em viagem que venham substituir o pneu.
- Não sei por qual devo optar, como deve calcular o carro é o meu instrumento de trabalho e amanhã de manhã faz-me falta.
- Nada que um táxi não resolva – disse Carlos.
- Também é verdade – respondeu Sandra.
- Vamos no meu?
- Sim, parece ser a melhor solução.
Sandra saiu do seu carro não se esquecendo da sua pasta, trancou-o e foram ambos no Alpha de Carlos.
O furo tinha acontecido não muito longe da casa de Sandra, por isso, alguns minutos depois, ela deu a indicação onde poderia estacionar. Ela saiu primeiro, dizendo ao advogado qual a porta de sua casa, o andar e o lado. Ele sairia passados alguns minutos, tocava à porta e ela abriria para ele subir. Tinham entretanto combinado que não acenderia qualquer luz que fosse visível da rua.
Enquanto esperava que Sandra subisse, Carlos fez um rápido exame ao complexo habitacional: Um bloco com 5 ou 6 portas de entrada, edifícios de 3 andares, rua bem iluminada e àquela hora nenhuma luz vinda de qualquer janela. Quando calculou que Sandra já tivera tempo de entrar em casa, saiu do carro e encaminhou-se para a porta do edifício da sua cliente. Tocou à campainha, a porta abriu-se e subiu.
Sandra esperava-o à porta: apenas a luz do hall acesa, o que não permitiu que Carlos desse um rápido olhar pela casa. Ela convidou-o a entrar.
- Não acenda qualquer lâmpada – pediu Carlos.
- E se eu fechar os estores?
- Prefiro que fiquemos apenas com essa luz do hall que não se vê lá fora.
- Tudo bem, acha que consegue ver o suficiente até chegar ao sofá?
- Sim, vejo, agora é só esperar que o telefone toque.
- Entretanto podemos beber qualquer coisa, para mim um pouco de vinho branco que tenho no frigorífico. E para si?
- Também pode ser, faço-lhe companhia Sandra.
Ela foi buscar os copos e a garrafa e sentou-se no sofá em frente. A pouca luz não permitia ver quase nada, mas Carlos adivinhou que Sandra cruzara as pernas e que saboreava com invulgar prazer o vinho branco quase gelado que ambos tragavam com indesmentível prazer. Esperaram uns 10 minutos e o telefone não tocou.
- Primeira conclusão a tirar, quem lhe liga vê quando chega o seu carro. Hoje não viu o carro, por isso ainda não ligou!
- Outra conclusão, também não viu luz e por isso imagina que ainda não estou em casa – disse Sandra.
- Também é verdade. Nesse caso, a Sandra não vai acender nenhuma lâmpada, vai-se deitar só com esta luz de entrada e amanhã me dirá se o telefone tocou ou não. De acordo?
- Sim, de acordo. Mesmo quando for tomar banho, não acenderei qualquer luz.
- Amanhã, quando chegar ao seu local de trabalho, telefone-me a dizer o que aconteceu ou não aconteceu. E não se esqueça de pedir para irem substituir o pneu do seu carro.
A despedida foi apenas um beijo na face. Mas Carlos não deixou de notar o perfume de Sandra, qualquer coisa de agradável e bastante sugestivo.
E foi com alguns pensamentos muito “nocturnos”, que Carlos conduziu o seu Alpha até sua casa.

Parte 4


Entretanto em casa Sandra telefona para a sua amiga Cristina.
- Olá Cris, o bonitão já colocou os seus belos pezinhos na minha casinha – e deu uma valente gargalhada.
- Tu não existes, és mesmo maluca! ….tem mas é cuidado que ainda te metes em trabalhos, se ele desconfia ainda te move algum processo.
- Não desconfia nada, não pode desconfiar do que não vê, quando o tiver no papo, já não vai haver mais gemidos nem telefonemas, mas depois também não será preciso, com o meu poder de conquista ele não me resistirá. Vai pensar que era obra dum tarado qualquer e que desistiu….no final nem me vai cobrar nada, mas se quiser eu pago-lhe …. com o suor do meu corpo – e ria-se a seu belo prazer.
- Bem amiga, espero mesmo que não faças asneiras, para que te falei que esse advogado era uma brasa. Até amanhã e depois conta-me as novidades…beijos querida.
- Beijos Cris, até amanhã, e bico calado!
Desligou e espreitou pela janela a ver se o via pela rua ainda na sua missão de detective contratado, mas como não avistou nada decidiu acender as luzes da casa e preparar-se para se deitar toda bem disposta por tudo estar a correr tão bem como tinha planeado.
Desde que viu aquele homem, decidiu que um dia seria seu, pois era feito à sua medida – alto, moreno, vestia com primor, bem-falante, profissão a condizer e capaz de lhe proporcionar uma vida estável.
No dia seguinte quando chegou ao seu trabalho, mal se sentou na secretária do seu gabinete a primeira coisa que fez foi ligar para Carlos.
- Bom dia Doutor, fala a Sandra.
- Ora então muito bom dia, já sei que é a Sandra, a sua voz é inconfundível – disse sorrindo – Então conte-me novidades!
- Pois é, não tive nenhuma chamada, parece que é alguém que me vê mesmo chegar de carro ou então que vê luzes quando chego e que me faz isto, mas eu não posso andar sempre às escuras e a deixar o carro em zonas ainda mais longe para que não seja vista. Isto tem de ser resolvido – disse mantendo um ar preocupado e convincente.
- Parece que temos de fazer outros planos, talvez deva entrar juntamente consigo em casa, ir no seu carro para que sejamos vistos e ver se mesmo assim têm coragem de telefonar.
- Parece-me bem, eu quero resolver isto o mais depressa possível antes que entre em depressão, não estou com disposição de meter policia na área … quando é que o Doutor tem disponibilidade? Por mim é quando quiser.
- Sandra, pode ser hoje? – disse ansioso.
- Claro que sim, só não quero alterar-lhe a sua vida privada.
- Não altera nada, será um prazer tratar-lhe deste assunto e ao mesmo tempo ter uma excelente companhia como é a sua.
- Então convido-o para jantar em minha casa em troca do requintado jantar que o Dr. me ofereceu. Aceita?
- Aceito só com uma condição.
- Então diga qual, se estiver ao meu alcance.
- Vamos tratar deste assunto como se fossemos amigos e portanto seria de bom-tom que deixasse-mos as formalidades de lado, que tal tratar-me só por Carlos?
- Óptimo, eu já estava a ficar aflita … então eu vou buscar o Carlos a que horas, para que sejamos vistos no meu carro?
- A partir das 19h mais ou menos estarei livre, pode vir buscar-me aqui ao meu escritório daí em diante.
- Então eu prepararei tudo em minha casa para o jantar e quando aí chegar dou-lhe um toque para o seu telemóvel para o avisar que estarei na rua à sua espera, está bem assim?
- Certíssimo! Até logo Sandra.
Desligaram e Sandra tratou de acelerar no seu trabalho para que chegasse ao fim do dia pronta para sair a horas. Era secretária de uma empresa ligada à construção civil e lidava com inúmeros engenheiros que lhe passavam todo o serviço administrativo.
Ultimamente andava sem paciência para aquele serviço e decidida a fazer mudanças, porque até desses engenheiros nenhum lhe interessava minimamente, eram todos direccionados para o trabalho e pouco amigáveis extra trabalho. Essa não era a vida que queria para si e então há que tratar do seu futuro.
Para isso teve que investir melhor no seu guarda-roupa, tinha que impressionar. Também teria de ser sempre simpática e conseguir cativar as suas presas. Então nada melhor que um advogado de renome e com boa pinta.
Para conseguir suportar todas estas despesas, do seu melhoramento de visual, teve de se sujeitar a um trabalho extra que era feito à noite numa boite. Dançava para os clientes e fazia striptease, duas a três vezes por semana, por isso, nessas alturas, chegava a casa depois das 2h da manhã.
Chegou as 18h e Sandra saiu apressadamente dando a desculpa que nesse dia tinha uma consulta médica e não poderia sair mais tarde, como acontecia quase sempre, dado que o trabalho era imenso.
Voou para casa para preparar o jantar, arranjar-se irresistivelmente e depois poder ir buscar Carlos.
Pensou que tinha antes que ligar à sua amiga Cristina e pô-la ao corrente dos acontecimentos. Será que lhe devia pedir para fazer uma ligação lá para casa na hora que Carlos já lá estivesse e simular uns gemidos? Ou devia deixar correr a situação como se eventualmente fossem vistos pelo suspeito e ficasse intimidado e não ligava?

Parte 5


Ao colocar essa hipótese a Cristina, ela declinou logo porque não queria meter-se em confusões e então ficou só com as informações de Sandra sobre o que iria acontecer e sempre com a ligeira impressão que ela se estava a exceder só para subir na vida. Cristina deu-lhe conselhos para desistir mas foi em vão, Sandra estava peremptória em continuar com essa novela.
Para impressionar Sandra encomendou o jantar num bom restaurante e com a ideia de dizer a Carlos que foi ela que o cozinhou. A ementa era um excelente bacalhau assado. Antes que saisse, preparou tudo para que parecesse que foi cozinhado em casa. Colocou um bom vinho branco no frigorífico e mantinha também de reserva um bom maduro tinto, caso fosse esse o gosto do seu companheiro. A sobremesa seria tarte gelada de bolacha.
Estava a chegar a hora e antes de sair tinha de estar irresistível, preparando uma noite em cheio. Tomou um bom banho com sais, que lhe deixou a pele cheirosa e relaxada. Penteou os seus longos cabelos castanhos, esticando-os com o secador, dando-lhe um brilho extra. Maquilhou-se com primazia, realçando os seus olhos verdes e os seus lábios bem delineados com batom encarnado. Como o jantar era em sua casa, achou que não devia vestir uma roupa muito sofisticada mas ao mesmo tempo devia estar linda para o seduzir. Então optou por uma calça preta e uma blusa vermelha bem justa ao corpo e com um decote insinuante. O sapato, para combinar, era da cor da blusa.
À hora marcada, o toque foi dado para o telemóvel de Carlos. Ele saiu do seu escritório logo de seguida e Sandra surpreendeu-se, pois também ele estava arrasador. Os seus olhares cruzaram-se e ambos sorriram com satisfação e um certo desejo. Cumprimentaram-se e não deixaram de se elogiar mutuamente, partindo rumo à casa de Sandra.

Parte 6


Entraram e Sandra colocou Carlos à vontade e ele não se fez rogado. Despiu o seu casaco, ficou só em mangas de camisa e disse à sua anfitriã que para estar melhor também iria tirar a gravata. Ela sorriu e disse-lhe que fazia muito bem, não era de cerimónias e em sua casa só estava ela. Serviu-lhe um digestivo antes do jantar, um Martini com limão, e deixou-o na sala para ir buscar o jantar à cozinha.
- Que belo aspecto tem este bacalhau e cheira muito bem! – disse Carlos.
- Espero que goste, estive a cozinhá-lo antes de o ir buscar.
- Parece que adivinhou Sandra, é um dos meus pratos favoritos.
- Fico muito contente, estava meia receosa se seria do seu agrado e não me lembrei de lhe perguntar antes o que mais gostava de comer.
E jantaram muito bem dispostos, conversando sobre o assunto que lhes trazia ali, se haveria telefonemas ou não nessa noite e que planos se seguiriam. Para Sandra nada disso lhe interessava, dava-lhe conversa mas estava era predisposta a poder conquistá-lo e foi para isso que se deu a esse trabalho todo.
Terminado o jantar, passaram para o sofá e Sandra serviu os cafés e whisky, pois já tinha notado na última vez que jantaram, que era o que Carlos bebia de seguida.
- Parece que nos viram entrar Sandra, afinal ninguém telefona.
- Tem razão, não vai ser assim que desvendamos o mistério, quem será o anormal que me faz isto, que irritante!
- Calma, um dia isso resolvesse, confie em mim! – e olhou-a como que a estudá-la.
Ela sentiu-se estremecer, pressentindo uma inquietação quando aquele olhar lhe pesou na consciência. Será que Carlos poderia descobrir as suas intenções? Mas abstraiu-se disso e continuou a sua conquista.
Falaram sobre as suas vidas, enquanto esperavam o que não iria acontecer – o tal telefonema. Acompanhavam com mais bebida e cada vez estavam mais soltos. Sandra foi colocar música no seu leitor de CDs e mais descontraída pediu a Carlos para dançar com ela. Ele acedeu pedindo-lhe que o ensinasse dado que não era muito bom dançarino. Ela o agarrou e quando se sentiram colados o clima aqueceu – ouviam a sua respiração cada vez mais ofegante e silenciosos sentiam a música e o calor dos corpos. Os seus rostos já roçavam um no outro e suas mãos já não estavam quietas, passarinhando como leves massagens sensuais. E o que já era previsível aconteceu, Sandra deslizou pelo rosto de Carlos e o beijou sendo correspondida calorosamente.
As pretensões de Sandra fizeram efeito e os seus planos correram consoante o que previu e fizeram amor toda a noite, esquecendo todo o esquema que ali trazia Carlos inicialmente. Extasiados, já de madrugada, conseguiram finalmente dormir nos braços um do outro.

Parte 7


Quando Carlos despertou e olhou o relógio – eram 8,30h – levantou-se de repente assustado porque estava bastante atrasado para o escritório, pois tinha marcado com um cliente uma reunião para as 9h. Acordou Sandra e disse-lhe que tinha de se arranjar à pressa para sair e nem tempo havia para tomar o pequeno-almoço.
- Desculpa querida, tem mesmo de ser assim, mas prometo que terei novidades brevemente do teu caso e iremos festejar depois sem mais preocupações – disse-lhe num tom convincente e ao mesmo tempo irónico olhando-a fixamente dos olhos.
- Não tem mal Carlos, eu também estou atrasadíssima, depois telefono do trabalho! –sentindo novamente aquela impressão e peso na consciência ao ver-se assim observada.
Carlos vestiu-se acelerado para sair e deu-lhe um beijo nos lábios despedindo-se, o que a deixou menos preocupada, dando-lhe mais alento para continuar aquela farsa. Mais uns minutos saiu Sandra também a correr, pois o seu horário era de pegar às 9h e já eram quase 9,30h quando conseguiu chegar. Teve de inventar uma desculpa de que apanhou um acidente no caminho e embarrilou o trânsito. Não estava muito preocupada, pois aquele trabalho seria de pouca dura, bastava ter Carlos na mão para o deixar logo de seguida e viver à custa do seu amado.
No final da tarde, como combinado, Sandra liga a Carlos cheia de ternura na voz depois daquela noite fantástica. Ele também corresponde aos seus intentos deixando-a toda feliz.
- Tenho algumas novidades! – disse Carlos depois daquele inicio de conversa ternurenta.
Sandra sentiu um baque, não supunha que novidades seriam e perguntou disfarçando que estava bastante curiosa e interessada.
- Ai sim? Que novidades são essas?
- Logo te direi pessoalmente Sandra!
- Hoje depois do meu trabalho não poderei estar contigo porque tenho um jantar de aniversário da minha amiga Cristina – ocorreu-lhe inventar, dado que nessa noite era dia de ir à boite fazer o seu show de striptease.
- Pena querida, mas só te vou dar as novidades quando estiver contigo, vou deixar-te curiosa até lá! – mais uma vez usou um tom de voz meio sarcástico e deu um ligeiro sorrisinho.
- Oh Carlos, isso não se faz, mas tudo bem eu aguento – sorriu mas a sua alma estava amedrontada, não sabia o que seria que Carlos descobriu e lhe ia dizer.
Combinaram então encontrar-se no dia seguinte para almoçar juntos e para Sandra ficar a par de tudo o que haveria para dizer sobre o seu caso.
Mal desligou, Sandra liga para a amiga Cristina a contar-lhe tudo o que se passou e todos os receios que também tinha, dado Carlos dizer-lhe que havia novidades do seu caso. Cristina aconselhou-a mais uma vez a ser prudente e a desistir de tudo, pois caso se descobrisse, ela poderia meter-se em maus lençóis. Um advogado é bastante astuto e sabe mexer-se para encontrar seja o que for. Estas palavras deixaram Sandra ainda mais intranquila, mas já era tarde para voltar atrás depois daquele envolvimento que conseguiu obter na noite passada, e disse à sua amiga que iria continuar, tinha esperança que tudo desse certo.

Parte 8


Depois do expediente normal de trabalho Sandra não conseguiu sair a horas, porque um dos engenheiros lhe pediu que dactilografasse uma carta com urgência. Fez o serviço contrafeita, com má cara e quando a foi entregar, para fazer as correcções, reparou que a carta estava praticamente toda alterada. Como já estava atrasadíssima para sair, dado à noite ter de estar a horas no seu trabalho da boite, tinha ainda de ir jantar e trocar de roupa a casa para de seguida se deslocar para o local que ficava a cerca de 50 km de distância, então não esteve com meias medidas, como já andava farta daquele trabalho, respondeu de rajada ao engenheiro:
- Vai desculpar-me Sr. Eng.º Paulo, mas não poderei fazer as correcções porque estou cheia de pressa, não posso ficar mais tempo e vou embora!
- Sandra, tem de fazer isto, é muito importante ficar pronto hoje! – disse o engenheiro num tom ameaçador e arrogante.
- Impossível continuar aqui mais tempo, vai desculpar-me mas já passa muito da minha hora de saída! – ripostou Sandra convicta e decidida.
- Sabe que está a pôr em jogo o seu emprego? Há muito tempo que a Sandra não anda a ter o mesmo rendimento de antes, que se passa? Assim não pode continuar aqui a trabalhar!
Sandra ficou fora de si, não aguentou aquela pressão depois de já andar farta de aturar os seus superiores, sempre arrogantes e antipáticos respondeu:
- É isso mesmo, não continuarei mais aqui, façam as minhas contas, quero despedir-me! – e saiu porta fora sem dar mais ouvidos ao engenheiro que não parava de regatear com ela.
Correu para casa muito mais aliviada, pois há muito tempo que sonhava fazer aquilo e agora com um homem rico ao seu alcance, teve a coragem que lhe faltava antes. Ficaria para já com o partime na boite sem que Carlos soubesse e no futuro se veria o que iria acontecer, porque a sua intenção era não ter que trabalhar mais e viver à custa de alguém que lhe desse uma vida estável.
Fez um jantar simples para demorar o menos tempo possível e preparou-se adequadamente para enfrentar mais uma noite longa. Vestia uma mini-saia de ganga, que lhe deixava à mostra as suas belas pernas morenas e longas, combinando com uma blusa branca justa e com um decote bem profundo, ficando o peito bem formado um pouco à vista. Calçava uma sandalinha de salto bem alto que a fazia ainda mais esguia. Usou uma maquilhagem bastante provocante, lábios bem vermelhos, olhos delineados a azul e bem pintados. Enfeitou-se ainda de uns lindos brincos, um colar e pulseiras. Estava pronta para enfrentar mais uma noite de glória e saiu de casa super confiante na sua pessoa.

Parte 9


Quando chegou, dirigiu-se ao camarim e ainda deu dois dedos de conversa com as suas amigas de trabalho antes de começar o show. É uma das tarefas, até ser a sua vez de actuar, de conviver com certos fregueses sentando-se nas suas mesas para conseguir que façam mais despesa à casa e de os deixar mais animados.
A boite estava cheia, era uma sexta-feira e normalmente era habitual haver mais clientes nesse dia.
Ao circular por algumas das mesas Sandra reparou num grupo de três amigos bastante animados e achou um pouco estranho porque todos usavam uma pequena mascarilha, deixando-a intrigada. Concluiu que deveriam ser pessoas que não queriam ser reconhecidas naquele antro de prazer, talvez devido a serem casados ou conhecidos da sociedade. Abstraiu-se continuando a sua tarefa e porque se aproximava a sua vez de actuar, foi vestir-se adequadamente para fazer o seu striptease.
Entrou no palco vestida com uma super mini-saia prateada e um top a condizer preenchidos de lantejoulas. Calçava umas sandálias muito altas revestidas ao mesmo tecido. Começou a dançar ao som da música e agarrou-se ao varão fazendo manobras sensuais que deixava os homens loucos de prazer. Lentamente começou a despir as poucas roupas que transportava, começando pela saia, deixando à mostra uma reduzidíssima tanga de cor vermelha que trazia por baixo, seguindo-se o top, antevendo-se um peito bem perfeito levemente tapado por um mini-soutian. Começaram a ouvir-se vozes em uníssono vindas da plateia:
- Tira! Despe! Tira! Despe! Tira!
Mais umas piruetas, para os pôr ainda mais loucos, e lá retirou o soutian com uma sensualidade incrível, sempre com um sorriso malandro na boca a provocá-los. Finalizou como se esperava, mostrando o seu corpo escultural despido de qualquer veste e provocando olhares de admiração por tanta beleza.
Saiu do palco bastante ovacionada, o que a deixou super feliz. Quando se dirigia ao seu camarim, foi abordada pelo dono da boite que lhe disse que tinha um cliente que desejava um strip em privado e como era umas das tarefas quando lhe era solicitado, teria de o fazer. Preparou-se novamente para este extra e dirigiu-se à sala onde são efectuados estes privados, deparando-se com um dos senhores que trazia mascarilha, ficando bastante apreensiva.

Parte 10

Ele já estava sentado à sua espera. Sandra avaliou aquela pessoa de alto a baixo e gostou da sua aparência. Tinha uma alta estatura – lembrou-se do seu Carlos – era idêntico. O cabelo castanho, empestado de gel, todo penteado para trás, pele morena. Os olhos também eram castanhos, pois conseguia-se ver mesmo por detrás daquela pequena máscara. Usava um bigodinho muito fininho que lhe dava um ar de D. Juan. Vestia-se com um gosto apurado. Começou a agradar-lhe ter que fazer este “Table Dance” e então disse cheia de simpatia:
- Boa noite, posso começar?
Ele só acenou com a cabeça a dizer que sim e sorriu.
Sandra fez o que lhe competia com muita destreza e um certo prazer, tentando provocá-lo ao máximo e sentia que estava a conseguir fazê-lo bem, dado que o olhar dele brilhava de entusiasmo e as suas mãos pareciam agitar-se a querer tocá-la, coisa que não era permitida. Mas Sandra é que, de vez enquanto, lhe passava as mãos pelo corpo deixando-o ainda mais excitado. Ao mesmo tempo ele sorria matreiro e lambia os lábios, provocando-a também. A uma dada altura, no meio da sua dança, ele retira uma nota do bolso e prende-lhe no fio que segurava a tanguinha. Como a ambição de Sandra era muito forte, esforçou-se ainda mais para conseguir outras iguais, demorando mais tempo a despir-se das suas pequenas vestes. E obteve mais algumas até ao final, quando se encontrava totalmente despida, acabando sentada no colo dele, ousando cravar-lhe um beijo nos lábios cheia de sensualidade, ao que ele correspondeu. Levantou-se e agradeceu:
- Muito obrigada, espero que tenha gostado! – disse Sandra.
Sem falar nada ainda, ele retira do bolso um envelope e entrega-lhe. Ela abre e começa a ver o conteúdo – pensando inicialmente que se tratava de mais algum montante – quando repara que se tratava de uma factura no valor de 750€ do seu advogado Carlos Costa, ficando estupefacta. Num gesto rápido retira-lhe a máscara e vê que tem na sua frente o próprio Carlos, que retira de seguida aquele bigodinho que estava ali só para disfarçar.
- Mas que é isto? – diz Sandra surpresa.
- Bem minha amiga, como podes observar, isso é o que vais ter que me pagar pelos serviços que me encomendaste. Em anexo tens o extracto da tua conta de telefone, mencionando os números para quem ligaste e os números que ligavam para ti. Parece que havia um fantasma que ligava a umas certas horas, que nem registado ficava – disse Carlos ironicamente.
- Não me podes fazer isto! – disse assustada.
- Não me contrataste para te fazer um serviço? Quando entraste pela primeira vez no meu escritório, tive logo a certeza que te conhecia de algum lado. Logicamente mais tarde recordei-me de onde, dado já ter frequentado esta casa antes minha linda. Disse-te ontem que te ia dar novidades, fiz o meu serviço e exijo ser pago por ele. Tens tudo por escrito e podes ver as voltas que tive de dar para desvendar o teu mistério. Com o trabalho não se brinca Sandra e tens 1 mês para me pagar, senão será ainda pior para ti! Tem uma boa noite e não me apareças mais na frente, manda o cheque pelo correio se faz favor! – arrancou-lhe as notas da mão e saiu porta fora.
E foi assim que uma noite que parecia de glória virou um pesadelo. A sua ambição deixou-a tão cega que não olhou a meios para subir na vida e teve a lição que merecia.

Fim


Paula Costa

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

2º Conto - "Encontro Ocasional" (na integra)

Parte 1

Tiago, mal acabou o expediente naquele dia cansativo, eram já cerca das 19h de sexta-feira, e sentindo-se com o pé fora da porta, desligou de imediato o telemóvel e dirigiu-se para o seu automóvel arrancando a toda a velocidade. Começou a sentir-se cada vez mais aliviado à medida que se afastava. Entrou na Auto-Estrada velozmente, como que fugindo do stress da cidade, para se ir refugiar numa pequena Vila de que tinha ouvido falar muito bem e que imaginava que lhe daria uma semana de férias descansada, longe das confusões do trabalho da sua Empresa.
Faltariam cerca de 20 km para o seu destino, quando de repente repara num BMW preto parado com o capôt aberto e a deitar muito fumo na berma da estrada. Mas o que mais lhe saltou à vista foi a dona do alto carrão. Não poderia deixar de tentar ajudar aquela deusa, além de o ter atraído bastante fisicamente, nunca foi de deixar de prestar ajuda quando era necessário e estacionou logo à frente, dirigindo-se cortesmente à senhora que parecia aflita perante tal avaria na sua viatura.
- Boa tarde, posso ajudar alguma coisa ou já contactou alguém e encontra-se à espera de algum mecânico? – disse Tiago.
- Ainda bem que parou, por acaso aconteceu-me isto agora mesmo, não sei o que hei-de fazer – disse em tom preocupado.
- Bem, deixe-me dar uma espreitadela no motor e ver se consigo remediar agora – e começou a pesquisar porque seria que deitava tanto fumo, dizendo logo de seguida, quando se apercebeu do motivo da avaria – Tenho muita pena mas o seu carro não vai conseguir sair daqui sem a ajuda dum mecânico, está sem óleo e já aqueceu demais.
- E agora? Aqui nesta zona é complicado arranjar um mecânico e ainda por cima fiquei sem bateria no meu telemóvel para poder ligar a alguém.
- Não fique aflita, tudo se arranja e se quiser boleia para alguma povoação mais próxima posso muito bem ajudá-la e também lhe posso dispensar o meu telemóvel para que possa contactar alguém, temos de ser uns para os outros – disse Tiago demonstrando a sua simpatia e generosidade.
- O senhor caiu mesmo do céu, se me pudesse fazer esse favor … eu ia a caminho da Vila que fica aqui a cerca de 20 km e acontece-me isto, que azar.
- Coincidência, eu vou mesmo a caminho dessa Vila, fiz a reserva numa pensão por uma semana, pois falaram-me maravilhas desse local. E já agora, dado que aceita a minha companhia neste pequeno percurso, não me trate por senhor, sou o Tiago – e estendeu-lhe a mão – muito prazer, e a senhora é?
- Bem, falemos então nos mesmos termos, a senhora está no céu – e sorriu simpaticamente – pode tratar-me por Madalena, o prazer é todo meu.
E partiram ambos no Mercedes de Tiago até àquela pequena Vila, destino que ambos tinham optado e que lhes proporcionou aquele encontro ocasional.

Parte 2

Chegaram rapidamente à Vila e Madalena deu indicações a Tiago onde ficava a sua casa para que a deixasse lá. Passava das 21h, já era noite e ainda para mais numa sexta-feira, não seria possível àquela hora encontrar um mecânico que lhe fosse resolver o problema do seu carro e como teve boleia até casa não se preocupou mais em pedir a Assistência em Viagem, decidindo deixar essa tarefa para o dia seguinte de manhã. Tiago ainda lhe ofereceu o telemóvel para que ligasse a quem quisesse mas não foi necessário dado que tinha chegado a casa e o poderia fazer dali. Madalena sentiu-se na obrigação de retribuir aquele gesto e toda a simpatia que teve para com ela e convidou Tiago a jantar em sua casa, pois ele tinha perdido muito tempo e ainda teria de ir à procura de um restaurante. Tiago não resistiu e não recusou, agradecendo a amabilidade, embora meio constrangido porque não tinha nenhuma intimidade com Madalena para entrar em sua casa e sentir-se à vontade com tão linda mulher.
Mal se aproximaram da casa, Madalena indicou um portão enorme. Accionou o comando para que se abrisse e entrassem. De fora não se conseguia ver a casa e quando começaram a percorrer o pequeno caminho do portão até à propriedade é que Tiago descobriu que se tratava duma grande quinta cheia de arvoredo e muito bem cuidada. Ficou boquiaberto com aquela surpresa, a sua mais recente “amiga” era dona duma bela mansão e notava-se que era cheia de posses.
Madalena vendo o ar meio constrangido de Tiago, reparou que provavelmente ele teria receio de encontrar mais alguém dentro daquela casa e descansou-o dizendo:
- Não fique aflito porque além dos criados, não está cá mais ninguém, fique à vontade e sinta-se em sua casa.
Tiago disfarçou o seu nervosismo e respondeu descontraidamente:
- Obrigada Madalena, não precisava era dar trabalho e depressa encontrava um local onde jantar, até já tinha indicações dum belo restaurante que me informou um amigo. Tem aqui uma bela casa, surpreendeu-me mesmo.
- É linda sim e não dá trabalho nenhum, já me esperavam para jantar e sobra sempre imensa comida. Será um enorme prazer poder agradecer-lhe o que fez por mim e ainda por cima pode oferecer-me a sua companhia dado que iria jantar sozinha, coisa que eu detesto.
- Desculpe a pergunta, mas a Madalena não é casada? – Saiu-lhe de rajada sem pensar mas a curiosidade foi maior.
- Sou sim mas meu marido é um grande empresário e praticamente passa os dias fora do país, pouca companhia me faz e por isso fiquei super feliz, de ao menos hoje, ter alguém que me acompanhe no jantar, simpatizei imenso consigo e depois do trabalho que lhe dei acho que merece – e acompanhou com um sorriso que o deixou embevecido.
Estacionou o seu Mercedes na garagem que lhe indicou Madalena e entraram na mansão.
Foram recebidos pelo mordomo que se apoderou logo das malas da sua patroa, como era de sua tarefa, e lhe deu as boas vindas. Madalena encaminhou o seu convidado, mostrando-lhe alguns aposentos da casa até chegarem à sala de jantar, que já estava preparada para a receber, e deu ordens à sua empregada Camila para colocar mais um prato na mesa, que tinha um convidado naquela noite.
Se já estava surpreendido quando se aproximou da propriedade, agora que entrou naquele palacete, Tiago estava pasmado, era tudo dum apuradíssimo gosto, as divisões enormes e decoradas a preceito, peças valiosíssimas, nunca tinha entrado numa casa assim.
E lá se sentaram à mesa apreciando o requinte daquele jantar inesperado a dois.

Parte 3

Conversaram animadamente e deram-se a conhecer melhor, ficando o clima inicial, que era um pouco tenso, muito mais leve e descontraído. Tiago também foi interrogado sobre a sua situação actual, ao que respondeu que era divorciado há 2 anos e tinha um filho chamado Ricardo com 6 aninhos. Foi uma relação difícil e a sua ex-esposa era uma pessoa desequilibrada que não lhe facilitou o divórcio e teve de partir para o litigioso, conseguindo-o passado um longo prazo mas nos tribunais, com muitos custos e aborrecimentos.
Por sua vez Madalena contou que o seu marido teve um grave acidente há uns 2 anos atrás e o deixou em muito mau estado. Ficou muitos meses internado e quando saiu teve de andar de cadeira de rodas. Ainda hoje faz fisioterapia para recuperar e já consegue andar pelo seu pé, embora com ligeiras dificuldades. Mesmo assim, não implicava que deixasse de lado os negócios e abandonasse por longos períodos de tempo.
Perante tal desabafo, Tiago não resistiu em perguntar:
- A Madalena é uma mulher tão bonita, como aguenta tal situação? Não tem certas necessidades …? – calou-se repentinamente, achou que estava a ir longe demais, mas completou – desculpe a pergunta indiscreta, não tem que responder, mas esta minha curiosidade leva tudo à frente e quando dou por mim já saiu – e corou um pouco.
- Não tenho problema nenhum em lhe responder, sou uma mulher muito aberta no que diz respeito a isso e não tenho vergonha nenhuma. Lógico que tenho as minhas necessidades e o meu marido sabe disso, ainda para mais porque ele ficou impotente depois do acidente, tem de ser por outras vias, entende…? Ele só me pediu que não soubesse de nada, mas claro que desconfia que tenho os meus extras, ninguém é de ferro – e lançou um olhar atrevido a Tiago que percebeu a investida.
Tiago sentiu-se observado de alto abaixo. Tinha boa figura, disso já sabia, pois foi sempre muito assediado pelas mulheres. A sua elevada estatura de 1,90m e fisicamente cuidado, de porte atlético e seu rosto de rara beleza, formavam um conjunto que não ficavam indiferente a ninguém. Os seus olhos eram de um azul mar, cabelo aloirado bem curto atrás e mais comprido na frente, atraíam qualquer mulher que por ele passasse.
Madalena não lhe ficava atrás, era muito elegante e de pele morena, tinha 1,78m e um cabelo preto muito liso e longo com uma franjinha na frente. Os seus olhos, também azuis, davam ainda mais vida àquele rosto bonito. Os lábios eram bem delineados e carnudos e quando falava ou sorria mostrava uns dentes muito brancos e muito certinhos que hipnotizava quem com ela lidasse. Vestia com muito gosto e tudo lhe assentava bem, mesmo quando optava pela linha clássica ou pela linha desportiva. Maquilhava-se muito pouco e quando o fazia era sempre muito suave, só em situações mais requintadas é que se prestava a pintar-se com mais cuidado e recorria a salões de beleza apropriados.
Terminado o jantar, deslocaram-se para outra sala onde tomaram café e acompanharam com whisky - até nisto ambos combinavam.
Tiago teve de pôr fim naquele agradável jantar, pois ainda não tinha passado na pensão que tinha reservado e já estava a ficar tarde.
- Madalena, adorei jantar consigo, mas já passa das 23h e ainda tenho de dar entrada na pensão. Se amanhã quiser que a acompanhe para algo que tenha a ver com o seu carro, estou à sua disposição, deixo-lhe aqui o meu cartão e contacte-me que será sempre um prazer poder ajudá-la. Vou estar por cá uma semana e também terei todo o prazer de a convidar para almoçar ou jantar como fez comigo, pois sinto-me em dívida – ocorreu-lhe dizer para voltar a ter outra oportunidade de estar com ela.
- Certíssimo, olhe que vou mesmo ligar-lhe, não dispensarei a companhia duma pessoa tão agradável e simpática como o Tiago – sorriu-lhe e foi directa à sua carteira de onde também retirou um cartão com os seus dados e lhe entregou – então muito boa noite, foi uma noite fantástica, ainda bem que o meu carrito avariou – e ambos soltaram uma gargalhada, estenderam a mão e se despediram super divertidos.

Parte 4

O mordomo esperava à porta para o levar à garagem, quando Madalena, ainda na ombreira da porta se atreveu a propor:
- Tiago, pensando melhor, porque não passa aqui a noite e amanhã ajuda-me com o mecânico, existe vários quartos de hóspedes sempre prontos. Faz-me essa vontade?
Tiago hesitou, mil imagens lhe passaram pela cabeça, cada qual mais agradável que a outra. Desejoso por aceitar ainda respondeu reticente:
- Ora, não quero incomodar e sempre posso voltar amanhã.
- Insisto! – disse Madalena.
- Está bem aceito! - subindo novamente a escadaria de acesso à entrada principal do casarão.
- Gervásio, o senhor já não vai sair, pede à Camila que prepare o quarto de hóspedes do 1ºandar junto ao meu!
Madalena quando teve Tiago ao seu alcance deu-lhe a mão e conduziu-o novamente à sala de estar.
Sentou o seu convidado num amplo sofá junto à lareira, agora apagada, dirigiu-se a um móvel junto a uma janela, colocou um CD de música clássica e voltou, sem antes pelo caminho ter tocado uma sineta. Sentou-se junto de Tiago e perguntou se era servido de um whisky ou um conhaque.
- Muito obrigado! - disse Tiago - aceito um conhaque.
- Gervásio, por favor um conhaque para o meu amigo e para mim um xerez, e vais ligar para a pensão…! – e virando-se para o seu amigo – Tiago, qual é a pensão em que se vai hospedar?
- É a pensão Vilar do Paraíso.
Voltando-se novamente para o mordomo continuou – liga para a pensão Vilar do Paraíso e avisa que o senhor Tiago só dará entrada amanhã.
O relógio avançava rapidamente, já eram 23.45h, estavam ambos cansados da viagem, no entanto a conversa estendeu-se noite dentro. Preocupada por ser tão tarde, chamou o mordomo e perguntou se o quarto do Sr. Tiago já estava preparado, ao que Gervásio respondeu afirmativamente. Então ordenou que ele e Camila se fossem recolher, que ela mesmo acompanharia o Sr. Tiago ao quarto.
- Muito boa noite senhora e senhor – disse cortesmente o criado.
- Boa noite Gervásio – responderam ambos.
- Tiago, continuando a nossa conversa, dizia que vinha descansar estes dias, tem algum itinerário programado?
- Não, eu gosto de descobrir o desconhecido, uso um local como base e depois desloco-me na região procurando o que de mais interessante tiver esse local para oferecer, como bons locais para comer, monumentos, exposições, bibliotecas, etc., e assim passo o tempo.
- Estou tentada a oferecer-me como sua guia, pois eu conheço bem estas paragens ao redor, aceita?
- Terei todo o gosto, assim podemos aproveitar melhor o tempo, tirando proveito destes lugares, que eu acredito irão ficar ainda mais lindos na sua companhia, só tenho a impressão que não vou dar tanta atenção ao que iremos visitar pois a sua presença vai me distrair nesse sentido.
- Ora, vamos aproveitar e bem, acredite.
- Vamos subir? – disse Madalena.
- Porque não, já se faz tarde.
Subiram ao 1º andar, cruzaram vários corredores e Madalena indica-lhe o seu quarto.
- Aqui é o teu quarto e gostava que nos tratássemos por tu, não te importas pois não? – Sorriu-lhe e obteve logo o seu consentimento.
Abriu-lhe a porta e pôde observar-se um lindo quarto estilo clássico, onde já se encontravam as malas que trazia no carro, uma ampla cama com dossel, um sofá ao fundo da cama, amplos roupeiros, tapetes de pêlo alto e fofo, tudo muito convidativo. Tiago agradeceu e desejou uma boa noite a Madalena, que dirigindo-se para a porta de saída ainda disse:
- O meu quarto é aqui mesmo ao lado, se precisares de alguma coisa é só chamares.
- Muito obrigado, acredita que se precisar irei bater-te à porta do quarto.
- Espero que precises – rematou Madalena já a cruzar a porta e olhando por cima do ombro, oscilando as ancas em tom provocatório – os criados moram fora da casa, estamos sozinhos, só eu te poderei “servir” se precisares – disse em tom mais irónico.
A noite promete, pensou Tiago...

Parte 5

Deitou-se sobre a cama e aquelas palavras martelavam-lhe a cabeça – “só eu te poderei “servir” se precisares” – o sono não vinha e só a imagem de Madalena lhe aparecia, sedutora. Que deveria fazer? Aquele pedaço de mau caminho era muito tentador, mas era casada, nunca quis nada com casadas, não fazia parte da sua maneira de ser, mas que estava muito reticente, era verdade. Que poderia engendrar para a chamar, não queria ser directo demais mas a vontade estava a ser mais forte que a sua cabeça sempre a dizer que não deves. Levantou-se, caminhou pelo quarto a pensar. Encostou a cabeça na parede e tentou ouvir algo do outro lado da parede e percebeu que Madalena estava acordada, ouvia-se sons, passos e deveria ter a televisão ligada. Algo caiu ao chão porque se ouviu um grande estrondo. Tiago pensou logo que ela estava a fazer de propósito para o chamar e aproveitou esta oportunidade para lhe bater na porta e perguntar o que se tinha passado. Ela foi abrir a porta e apareceu numa langerie super sensual de cor vermelha, deixando-o louco de prazer ao avistar tão belo monumento. Tinha um corpo deslumbrante.
- Passa-se algo Madalena? Ouvi um barulho enorme e vim ver o que era.
- Não te preocupes, fui eu a andar aqui pelo quarto quando fui ao WC que fui contra aquela mesinha ali e deitei abaixo o abajur, nada que não se possa trocar por outro. Olha, é o que faz não ter sono e andar aqui sozinha a passear pelo quarto – e olhou-o com um ar convidativo para que se oferecesse para lhe fazer companhia.
- Engraçado que eu também não tenho sono nenhum, não sei se foi da nossa conversa e também pelo que se passou que não me consigo abstrair e estas emoções provocam-me insónia.
- E se entrasses e visses um pouco de televisão comigo? Quem sabe se chega o João-pestana? – e riram ambos muito bem dispostos.
Quando ele se preparava para responder e aceitar aquele convite provocador, ouve-se Camila aos gritos pela escada acima a chamar:
- Minha senhora, socorro, ajude-me por favor! O Gervásio teve um ataque e desmaiou, não consigo acordá-lo, penso que pode ter sido um enfarte porque ele sofre do coração.
Madalena foi rapidamente vestir uma roupa, a que estava mais à mão. Tiago fez o mesmo, predispondo-se logo a ajudar dizendo que levaria Gervásio ao Hospital. Seguiram de imediato a toda a velocidade, deixando de lado todas aquelas tentações que ainda iriam provocar estrago … ou talvez não.

Parte 6

Passaram quase toda a noite no Hospital e depois de longas horas de espera, conseguiram ter notícias através da doutora que assistiu Gervásio, a Dr.ª Cristina. Camila era a mais preocupada, dado Gervásio ser o seu marido.
- Então senhora doutora, como se encontra o meu marido?
- Descanse, já está tudo bem, teve uma paragem cardíaca mas agora está tudo normalizado, amanhã já deve ter alta. Agora podem ir para casa e amanhã aparecem por cá para o vir buscar se continuar tudo bem, só passa a noite ainda no hospital por precaução – disse a Dr.ª Cristina.
Obedeceram às sugestões da doutora e partiram rumo a casa, eram já 6h da manhã. Se o dia já tinha sido cansativo para Madalena e Tiago, depois de mais este incidente, estavam de rastos e seus corpos pediam mesmo descanso. Aquelas tentações anteriores desvaneceram-se e foram cada um para seu quarto dormir, extasiados.
Seria perto do meio dia que Tiago despertou e tentou escutar se já se ouvia algum som vindo do quarto de Madalena, não sabia como agir, se deveria esperar que o despertassem e lhe batessem na porta ou se sairia do quarto e ver se o esperavam na sala ou cozinha para o pequeno almoço. Decidiu aguardar mais um pouco até ouvir qualquer coisa.
Começou a ouvir passos e passado um pouco Madalena bateu no quarto de Tiago, dado já ter ouvido o som da televisão ligada.
- Bom dia Tiago, dormiste bem depois de toda aquela azáfama? – indagou Madalena.
- Bom dia, caí que nem uma pedra, estava super cansado! Só acordei mesmo há uns minutos atrás, estava à espera de ouvir alguém.
- E fominha há? Vamos ao pequeno-almoço? Já são quase horas do almoço mas como só acordamos agora, vamos ficar com as refeições meias trocadas.
- Vamos lá, já cá mora um ratito – e deu uma piscadela a Madalena.
E desceram até à cozinha onde já os esperava um farto pequeno-almoço preparado por Camila, que ainda se lhe notava os olhos inchados de tanto ter chorado pelo que aconteceu ao seu marido.
Trocaram ideias enquanto comiam e combinaram ir de seguida a uma oficina ali perto, de que Madalena era conhecedora, e arranjar um mecânico que os acompanhasse até ao seu carro que se encontrava avariado. Rapidamente o assunto ficou resolvido e cerca das 16h da tarde o seu carro já se encontrava consertado e à porta de sua casa.
Devido ao pequeno-almoço tardio, saltaram uma refeição e deslocaram-se a uma esplanada para lanchar sugerida por ela – como tinha antes mencionado a Tiago, seria sua guia por aquelas andanças.
A aproximação de ambos era cada vez maior e a atracção e vontade de algo mais também morava nas suas cabeças. Os seus olhares cruzavam-se com mais intensidade e Tiago não estava a conseguir controlar a resistência que ainda lhe fazia por ela ser casada. Já Madalena o tentava seduzir cada vez mais, o ser casada não era nenhuma barreira, quando queria alguma coisa, agia sem preconceitos e tentava tirar todo o proveito.

Parte 7

E naquela mesa de esplanada a distância de suas mãos ficou mais curta e já haviam toques e brincadeiras que surgiam no meio da conversa animada que mantinham. Ficaram cada vez mais desinibidos e já se ouviam elogios de parte a parte e de como estavam a gostar de passar aqueles momentos juntos. De repente olharam-se mais fixamente e a distância dos seus rostos diminuiu acabando num beijo escaldante a que nenhum conseguiu resistir, entregando-se totalmente. Suas mãos já não paravam e as carícias eram cada vez mais intensas, mas contidas devido ao local a que se encontravam. As suas mentes já só pensavam em abandonar o mais depressa aquele bar e irem para um sítio mais recatado, ao que ambos concordaram. Tiago pagou a conta e quando se preparavam para sair o telemóvel de Madalena tocou e ela verificou ser o seu marido, que pensava encontrar-se em Itália nesse momento. Tinha de atender, podia ser importante.
- Olá querido, passa-se alguma coisa?
- Tenho uma surpresa, adivinha onde estou? – disse Sérgio, seu marido.
- Não estás em Itália? Disseste que estarias por lá duas semanas! – disse admirada.
- Mudança de planos, o negócio ficou adiado e voltei mais cedo, estou em nossa casa aqui na Vila, quis fazer-te uma surpresa mas não te encontrei em casa, onde estás?
Madalena ficou branca, aquela surpresa não era nada bem vinda no momento, depois do que estava tão perto de acontecer. Ficou deveras contrariada com a situação, mas teve de disfarçar ao telefone.
- Estou aqui numa esplanada da praia com uma amiga a tomar um copo e a passar um pouco o tempo, não adivinhava que irias chegar tão cedo, mas vou já ter contigo querido, até já – e desligaram.
Tiago ouviu tudo e também ele ficou desconsolado com aquele incidente de percurso, já imaginava outro cenário para aquele fim de tarde e a chegada repentina do marido dela conseguiu deitar por terra um escaldante e proveitoso final do dia a que ambos já tinham começado a magicar. Madalena explicou a Tiago o que se passava e que já não poderiam continuar juntos por mais tempo, passando-lhe a mão pelo rosto como que a pedir desculpa. Mas mais dias se seguiriam e iriam arranjar maneira de terminar o que estava predestinado acontecer. Entretanto, não poderia dizer ao marido que ele tinha ficado lá em casa porque era bastante ciumento e embora desconfiasse de muitas das andanças dela, dado Madalena ser uma mulher extraordinariamente bonita, não admitia saber das suas aventuras, ainda por cima se desse de caras com um homem tão interessante na sua frente, como era Tiago. Então disse-lhe que mandaria entregar as suas malas, que ainda se encontravam no quarto que pernoitou, mal pudesse e na Pensão Vilar do Paraíso.
Embora entristecido, Tiago acatou esta decisão, deixou a sua companheira perto de casa, deu-lhe um beijo e partiu rumo ao local que já estava reservado.
Já Madalena foi de encontro ao seu marido, que lhe tinha conseguido estragar um belíssimo fim de tarde e que se previa super excitante.

Parte 8

Disfarçou bem o seu mal-estar e colocou um belo sorriso, cumprimentando o seu marido com um longo abraço e um beijo carinhoso.
- Que boa surpresa querido! É bom ter-te aqui assim sem contar, já tinha saudades tuas. Vais ficar muito tempo pela Vila?
- É para veres como o teu maridinho te adora e te faz lindas surpresas – e estendeu-lhe a mão que transportava uma pequena caixa com um lindo laçarote – toma, nunca me esqueço de ti meu amor! Ainda não sei quantos dias ficarei, tudo depende duns certos telefonemas, já sabes como são os negócios.
Madalena abriu o presente e verificou tratar-se duma linda jóia, um colar de ouro muito bonito e com pedrinhas de esmeralda. Sérgio tinha sempre um gosto apuradíssimo e sabia muito bem do que ela gostava, todas as vezes que estava para fora, sua esposa era sempre presenteada com algo para sanar a sua ausência permanente.
- É muito lindo, adorei – e pediu-lhe para a ajudar a apertar o colar atrás quando o experimentou no pescoço.
Depois de colocarem os assuntos em dia, de falarem de tudo o que se tinha passado na ausência dele, foram jantar e mais tarde recolheram-se no quarto. Madalena estava desconsolada mas não podia deixar transparecer que isso se notasse e colocou uma postura credível aos olhos de seu marido de como estivesse muito saudosa.
Também Tiago, já na pensão, passou aquela noite meio entristecido, depois de imaginar tudo o que poderia ter acontecido. Mas ao mesmo tempo sentia que tinha recebido um sinal para não se ter passado nada, poderia meter-se em trabalhos.
As suas malas foram entregues depois do jantar, provavelmente Madalena não teria tido oportunidade de dar antes essa ordem para que o marido não percebesse.
No dia seguinte havia uma certa ansiedade, tanto em Madalena como em Tiago, esperavam ambos poder contactar-se o mais depressa possível. Tiago não poderia fazê-lo, só lhe restava aguardar. Já Madalena esperava uma aberta de seu marido que não descolava dela nem por um minuto. Aconteceu que a meio da manhã ele foi tomar um duche e ela desapareceu de repente do quarto para ligar a Tiago.
- Bom dia Tiago, desculpa ontem, mas eu não podia fazer nada como deves compreender. Mas eu preciso ver-te, tenho de arranjar uma maneira, espero que o queiras também!
- Bom dia Madalena, lógico que também quero, ontem conseguiste deixar-me louco. Espero que o consigas brevemente.
- Sim, vou fazer de tudo, espera até lá que entro em contacto. Um beijo delicioso e até breve, tenho de desligar.
- Um beijo grande, liga rápido!

Parte 9

O marido de Madalena permaneceu na Vila mais 2 dias para desespero dela. A ansiedade de se encontrar com Tiago era cada vez maior, mas não podia fazer nada porque Sérgio não saia de perto dela seja lá para onde se deslocasse. Só conseguia enviar de vez enquanto uma sms ou fazer uma ligação rápida para dizer que ainda não tinha sido possível o encontro de ambos mas que a vontade era imensa e mal pudesse iria ter com ele. Chegou finalmente, terça-feira ao fim da tarde, um telefonema da empresa de seu marido dando-lhe conhecimento de que o esperavam para uma reunião importante na quarta-feira pelas 14h, pelo que teria que arrancar dali pela manhã.
Já Tiago passou estes dias sozinho a conhecer a Vila, a descansar e a ler, mas sempre com a cabeça direccionada para Madalena, não conseguia abstrair-se dela. Era quarta-feira e começava a pensar que provavelmente o marido iria passar a semana toda com ela e não teria nenhuma hipótese de desfrutar o resto dos dias na sua companhia. Umas férias que tinha escolhido para descansar e longe dos negócios estavam a parecer-lhe enfadonhas devido à ansiedade que sentia e ao mesmo tempo não o queria sentir, não era esse o objectivo daquela escapadela.
Encontrava-se a tomar o pequeno-almoço, cerca das 10,30h, quando toca o seu telemóvel. Pensou logo que poderia ser ela e disso logo se certificou, atendendo ansioso.
- Bom dia Madalena, então já há novidades?!
- Bom dia! Sim, meu marido já foi embora, partiu há cinco minutos, vim logo ligar-te, quero ver-te! – disse-lhe sem lhe perguntar se era também esse o seu desejo, a sua vontade era como uma ordem, quando queria algo nem o questionava, fazia!
- Eu também o quero muito, como fazemos?
- Dispensei os criados, dei folga à Camila para tratar do Gervásio e portanto espero-te aqui em casa. A que horas podes vir?
- Estou ainda a tomar o pequeno-almoço e mal me despache, irei de seguida! Em meia hora encontras-me aí. Beijinhos e até já!
O semblante de Tiago mudou completamente, andava carrancudo e de mau humor e mal terminaram aquele telefonema o seu rosto iluminou-se, o seu corpo ficou mais enérgico, cheio de pressa em tudo o que fazia para chegar mais depressa a casa da sua amiga. Antes de sair de casa vestiu uma roupa adequada que o fazia sentir mais senhor de si, olhou-se no espelho e gostou de se ver e partiu rumo aquele encontro que não lhe saia da cabeça desde sábado passado.
Madalena também quis impressionar e mal terminou a ligação correu a produzir-se para o esperar. Vestiu um vestido branco de seda muito leve e curto, com um decote bem acentuado e que prendia nos ombros com umas alcinhas bem fininhas. A langerie que escolheu era de alta qualidade e muito elegante, dum tom branco pérola, que lhe realçava todas as suas belas formas. Perfumou-se suavemente sem exagerar e maquilhou-se levemente, dado que sabia que era uma mulher bonita e não precisava de tantos esquemas para alterar a sua beleza natural. Estava pronta! Um nervoso miudinho acompanhava-a e não parava de olhar o relógio, até que sentiu um carro aproximar-se e esperou que tocassem no portão para se certificar que era ele. O seu coração acelerou mais quando ouviu a campainha e accionou o comando para que se abrisse e Tiago pudesse entrar. Ele aproximou-se da casa, viu-a à porta a olhar sorridente, estacionou e saiu ao seu encontro também super sorridente. Não sabia ainda muito bem como seria o cumprimento entre ambos mas mal chegou perto dela, Madalena enlaçou os seus braços no seu pescoço e deu-lhe um beijo escaldante na boca ao que ele correspondeu sem entraves.

Parte 10

Viram-se finalmente sozinhos e sem ninguém à vista para os impedir daquilo que sonhavam há alguns dias. Estavam ambos sedentos de desejo e mostraram logo de inicio essa sede porque não se largavam. Madalena pegou-lhe pela mão e conduziu-o de imediato ao seu quarto. Os abraços, as carícias, os beijos, não cessavam e os gemidos dos dois demonstravam que se desejavam mutuamente. Naquele momento Tiago já nem pensava que ela era casada e estava a cometer um erro, queria era desfrutar do momento e uma mulher daquelas não se podia desperdiçar por nada. Fizeram amor horas a fio e acabaram depois por adormecer juntos bem agarradinhos, esgotados. Nem se lembraram do almoço, quando despertaram já eram cerca das 17 horas. Madalena acordou primeiro e viu que não tinha sido um sonho, tinha acontecido realmente. Olhou o relógio e reparou que já estava a meio da tarde. Passou a sua mão pelo rosto de seu companheiro e Tiago abriu o sobrolho vendo Madalena a sorrir para ele.
- Que fome Tiago, tenho o estômago colado às costas – e deu uma valente gargalhada – vamos comer algo à cozinha ou tu não tens fome?
- Nem me fales, depois daquela maratona o que achas? – disse Tiago também acompanhando à gargalhada e espreguiçando-se depois de acordar.
Vestiram somente uns robes que existiam ali já para estes percalços e desceram a escadaria até à cozinha para comer qualquer coisa que havia já sido preparado anteriormente pela empregada. Em todo este tempo que permaneciam juntos não paravam os piropos, os beijinhos e as carícias, entendiam-se às mil maravilhas. Findo este almoço que já era lanche, deslocaram-se para o local da piscina, aconselhado por Madalena, e esticaram-se na relva a apanhar sol, como Deus os deitou a mundo. Era uma propriedade privada e longe de olhares alheios, podiam estar à vontade naquele local que não eram vistos por ninguém. O dia estava muito quente, um sol radioso a convidar a um banho de piscina. A água estava morna e nem esperaram fazer a digestão, desfrutando juntos daquela maravilha. Também brincaram na água sem tabus, pareciam dois adolescente que já se conheciam há imenso tempo. Depois de alguma serenidade nas brincadeiras começaram a clarificar as ideias e Tiago, o mais arredio neste tipo de relações proibidas, ficou mais sério e virou-se para a sua companheira dizendo:
- E agora Madalena, como vai ser daqui para a frente?
- Por mim continuamos a encontrarmo-nos, adorei estar contigo, tu não queres?
- Lógico que quero, mas existe o teu marido!
- E depois? Ele não precisa saber – disse sem rodeios.
- E vai ser sempre assim, tudo às escondidas? Eu quero mais que isso, quero que sejas só minha.
- Vamos dar tempo ao tempo e ver a melhor maneira, não precipitemos as coisas já Tiago, está bem?
Ele concordou e continuaram aquele resto dia juntos sem pensar mais no assunto.
Madalena habituada a já ter outros casos, mais um não fazia diferença, o seu marido nunca precisaria saber. Mas com Tiago estava a tornar-se diferente, não era só sexo mas havia mais qualquer coisa que também a fazia querer ficar só com ele, não queria precipitar-se, aquele relacionamento era muito recente e tinha que estudar melhor se as coisas continuavam a funcionar bem e para mudar tinha de ser para uma coisa segura, dado no momento, ter tudo o que precisava e abundantemente.

Parte 11

Nos restantes dias que se seguiram até ao final da semana, aproveitaram todos os momentos ao máximo e sempre juntos. A sintonia entre os dois tornara-se evidente e nem sequer queriam pensar como seria depois de regressarem as suas casas. Tiago tinha abandonado a Pensão em que se tinha alojado e a convite de Madalena mudou-se para a Mansão.
Chegou finalmente o dia crítico que ambos não queriam que chegasse, era preciso fazer as malas partindo para as suas vidinhas do dia-a-dia. Fizeram promessas que não se iriam perder, estariam sempre em contacto e também que tentariam resolver a melhor maneira de se encontrarem e poderem ficar juntos.
Fizeram o trajecto sempre um atrás do outro, sempre com brincadeiras pelo caminho, ultrapassagens um ao outro, acelerações bruscas a ver quem andava mais depressa, de vez enquanto punham-se lado a lado e atiravam beijos e piropos um ao outro, até ao limite do caminho que os ia separar. Moravam a cerca de 30 km de distância um do outro, Madalena em Mindelo e Tiago em Vila Nova de Gaia. Como vinham de norte, a entrada para Mindelo marcava o local que teriam de seguir rumos diferentes mas Tiago tinha combinado com Madalena que entraria também por lá, ainda iriam almoçar e depois é que seguiria na direcção do Porto até sua casa.
Findo o almoço assim foi, teve lugar a despedida.
- Liga-me mal chegues a casa, quero saber se chegaste bem – disse Madalena – até parece que já estou com saudades tuas e ainda não te foste embora.
- Sim querida, não te preocupes que ligarei – disse num tom meio sorumbático porque era um momento triste aquela separação depois de dias tão felizes – adoro-te muito!
E deram um beijo longo cheio de sentimento, partindo ambos rumo a suas casas.

Parte 12

Tinham acabado estas mini férias de Tiago e estava na hora de voltar ao trabalho. O descanso total que tinha planeado inicialmente tinha saído ao contrário, nunca pensou que outros acontecimentos se iriam passar, mas não estava descontente, antes pelo contrário, tinha conhecido Madalena e não se arrependia de nada – foi uma semana louca de paixão.
Era Arquitecto numa empresa de Construção Civil e tinha um alto cargo, comandando um pequeno grupo de outros Arquitectos e Engenheiros. O seu serviço era de muita responsabilidade, não podia descurar-se para que tudo saísse na perfeição.
Este primeiro dia estava a ser terrível, muita coisa para despachar, que ficou pendente toda a semana, e caía agora nas suas costas. Nunca mais chegava o final do expediente para poder sair dali e ir ver a sua amada, como tinha ficado planeado no dia anterior quando lhe ligou a dizer que tinha chegado a casa. Ficaram de se encontrar no final da tarde, depois que ele saísse do trabalho, junto ao Castelo do Queijo, na Foz, para de seguida irem jantar.
Finalmente aquele dia de trabalho terminou, estava deveras desgastado, mas só em pensar no encontro que iria ter, reavia todas as forças e o cansaço ficava de lado, apressando-se para ir a casa rapidamente, tomar um duche, mudar de roupa e voar até ao Porto ao encontro da sua Madalena.
Tiago foi recebido como se não se vissem há imenso tempo, embora tivessem se separado só no dia anterior. Mas aquele afastamento, depois daquela semana quase sempre juntos, conseguiu enchê-los de saudades em tão pouco tempo. Pareciam dois miúdos apaixonados e quando se viram juntos de novo não paravam de se abraçar e beijar pronunciando palavras românticas um ao outro.
Mais calmos deste reencontro inicial, dirigiram-se para um restaurante em Leça da Palmeira com vista para o mar, escolhendo uma mesa bem perto da janela para desfrutarem daquela vista maravilhosa.
Conversaram amiúde do dia que passaram, o que fizeram, etc., até tocarem no assunto do que iriam fazer futuramente, com o que estava a acontecer entre eles. Queriam poder levar aquele envolvimento sem medos de serem vistos e de alguém vir a se magoar.
- Vamos ter calma Tiago, tudo isto é muito recente e tenho de ver a melhor maneira de poder mudar a minha vida, tudo me custou imenso a conquistar, adoro tudo o que tenho e não quero sair disto com uma mão à frente e outra atrás. Se me divorciar do meu marido perco tudo o que tenho.
- Tudo bem, mas eu tenho um bom cargo, não tenhas receio por isso, pode não ser igual ao que estás habituada mas acho que o nosso amor é fundamental, não é assim?
Estavam ambos tão concentrados naquela conversa que nem se apercebiam de quem mais jantava naquela sala. Sem contar Tiago foi surpreendentemente abordado na sua mesa por uma mulher que Madalena desconhecia.
- Boa noite Tiago, é uma surpresa encontrar-te aqui! – e dirigiu um olhar curioso à sua companheira, estudando-a de cima a baixo.
Tiago ficou atrapalhado com aquela aparição mas conseguiu disfarçar rapidamente, cumprimentando-a cortesmente.
- Olá Joana, como vais? Realmente é surpreendente encontramo-nos ambos no mesmo restaurante – e educadamente apresentou a sua companhia – esta é a Madalena!
Cumprimentaram-se educadamente mas miravam-se com alguma curiosidade. Eram ambas mulheres muito bonitas e espampanantes. Findo este pequeno acontecimento, Joana despediu-se, esboçando um sorriso amarelo, e dirigiu-se à sua mesa, dado que também estava acompanhada por outros casais.
Notava-se que Madalena estava apreensiva em saber que tipo de relacionamento havia ou teria havido entre eles e esperou que Tiago tomasse a iniciativa em lhe contar, olhando-o curiosa.
- A Joana é a minha ex-namorada e já não existe nada entre nós há algum tempo.
Madalena aceitou a sua explicação mas a partir dali aquele jantar ficou mais frio, sentiam-se sempre observados e um mal-estar apoderou-se daquela mesa.

Parte 13

Tiago reparou que até Madalena não deixara de observar Joana, parece que ambas se faiscavam com o olhar e as suas feições estavam carregadas de ciúmes.
Incomodados por se sentirem sempre na mira de Joana, mal terminaram a sobremesa e os cafés, pediram logo a conta e não permaneceram mais no restaurante, nem para continuar a conversa naquele local que lhes parecia muito agradável para ficar mais um pouco.
- Vamos beber um copo a outro lado? – sugeriu Tiago.
- Vamos sim, acho que estaremos melhor onde ninguém nos conhece, pois a tua amiga não tira os olhos de nós – disse meia irritada.
Deslocaram-se até um bar, saborearam uns digestivos e Tiago tentou desviar os seus pensamentos do acontecido mas Madalena quis saber a sua história com Joana. Então ele contou-lhe que tivera um relacionamento problemático e que Joana era muito ciumenta. Tinha durado cerca de um ano e terminado há cerca de 3 meses, mas viu-se aflito para se ver livre dela porque nunca quis aceitar a separação.
- E agora ela já aceita? – perguntou Madalena.
- Bem, de vez enquanto ainda me telefona a forçar um encontro mas eu cortei radicalmente não alimentando nenhuma esperança, porque ela era demasiado dominadora e não admitia que me aproximasse de nenhuma mulher e na minha profissão não me posso dar ao luxo de lhe fazer todas as vontades. Lido todos os dias com imensas mulheres e algumas até as tenho de chefiar.
- Eu não sei porquê mas já vi a cara da tua amiga em qualquer lado, não me é nada estranha e senti que ela também me reconheceu, por isso fiquei mais apreensiva, compreendes porquê não é Tiago, não me posso expor assim, o meu marido não pode saber disto, pelo menos para já.
- Não te preocupes, deve ser só impressão, vamos esquecer por agora este assunto? Quero-te tão bem disposta como estavas antes, pode ser? Dás-me um beijo?
E dali para a frente tentaram mesmo abstraírem-se e entregarem-se ao momento, bebendo mais uns copos, ficando cada vez mais alegres. Não durou muito tempo para que se deslocassem para casa de Tiago, pois já não aguentavam mais sem se poderem amar e concretizar o mais esperado daquele encontro.
Fizeram amor pela noite dentro. Madalena não voltou para casa porque o seu marido continuava no estrangeiro e não teve coragem de a altas horas da madrugada regressar. Já a Tiago esperava-lhe mais um dia de trabalho e não sabia como iria conseguir aguentar sem ter descansado quase nada, mas pelo prazer conseguia esquecer tudo e as coisas se resolveriam depois.
Durante toda a semana encontraram-se depois do trabalho de Tiago, cada vez se gostavam mais e não queriam passar um dia um sem o outro. Madalena não ficou a dormir todos os dias em sua casa, porque sabia que Tiago andava super cansado e sem descansar quase nada, mas quando ele insistia permanecia por lá. O seu marido só voltava de viagem na semana seguinte e ela aproveitava a sua ausência.
Chegou finalmente sexta-feira e Madalena voltou a lá pernoitar dado que no dia seguinte Tiago já não tinha que ir trabalhar. Tinha sido uma semana louca de amor e nem pensavam nos problemas que poderiam aparecer mantendo aquela relação ainda escondida de todos.
Eram cerca das 11h de sábado quando tocam à porta. Tiago estranhou o toque àquela hora porque não esperava ninguém. Deixou Madalena na cama e foi abrir, pedindo-lhe que aguardasse. Surpreendeu-se com a presença de Joana.
- Joana? Que fazes aqui? – perguntou-lhe irritado.
- Calma, somos amigos ou não? Não posso vir à tua casa?
- Claro que podes, mas agradecia que me avisasses antes!
- Desculpa, pensei que não fosse preciso … mas, incomodo agora? Não posso entrar? – disse em tom meio irónico.
- Neste momento não te posso atender, preferia que voltasses outro dia.
- Já vi que não estás sozinho, estás com a tua amiga Madalena do outro dia?
- Isso já não te diz respeito, queres fazer o favor de te ires embora? Ligas e falamos outro dia, agora é impossível.
- És mesmo desagradável e nada educado, vim aqui de propósito falar-te sobre a tua amiga e tu mandas-me embora.
Tiago ficou com a pulga atrás da orelha, curioso em saber o que ela tinha a dizer mas manteve a sua palavra e mandou-a embora, também porque sabia que Madalena poderia estar a escutar, dado o quarto ficar bem perto da porta de entrada.

Parte 14

Madalena tinha escutado mesmo toda a conversa e ficou muito apreensiva colocando a cabeça a funcionar para se recordar de onde conhecia Joana. Perguntou a Tiago o que ela fazia, onde trabalhava e fez-se luz, pois Joana trabalhava na empresa do marido. Lembrou-se de a ver em sua casa umas duas vezes quando seu marido ia de partida para o estrangeiro e levava sempre uma secretária particular. Escolhia-as a dedo, todas eram muito bem parecidas, bonitas e elegantes. Madalena sempre desconfiou que aquelas acompanhantes não seriam somente secretárias, mas nunca aprofundou o assunto porque não tinha interesse nas manobras que o marido fazia fora de casa, não lhe faltava nada, tinha uma vida descomplicada e com bastante liberdade para fazer o que bem lhe apetecesse. Se começasse a fazer perguntas e a discutir o assunto ainda poderia pôr tudo a perder e vir a ficar sem aquela vida luxuosa de que muito gostava. Então seu marido tinha os seus flirts e ela os seus. Só não admitiam saber das coisas, tinha de ser tudo na mais alta descrição.
Depois desta lembrança, Madalena ficou assustada, tinha receio que Joana viesse a contar ao seu marido e não queria que as coisas fossem descobertas dessa maneira, preferia que ele quando soubesse fosse por ela mesma e com uma conversa amena e sem conflitos.
Tiago também ficou preocupado, pois sabia como era Joana e com os ciúmes que tinha dele de certeza que não ia fica calada. Ela foi lá a casa propositadamente para lançar o seu veneno. Tinham ambos de pensar o que fazer naquela situação.
- Acho que está na hora de contares tudo ao teu marido Madalena, antes que ela corra a fazê-lo. Digo-te já que Joana é possessiva e o fará de certeza, mas acho que ganhamos um pouco de tempo e fiz bem em mandá-la embora. Ela antes de contar ainda vai voltar à carga comigo e dizer ao que veio e de certeza lançar a sua chantagem. O que propões?
- Eu não sei, mas depois disto só me apetece matá-la! – e viu-se pelo olhar de que estava mesmo a falar o que sentia e queria fazer, estava deveras aflita.
- És doida? Isso é crime e ainda eras descoberta.
- Tenho meios de o poder fazer e de que ninguém descubra, o dinheiro serve para isso mesmo.
Tiago ficou muito assustado com a maneira tão fria e calculista de Madalena resolver o problema e não acreditava que era a mesma pessoa meiga, suave, delicada, que conhecera.
Não sabia como agir mas pediu-lhe tempo para pensar no assunto e sem precipitações. Até Joana voltar a procurá-lo tinham tempo de pensar em algo menos perigoso e sem ninguém sair magoado.

Parte 15

O marido de Madalena voltava na próxima terça-feira e tinham três dias para arranjar uma solução e fazer calar Joana. Tiago decidiu mandar uma mensagem para o telemóvel dela a dizer que iria passar o fim-de-semana fora e só voltava na noite de domingo, pelo que só poderia falar com ela segunda-feira, tudo isto para ganhar tempo e de a manter calada este período, não fosse ela de raiva entrar em contacto com o marido de Madalena, mesmo ele permanecendo no estrangeiro.
Neste pouco tempo que tinham decidiram investigar a vida de Joana e como Tiago conhecia algumas das pessoas que se davam com ela começou a contactá-las e tentar saber o que ela fazia, com quem se movimentava e onde esteve a viver neste últimos três meses, dado que sabia que tinha estado fora do país, em França.
Então obteve um número de telefone duma amiga de Joana que se chamava Patrícia e que foi onde ela permaneceu quando se mudou para Paris. Decidiu ligar-lhe logo.
Ficou deveras surpreso, quando soube que Joana tinha sido expulsa de sua casa e que o motivo tinha sido por se ter metido com o namorado de Patrícia, do qual inclusive disse esperar um filho, desmascarando o rapaz na frente da namorada para obter o maior lucro possível. Como o casal também não engoliu muito aquela história, vieram a saber que Joana frequentava certos locais impróprios e que era vista imensas vezes e sempre com homens diferentes. Portanto qualquer um poderia ser pai da criança e pediram que depois do nascimento que ela provasse através dum teste de ADN quem era o verdadeiro pai. Perante isto, Joana desapareceu sem dar mais notícias, não sabiam se ainda voltaria à carga, mas como tinham quase a certeza que tinha sido um golpe, que não voltaria a aparecer. O namorado de Patrícia tinha sido seduzido por Joana num dia em que a amiga estava ausente e conseguiu que ele bebesse mais que o costume para conseguir meter-se na cama com ele. Parecia ter um golpe bem estudado, mas saiu-lhe furado porque deu com pessoas mais inteligentes do que ela.
Tiago ficou a saber que afinal Joana era pior do que pensava, além de ciumenta, era uma golpista, teria de precaver-se e ter cuidado pelo que ela ainda poderia fazer com ele, dado que já o andava a rondar.
Madalena estava ao corrente de tudo isto e embora com medo do que ela poderia fazer, ao mesmo tempo sabiam de algo que poderiam confrontá-la e a fazer calar, mas ela poderia nem querer saber e abrir a boca na mesma. Decidiram aguardar os próximos acontecimentos, depois do fim-de-semana.

Parte 16

Quando Tiago se encontrava já a trabalhar na segunda-feira recebeu uma chamada – era Joana – não perdeu tempo nenhum.
- Bom dia Tiago, como combinado aqui estou eu a cobrar-te para que me recebas hoje em tua casa, tenho muita urgência em falar contigo, mas como estiveste fora estes dias decidi aguardar.
- Tudo bem Joana, podes passar em minha casa a partir das 21 horas, seja lá qual for o assunto, espero que seja breve porque preciso de descansar.
- Bem, mas que cansadinho que ele anda, pudera também não te dão descanso! – e deu uma gargalhada maliciosa.
- Não tens nada com isso, apareces logo e falamos mas não me venhas com histórias, até logo – e desligou sem a deixar ripostar mais alguma coisa.
Estava intrigado e curioso de saber que seria que lhe queria contar, tinha de ter cuidado porque Joana era ardilosa. Teria de medir bem as suas palavras e não se precipitar em lhe dar qualquer resposta sem pensar bem antes. Tudo o que pudesse fazer para ganhar tempo seria o ideal.
Todo o dia andou pensativo e aquela história não lhe saia da cabeça e nem o trabalho lhe rendia. Tinha de resolver as coisas para esquecer de vez desta tramóia.
Nesse dia não se iria encontrar com Madalena, colocou-a ao corrente do que se iria passar e que depois de Joana sair de sua casa lhe ligaria logo. Pediu-lhe para não ficar preocupada, ter calma e que confiasse nele.
Chegou rapidamente a hora esperada. Passavam poucos minutos das 21 horas quando Joana apareceu.
- Pontualíssima! – disse Tiago.
- É verdade, antes que fugisses de novo – e riu-se do que disse.
- Entra, senta-te e conta lá o que me queres dizer!
- És mesmo mal-educado, nem ofereces um café ou uma bebida!?
- Tudo bem, já sei do que gostas, vou servir-te um Porto! Podes ir falando!
- São dois assuntos que me trazem aqui, o primeiro: - Sabias que a tua amiga Madalena é casada? Ela deve andar a enganar-te!
- Sei muito bem e tu não tens nada a ver com isso, vamos resolver este assunto brevemente e espero da tua parte sigilo absoluto, as coisas tem de correr a bom termo e sem outros a meterem-se nisso. Pelos momentos que passamos juntos, espero de ti Joana, que consideres este pedido. Sei muito bem que conheces o marido da Madalena e já estava à espera que me atirasses isso à cara.
- Ah então a tua amiguinha reconheceu-me e não disse nada, ficaram ambos caladinhos, provavelmente cheios de medinho! – e não parava de ironizar, de mandar achas para a fogueira.
- Não se trata disso, Madalena nem te reconheceu logo, só sabia que não lhe eras estranha e mais tarde recordou-se, dado que tu também a miravas duma maneira que a fez desconfiar. Só teve a certeza quando soube para quem trabalhaste quando andavas comigo. Mas qual é o segundo assunto?
- O segundo assunto, não sei se vais gostar ou não gostar, mas eu estou à espera dum filho teu, estou grávida de mais de três meses.
Tiago já sabia da história da gravidez pela rapariga de nome Patrícia que tinha conversado ao telefone, mas nunca calculou que Joana viesse agora à procura de um novo pai para o seu filho e que o tivesse escolhido a ele. Ficou surpreso com esta revelação e com cara de pasmo. Ao mesmo tempo tentou arranjar palavras, sem se precipitar, para tentar dizer algo sem que ela soubesse que ele já tinha tirado informações a seu respeito e que sabia da sua gravidez, mas que nem tinha a certeza de ser verdade ou se seria jogo dela com todos os que se relacionou para tirar proveito.
- Como assim se tomávamos todas as precauções? – disse Tiago.
- Eu disse-te que tomava a pílula e tu usavas camisinha mas nem sempre, lembras-te? Pois eu não te contei mas o médico aconselhou-me a não tomar mais a pílula por causa de alguns exames que fiz, nem sempre tivemos cuidado e aconteceu. Pensei que nesses dias de descuido não tivesse no período fértil, mas o certo é que aconteceu.
- Tens a certeza do que me estás a dizer Joana, eu não sei da tua vida depois de acabarmos, com quem andaste mais?
- Com ninguém, eu nunca te esqueci, nunca mais houve alguém depois de ti.
Tiago quis ganhar tempo, não disse o que sabia e falou-lhe calmamente.
- Tudo bem Joana, se for o pai isso depois vai-se saber, assumirei o meu filho com certeza, mas não esperes mais nada de mim além disso, não vou voltar para ti.
- Tenho imensa pena, continuo a amar-te como antes, adoraria formar uma família contigo Tiago.
- Vais desculpar-me mas isso nunca será possível e não é por eu ter alguém agora, as coisas entre nós nunca funcionaram e seria incapaz de ter outro relacionamento contigo que não seja de amizade. Agora, como te disse antes, deixa-me descansar e voltaremos a falar, pode ser?
- Claro que sim, voltarei a falar contigo quando for oportuno – disse Joana.
- Sim, estaremos sempre em contacto e se precisares de algo diz. Agora não te esqueças do que prometeste em relação à Madalena, peço-te sigilo sobre nós.
- De acordo, logo que também cumpras com os teus deveres de pai, está tudo bem – disse em tom de ameaça.
Despediram-se e Joana saiu, deixando Tiago com uma tremenda dor de cabeça.

Parte 17

Logo de seguida colocou Madalena a par de tudo e em tom de raiva resmungou:
- Que chatice, vou andar a ser chantageado e se não lhe faço as vontades vai a correr para o teu marido contar tudo … agora era eu que me apetecia matá-la!
- Calma, vamos tentar ganhar tempo para que depois as coisas possam ser contadas sem terceiros a meter-se – disse Madalena.
- Tem de ser mesmo, tenho de lhe fazer ver que obedeço ao que pretende, senão não ponhas duvidas de que não fica calada, eu conheço-a muito bem.
- Amanhã chega o meu marido e vou sondar se sabe algo, se está tudo na mesma ou se está diferente. Depois começamos a pensar como vamos fazer as coisas, tenho de procurar um advogado e saber ao certo todos os meus direitos, pois não quero perder tudo o que conquistei até aqui e vou tentar tirar o melhor partido do que adquiri.
- Fica combinado, não nos precipitemos – disse Tiago – amanhã quando puderes liga-me a contar tudo e vê lá se consegues dar uma fugidinha para nos vermos, estou cheio de saudades tuas!
- Não te preocupes, eu dou um jeito e amanhã vou estar contigo de certeza! Adoro-te muito, até amanhã meu amor! Mil beijos.
Despediram-se e no dia seguinte conseguiram encontrar-se, chegando à conclusão que estava tudo calmo e nada de novo se havia passado. Afinal Joana tinha-se mantido calada.
Passaram-se três dias e tudo se mantinha calmo, até ter saído uma notícia no jornal relatando a morte de uma mulher, tragicamente abatida a tiro. Tratava-se de Joana.
Tiago mal viu essa notícia mandou uma mensagem a Madalena para que entrasse em contacto consigo com urgência. Não quis ligar porque poderia não estar sozinha, dado o marido permanecer ainda por casa. Logo de seguida recebeu a chamada dela a perguntar o que é que se passava.
- Leste o jornal de hoje Madalena?
- Não, ainda não tive tempo, mas que aconteceu?
- Vem lá a notícia de que Joana foi assassinada a tiro. Sabes-me dizer alguma coisa sobre isto?
- Eu não sei de nada – disse surpresa – não estás a pensar que fui eu pois não? Também falaste em matá-la e eu não desconfio de ti, senão não me estavas a perguntar dessa maneira.
- Claro que não mas é deveras intrigante, temos de falar pessoalmente o mais rápido possível, podemos vir a ser implicados, não sabemos com quem Joana andou a falar e se mencionou os nossos nomes a alguém.
- Sim é melhor, temos de fazer coincidir os nossos depoimentos. Logo ao final do dia passo em tua casa. Beijo amor!
- Beijos, fico à tua espera! – disse Tiago.

Parte 18

Como combinado, Madalena já se encontrava na casa de Tiago quando ele chegou perto das 19h, depois de ter terminado o expediente de trabalho.
- Só agora consegui despachar-me, cai tudo nas minhas costas – disse Tiago depois de a ter cumprimentado carinhosamente – leste a notícia?
- Sim li, mas quem terá feito uma coisa dessas? Eu não fui Tiago, disse aquilo da outra vez num acto de raiva mas juro-te que não fiz nada, senão contava-te. Também acredito que não fostes tu, não és pessoa para matar ninguém!
- Claro que não fui, nem pensar. Agora antes que sejamos implicados por alguma razão, temos já de planear tudo para termos um álibi para o dia de ontem, pelo menos nas horas próximas do crime.
- Parece que a hora do crime foi dada pelas 15h, por acaso a essa hora estava com o meu marido ainda a acabar de almoçar e ficamos por casa até às 17h, só depois é que ele saiu para o escritório. Os meus criados podem testemunhar isso. Tu no teu trabalho de certeza que também tens muitas testemunhas, agora qualquer um de nós pode ser implicado como sendo o mandante, é muito fácil quem encomendou o serviço fazer parecer que não teve nada a ver com o assunto, arranjando esquemas para ser visto com alguém naquela hora. Só temos de ser convincentes e dizer a verdade. Talvez nem venhamos a ser chamados, vamos esperar para ver – disse Madalena.
- Talvez tu não sejas mas eu devo ser porque já fui o namorado dela, as pessoas da família conhecem-me. Vou ser chamado de certeza. Só não queria que por causa destes acontecimentos a nossa relação venha a lume, dado que ainda é segredo e o teu marido pode vir a saber dessa forma. Que achas de contares a verdade e pedires o divórcio agora?
- Se calhar é melhor começar mesmo a pensar na melhor forma de o fazer, já não aguento mais esta situação, fingir que está tudo bem em casa e ter que te ver às escondidas já está a ultrapassar todos os limites. Hoje vou estudar a melhor maneira e à noite ganhar coragem e contar tudo, deseja-me sorte!
Tiago agarrou-se a Madalena e deu-lhe toda a força que precisava e mais uma vez fizeram amor. Entendiam-se na perfeição em tudo e amavam-se de verdade.
Depois Madalena teve de regressar, o seu marido tivera um jantar de negócios e por isso pôde permanecer mais um pouco depois de jantar com Tiago. Despediram-se apaixonadamente, com a sensação que seria a última vez que tinham de esconder o seu romance e que dali para a frente iniciariam uma relação séria e assumida aos olhos de todos.


Parte 19

Quando Madalena chegou a casa, e para surpresa sua, seu marido já se encontrava à sua espera. Ficou meia atrapalhada para explicar a sua ausência e passou-lhe logo pela cabeça que seria a hora indicada de fazer aquilo que tinha pensado – pedir o divórcio.
- Sérgio, já em casa? Não tinhas um jantar de negócios?
- Ficou sem efeito. E a menina por onde anda a estas horas da noite sem mim? – Perguntou-lhe em tom irónico.
- Já que perguntas, queria mesmo ter uma conversa séria contigo, há muito que já a ando a adiar e chegou a hora, vamos para o escritório falar Sérgio? – meio surpreendido acedeu e dirigiram-se de seguida para lá.
- Então o que é que se passa querida?
- Não sei como começar, mas não estou satisfeita com a minha vida, tenho tudo o que é bom de material, não me falta nada, mas falta tudo o resto, não estou feliz Sérgio e quero mudar a minha vida.
- Que queres dizer com isso?
- Desculpa-me, tentei evitar mas não consigo, queria pedir-te o divórcio!
- Já estava à espera disso, aquela cabra bem que me avisou. – disse bruscamente e cheio de raiva – andaste a trair-me na minha ausência!
- Calma Sérgio, falemos com serenidade, gostava que esta conversa fosse o mais amigável possível, são coisas que acontecem, não te queria magoar mas estou a ser o mais sincera possível, espero que me perdoes e continues a ser meu amigo, foste e serás sempre muito importante para mim. Ensinaste-me muita coisa e deste-me uma vida digna, mas há carências que nos fazem pensar que afinal não chega, tenta compreender, passas mais tempo fora de casa do que comigo, preciso de companhia, o dinheiro não é tudo. Mas falaste naquela cabra, de quem se trata? Quem te avisou de algo e o que te disseram? – disse já a pensar de quem se tratava.
Sérgio quis fugir ao assunto, dizendo para ela esquecer, tinha metido os pés pelas mãos e não queria tocar no assunto mas Madalena insistiu em saber.
- Espero não ter problemas por causa dessa estúpida, lembras-te duma ex-empregada minha, a Joana?
- Já vi tudo, então essa menina afinal abriu a boca, mas que chantagista hein? De certeza que também te pediu dinheiro!
- Que sabes tu dela? Porque achas que me pediria dinheiro? – disse intrigado.
- Sei que se dizia estar grávida, viu-me a jantar um dia com uma pessoa que também conhecia e me reconheceu como tua esposa. Se a conhecias, já estás a ver o filme, começou a chantagear a pessoa que me acompanhava, dizendo que o filho que esperava era dele.
- Espera aí, então o filho que ela esperava podia não ser meu?! – disse repentinamente sem pensar direito no que tinha dito, dado que não queria que Madalena soubesse do seu envolvimento com Joana – Ela veio cá a casa um dia dizer-me que pai do filho que esperava era eu, e como tu sabes, fiz um tratamento depois daquele acidente estúpido que me tinha deixado impotente, fiquei na duvida se seria verdade. Além de lhe dizer que não podia ter filhos ela afirmou a pés juntos que era o pai e depois de tão furiosa que ficou quando lhe disse que nunca deixaria a minha mulher por ela e por um filho, contou-me o que tu andavas a fazer e que me traías com um amante. Fiquei doente e fora de mim.
- Que fizeste então? – perguntou Madalena já desconfiada do pior.
- Esquece, não fiz nada! Este assunto morre aqui e como também deves já saber, Joana foi assassinada, nesse dia almoçamos juntos e fiquei contigo até às 17h, verdade?
- Sim foi, mas….
- Mas nada, cala-te e não faças perguntas. É o divórcio que queres, é isso que vais ter! Vou para o quarto de hóspedes, amanhã voltamos a falar, boa noite! – e saiu porta fora transtornado, sem dizer mais nada.
Madalena foi para o seu quarto. Ligou de seguida a Tiago e colocou-o ao corrente de tudo o que se tinha passado.

Parte 20

De manhã cedo, na casa de Madalena, tocam à porta com insistência e acorda sobressaltada. Fica à espera que alguns dos criados apareça a dizer alguma coisa, enquanto veste um robe e passa uma água pelo rosto. Não demorou muito até que Camila batesse na sua porta.
- Bom dia minha senhora!
- Bom dia Camila, que se passa? Quem tocou à campainha a estas horas?
- Estão lá em baixo dois inspectores da Polícia Judiciária e querem falar com os donos da casa.
- Não disseram o assunto? – perguntou Madalena.
- Não senhora, pediram só para chamar os senhores.
- Muito bem Camila, diz aos Inspectores que já desço e entretanto vai ali ao quarto de hóspedes chamar o Sr. Sérgio, que hoje ele ficou lá a dormir – e para que Camila não estranhasse esta separação, emendou – ele encontra-se meio engripado e decidiu lá ficar para não me pegar a doença.
Enquanto vestia uma roupa mais adequada para receber as visitas, Camila voltou a bater na porta.
- Minha Senhora, o Sr. Sérgio não se encontra no quarto, procurei na casa e também não o vi, deve ter saído muito cedo porque nem eu nem o Gervásio demos conta dele sair.
- Mas que estranho, pronto tenho de ser só eu a recebê-los, já desço daqui a 10 minutos. Avisa lá em baixo os senhores!
Já arranjada Madalena desceu a escadaria e cumprimentou os inspectores.
- Bom dia, então podem dizer-me a que se deve esta visita tão cedo?
- Bom dia D. Madalena, somos da Judiciária. Temos um mandato para levarmos connosco o Sr. Sérgio Nogueira.
- A minha empregada já o foi chamar ao quarto mas não se encontra. O que aconteceu? Ele vai ficar detido? De que suspeitam?
- Ele é acusado de ser o mandante do assassinato de Joana Moreira. Foi denunciado pelo homem que cometeu o crime dado que lhe encomendou o serviço, deu-lhe um adiantamento pequeno e que depois lhe pagaria o resto. Como não o fez, recebemos uma gravação juntamente com uma carta a denunciá-lo e que testemunha pelas vozes que são ouvidas, ser ele mesmo o mandante do crime.
Madalena ficou de boca aberta. Quem diria que o seu marido tinha cometido semelhante crime.
- Dado que seu marido não se encontra, agradecemos que a D. Madalena nos acompanhe à Judiciária – disse um dos inspectores.
- Eu não tenho nada a ver com o assunto, estou surpresa como podem ver, juro que não sabia de nada – disse Madalena assustada.
- São meras formalidades, todos têm de prestar declarações e serem ouvidos, não se preocupe!
Madalena pediu que aguardassem na sala para que pudesse tomar o pequeno-almoço rapidamente e de seguida acompanhou-os à Judiciária. Pelo caminho ligou ao seu advogado para que fosse lá ter e poder agir da maneira mais apropriada. Enquanto o advogado não chegou não foi ouvida porque teve ordens nesse sentido.
Quando foi chamada a depor, fizeram-lhe variadíssimas perguntas relacionadas com o crime, se conhecia Joana Moreira, onde se encontrava a certas horas e com quem, se sabia do relacionamento do marido com essa pessoa, se sabia dos negócios escuros em que o marido andava metido e se sabia das dívidas enormes que mantinha na banca e em variadíssimas empresas.
Madalena ficou atordoada com todas estas informações. Pelo que soube naquela hora o seu marido estava na falência e pela ausência de casa de manhã cedo tinha fugido não se sabe para onde. A sua casa já estava hipotecada, só lhe restava alguns bens que estavam no seu nome, como o seu carro e algum dinheiro que mantinha numa conta à parte desde há muito pouco tempo quando começou a pensar mais seriamente na separação. Mas era ainda pouco para o que estava acostumada a ter. Algumas jóias também estavam guardadas no cofre do banco, parece que adivinhava.
Depois de sair da polícia arrasada, ligou para Tiago a chorar e informou-o de tudo. Disse que tinha de abandonar aquela casa em dois dias a mando da polícia e que já nada lhe pertencia. O seu marido tinha fugido por imensas vigarices e crimes e era procurado pela polícia para ser detido.
- Tiago, não quero ficar mais um minuto naquela casa, vou fazer as malas e levar tudo o que é meu. Podes vir ter comigo e ajudar-me a levar as coisas para tua casa? Queres que vá morar contigo já?
- Mas é claro minha querida, há muito que é isso que eu quero, não era assim desta maneira mas parece que tudo se proporcionou que fosse mais rápido. Daqui a cerca de 1 hora estou em tua casa. E tem calma, vamos ser felizes os dois e eu não sou nenhum pobretanas. Até já meu amor.

Parte 21

Tiago decidiu não ir trabalhar, avisando que por motivos pessoais não lhe era possível comparecer no serviço. Tirou o dia para fazer a mudança de Madalena.
Meia chorosa por ter de abandonar muitas das coisas que conquistou, Madalena lá se foi conformando durante o dia que não tinha outra hipótese e também sabia que não iria ficar pobre, mas era-lhe difícil olhar todos aqueles objectos que adquiriu a seu gosto e aquela bela casa que decorou a ficarem para trás. Agora tinha que enfrentar o futuro ao lado do homem que amava.
No final da tarde já tinha todas as suas coisas em casa de Tiago, só teriam aos poucos que colocar nos devidos lugares.
Passaram-se dois dias, quando Madalena recebeu um telefonema da Polícia Judiciária para a intimar a se apresentar nos serviços da PJ no dia seguinte de manhã porque tinham novos dados sobre o seu marido e queriam dar essas informações pessoalmente.
Tiago acompanhou-a à Polícia nesse dia, eram 12h, para lhe dar força e não a deixar temerosa do que podia acontecer. A Polícia mete sempre muito respeito e deixam as pessoas intimidadas.
Aguardaram até Madalena ser chamada e quando isso aconteceu ele ficou à sua espera até que terminasse. Não tinham a certeza se seria mais um interrogatório, se iria receber notícias do paradeiro do seu marido ou se tinham descoberto mais alguma coisa e pretendiam só informá-la.
- Dona Madalena, faça favor de entrar – disse um inspector – pode sentar junto dessa secretária que o meu colega Jorge Martins já fala com a senhora.
Esperou uns minutos até que começassem a falar e notou pela cara preocupada do inspector que o que tinham para lhe contar, não era boa coisa.
- D. Madalena, chamámo-la aqui porque temos uma notícia muito desagradável e não seria de bom-tom fornecê-la através do telefone.
Madalena ficou logo assustada e quis saber de imediato o que se tinha passado.
- Diga logo Sr. Inspector, não me deixe aflita!
- O seu marido, como sabe, era procurado pelos crimes que cometeu e através de certas pistas conseguimos saber onde se encontrava. Quando fizemos uma busca à casa que sabíamos estar, exigimos que abrisse a porta. De imediato ouviu-se um tiro e quando conseguimos entrar, lamento informá-la, o seu marido tinha-se suicidado.
Aquela notícia Madalena não esperava, seu marido sempre gostou de viver, mesmo depois daquele grande acidente nunca baixou os braços e lutou sempre para melhorar e manter a vida que sempre levou. Mas agora viu-se sem nada, sem a mulher que amava e esperava-o a prisão, aquilo tudo junto não dava para aguentar e não viu outro jeito senão matar-se.
Madalena baixou a cabeça, não aguentou a pressão e começou a chorar compulsivamente. Era seu marido, gostava dele, sempre foi seu amigo. Embora não o amasse deu-lhe uma vida digna e pode-se dizer que feliz na medida do possível.
Tentaram acalmá-la e colocaram-na a par de todos os acontecimentos e falcatruas que ainda não sabia e depois deixaram-na sair, colocando-a sobre aviso para futuros depoimentos.
Quando saiu da sala vinha com os olhos vermelhos e Tiago ficou muito preocupado querendo saber o que tinha acontecido ficando logo de seguida a par de tudo. Madalena era uma mulher viúva.
Foram almoçar fora para se abstraírem dos acontecimentos e regressaram a casa. Madalena tomou um calmante e foi dormir um pouco enquanto Tiago deu uma fugida ao escritório para resolver uns assuntos pendentes e voltou de seguida para não a deixar sozinha neste período menos bom.
Dali para a frente as coisas começaram a entrar nos eixos e todos aqueles acontecimentos caíram no esquecimento, fazendo com que Madalena e Tiago tivessem uma vida repleta de alegrias. Passados uns 5 meses casaram e já aguardavam o seu primeiro descendente. Eram um casal feliz.
Um dia mais tarde Tiago seguia auto-estrada fora intrometido nos seus pensamentos, quando vê uma cena parecida com uma que já lhe tinha acontecido. Mais uma bela senhora na berma da estrada com o seu carro avariado à espera de ajuda.
- Páro? Não páro? – disse para consigo – é melhor deixar esta princesa para outro príncipe encantado. A minha princesinha já encontrei e sou o homem mais feliz do mundo!
A próxima história de encantar terá outro protagonista, não sou egoísta! – e seguiu o seu caminho…

Fim