terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Na integra


Um Conto Rimado


Parte 1

Gonçalo é um grande sonhador,
que já não se contenta com o que tem,
sempre em busca do verdadeiro amor,
percorre caminhos para se sentir bem.

Casado com Joana há cerca de 15 anos,
construiu um lar e tiveram um filho,
mas neste percurso também houve danos,
pois tanta monotonia tinha de dar sarilho.

O afastamento tornou-se mais evidente,
já era um viver sem grande entusiasmo,
novas vivências estavam em sua mente,
queria a todo o custo sair deste marasmo.

Só seu filho o prendia ao casamento,
era a sua alegria naquele meio sem cor,
mas não podia continuar em sofrimento,
queria ter um futuro muito mais animador.

Começou aos poucos a sair com amigos,
e as discussões em casa aumentaram,
refugiava-se então em outros abrigos,
assim divertia-se e não o massacravam.

Numa dessas escapadelas de casa,
encontrou uma amiga de longa data,
que o entusiasmava e arrastou a asa,
mas perdeu-lhe o rasto, sorte ingrata.

Mal a viu, seu coração bateu forte,
foi de imediato ao seu encontro,
nesse dia sentiu-se com muita sorte,
como seria este novo reencontro?

Laura também se surpreendeu,
não esperava voltar a ver Gonçalo,
tinha-o perdido na altura do liceu,
mas nunca o esqueceu nesse intervalo.

Houve um abraço cheio de sentimento,
nos seus olhares cintilava satisfação,
a saudade sentiu-se nesse momento,
e o reencontro foi cheio de emoção.

Sentaram-se à mesa de um bar,
quiseram saber tudo de suas vidas,
com curiosidade não paravam de falar,
reviveram muitas cenas esquecidas.

Quando Laura soube que era casado,
baixou a cabeça e seu olhar entristeceu,
mas passado tantos anos era esperado,
também ela já foi mas o marido morreu.

Os números de telefone foram anotados,
não queriam se perder novamente,
e um novo encontro foi agendado,
num local calmo e com menos gente.

As horas naquela noite pareciam voar,
Gonçalo não queria exceder o tempo,
em casa teria sermão ao demorar,
e exigidas explicações pelo passatempo.

Naquela noite tiveram de se despedir,
embora a vontade não fosse nenhuma,
mas outra oportunidade estava p’ra vir,
no dia seguinte para almoçar há uma.

Parte 2

Ao chegar a casa teve discussão,
já era de prever dada a hora tardia,
disfarçou inventando uma situação,
que seu carro tivera uma anomalia.

A esposa ficou muito desconfiada,
já não acreditava no seu marido,
o que a deixava mais indignada,
era o seu ar de comprometido.

Chorou baixinho desesperada,
seu casamento não tinha remédio,
a separação parecia esperada,
até quando aguentaria esse tédio?

Sabia que seu filho é que o prendia,
e era nele que tentava se segurar,
andava a ver se um milagre surgia,
mas sem esperança de o voltar amar.

Já não tinha soluções para o agradar,
pois nem ela já sentia essa vontade,
a monotonia acabou por degradar,
o amor inicial e até a sua amizade.

Teria de esperar por melhores dias,
quem sabe as coisas podiam mudar,
já nada lhe trazia grandes alegrias,
mas queria ter esperança e sonhar.

Há meses que já não se tocavam,
dormiam juntos por imposição,
era certo que já não se amavam,
um dia terminaria esta situação.

Não faziam programas aos pares,
tentando não demonstrar a ninguém,
nem ao filho, nem aos seus familiares,
é assim que o casamento ainda se mantém.

Parte 3

No dia seguinte Gonçalo quis se produzir,
queria causar muito boa impressão,
um futuro melhor queria construir,
e Laura estava presente no seu coração.

Foi trabalhar de manhã com a cabeça na lua,
às 13 horas queria estar no local marcado,
para a tarde arranjou quem o substitua,
depois do almoço seria como um dia feriado.

Chegaram praticamente ao mesmo tempo,
ambos pareciam ansiar por aquele almoço,
chegaram antes, não houvesse contratempo,
mais vale chegar cedo e não haver alvoroço.

Laura apareceu deveras fascinante,
Gonçalo ficou ainda mais apaixonado,
juntos faziam um casal brilhante,
a quem deitavam o olho arregalado.

Foram almoçar com animosidade,
e combinaram a seguir ir passear,
havia muita coisa que era novidade,
que queriam saber e desvendar.

Laura notou o interesse de Gonçalo,
mas o ser casado colocava-lhe travão,
gostava dele mas seria um abalo,
se viessem a saber dessa situação.

Gonçalo disse que não era feliz,
um filho não resolve uma união,
podia sempre vê-lo, é sua raiz,
mas o divórcio seria a solução.

Se ela estivesse disposta a arriscar,
era nítido que se entendiam bem,
experimentavam uns tempos namorar,
e mais tarde podiam ir mais além.

À praia decidiram ir passear,
caminharam no passadiço de madeira,
deram as mãos e foram a conversar,
horas a fio e sempre na brincadeira.

Sentaram-se na areia a dada altura,
olharam-se seriamente e com ternura,
suas bocas colaram-se com doçura,
era o primeiro passo daquela loucura.

Laura por momentos deixou-se envolver,
mas sua consciência logo a veio alertar,
há tanta coisa a ponderar antes do prazer,
seria melhor ir com calma para não errar.

Gonçalo foi muito compreensivo,
não forçou e encheu-a mais de carinho,
dado que era seu grande objectivo,
ambos seguirem pelo mesmo caminho.

Teria de resolver primeiro a sua situação,
não queria ser apanhado em contra fé,
conversar amigavelmente e sem agressão,
para que cada um siga a vida pelo seu pé.

Estiveram juntos até antes do jantar,
acharam por bem o encontro terminar,
para que a esposa não viesse a perguntar,
porque tinha chegado tarde sem avisar.

Ficaram muitas promessas no ar,
e Laura incutiu-lhe muita coragem,
despediram-se até data a combinar,
talvez com mais novidades na bagagem.

Parte 4

Gonçalo começou a andar nervoso,
não sabia como enfrentar sua mulher,
toda esta situação o deixava ansioso,
teria de ser forte e conseguir resolver.

O seu filho Tiago começou por alertar,
que seus pais andavam insatisfeitos,
se não se davam o melhor era separar,
do que andar toda a vida a pôr defeitos.

Mas acontecendo nunca seria esquecido,
porque foi sempre desejado e adorado,
para seu pai será sempre muito querido,
mesmo longe irá ser sempre bem amado.

Nunca lhe deixará faltar necessidades,
qualquer coisa vai ser um pai presente,
sempre dentro das suas possibilidades,
só falhará se sofrer algum acidente.

Tiago com 13 anos já compreendia,
embora com uma certa tristeza,
queria ter mais a sua companhia,
mas era melhor, disso tinha a certeza.

Já tinha desconfiado imensas vezes,
as discussões já eram em todo o lado,
e se arrastavam há alguns meses,
que o deixavam deveras incomodado.

Pediu ao filho para sua mãe ajudar,
iria ser uma batalha bastante difícil,
um casamento de 15 anos iria terminar,
quando desse a notícia seria um míssil.

Sua mãe não deveria aceitar inicialmente,
tentaria demove-lo de todas as maneiras,
mas uma solução para ambos era urgente,
não podiam continuar a cometer asneiras.

Decidiu esperar o próximo fim-de-semana,
conversariam com mais calma e com tempo,
se corresse para o torto apoiaria Joana,
neste período inicial seria um tormento.

Parte 5

Laura sabia de tudo o que se passava,
falava muitas vezes com seu amado,
também ela com esta situação andava,
com um nervoso miudinho instalado.

Tinha receio da reacção de Joana,
que pudesse colocar algum entrave,
punha-se no lugar dela, era humana,
e previa sempre tudo muito grave.

Passava as noites meia acordada,
o pensamento cheio de remorsos,
sentia culpa e a consciência pesada,
seria compensador tantos esforços?

Por vezes pensava retroceder,
um casamento podia terminar,
mas amava tanto aquele ser,
que ficar sem ele não ia aguentar.

Decidiu esperar sem interferir,
para que não sentisse tanta culpa,
o destino se encarregaria de agir,
para no futuro não pagar multa.

Parte 6

Finalmente chegou o dia decisivo,
Gonçalo chamou Joana para conversar,
falou calmamente e sem ser agressivo,
para não a assustar e nem enervar.

Estranhou o marido mas já calculava,
sabia que um dia o poderia perder,
para Gonçalo, era uma simples escrava,
e como mulher só o fazia aborrecer.

Começou por falar da monotonia,
já não mantinham uma relação feliz,
não havia entusiasmo, nem euforia,
continuar juntos, seriam uns imbecis.

Não era o fim do mundo por terminar,
eram ainda jovens para refazer a vida,
o primeiro impacto iria magoar,
mas o tempo curaria essa ferida.

Joana ouviu-o mantendo-se calada,
sabia que ia acontecer mas não acreditava,
com esta realidade sentiu uma alfinetada,
e subitamente ficou bastante brava.

Começaram a agredir-se verbalmente,
já não era uma conversa amena,
insultavam-se indecentemente,
pareciam dois touros numa arena.

Joana começou a ter medo de Gonçalo,
mas disse que não haveria separação!
Encrespou-se para ela como um galo,
suas mãos ao pescoço, foi a reacção!

Ela esbracejou tentando se soltar,
à cómoda do quarto ficou encostada,
de costas tentou com as mãos achar,
algo duro para lhe dar uma paulada.

Uma boneca de porcelana foi a arma,
bateu-lhe com força, violentamente,
Gonçalo caiu inanimado sobre a cama,
com a cabeça a sangrar do incidente.

Joana ficou em pânico e muito aflita,
seu filho entrou no quarto assustado,
viu o pai esvair-se em sangue e grita,
- Acudam que meu pai está desmaiado.

Ligaram ao 115 e foi para o hospital,
diagnosticando-lhe uma grave fractura,
Gonçalo encontrava-se mesmo mal,
um coma profundo era realidade pura.

Joana teve de prestar declarações,
e justificou-se com auto-defesa,
mostrou o pescoço com escoriações,
o marido a queria matar de certeza.

Ficou ilibada de qualquer culpa,
mas martirizava-se do mal do marido,
chorava e dizia que não tinha desculpa,
não devia tê-lo agredido e ferido.

Passava os dias no hospital com o filho,
à espera que acordasse ou dum sinal,
sua vida deixou de ter qualquer brilho,
e nunca mais sua relação seria igual.

Parte 7

Laura não sabia de nada deste drama,
nem uma única notícia de seu amado,
estranhava a ausência de quem ama,
encontrava sempre o telemóvel desligado.

Decidiu rondar sua casa a ver se o via,
mas só conseguiu avistar a família,
mais preocupada ficou ao fim do dia,
porque não entrou nesse tempo de vigília.

Sabia onde trabalhava, era Guarda-Fiscal,
no dia seguinte foi pedir uma informação,
foi quando soube que estava no hospital,
deixando-lhe um grande aperto no coração.

Dirigiu-se ao hospital da sua zona,
porque era o único que por lá havia,
com ar sofredor e meia chorona,
deu o nome dele para ver se existia.

Informaram-na que estava lá internado,
que o seu estado era muito complicado,
em coma profundo era o seu estado,
e ao acordar poderia ficar incapacitado.

Quis saber se o poderia visitar,
mas as visitas eram só para a família,
a uma funcionária tentou implorar,
uma escapadela rápida nesse dia.

A senhora viu o seu ar preocupado,
disse-lhe para voltar depois das visitas,
que a fazia passar por outro lado,
como enfermeira que leva as marmitas.
Laura agradeceu imenso a simpatia,
e comoveu-se com tanta gratidão,
quis retribuir com uma certa quantia,
mas foi-lhe logo negada essa doação.

Foi embora era quase hora de almoço,
sua cabeça estava a mil e meia confusa,
esperava que não houvesse alvoroço,
e não viesse a ser tida como intrusa.

Voltou ao hospital depois das sete,
passou por enfermeira de bata branca,
tinha a indicação do quarto num bilhete,
mas sentia-se como uma saltimbanca.

Conseguiu finalmente ver o seu amor,
chorou imenso ao vê-lo inanimado,
estava muito pálido e quase sem cor,
queria tanto que estivesse acordado.

Pegou na sua mão para lhe dar calor,
impressionava-a estar todo entubado,
falava-lhe ao ouvido palavras de amor,
e custava-lhe deixá-lo ali abandonado.

Permaneceu junto dele até poder,
não se cansava de o acariciar,
mas o tempo passava a correr,
teria de ir embora sem ele acordar.

De repente sentiu-o mexer a mão,
quando na sua houve uma pressão,
era um sinal de que ouviu sua oração,
e a deixou com esperança no coração.

Foi logo avisar o médico de serviço,
que satisfeito verificou as melhoras,
disse-lhe que ela quebrou o feitiço,
agora era esperar as próximas horas.

Não podia permanecer mais tempo,
beijou-o apaixonada e foi embora,
esperançosa por este acontecimento,
e animada por esta grande melhora.

Parte 8

Nessa noite Laura mal conseguiu dormir,
Gonçalo não saía do seu pensamento,
um amor assim ninguém podia destruir,
teria de acabar logo com este sofrimento.

Cedo ligou à senhora que a ajudou,
quis saber de alguma novidade,
depressa muito bem disposta ficou,
sabendo que acabou aquela fatalidade.

Pediu novamente para o visitar,
queria muito vê-lo acordado,
só depois é que poderia avaliar,
o que na verdade se tinha passado.

Teve novamente consentimento,
mas não podia deixar ser sempre,
compreendeu sua dor e sofrimento,
permitindo-a de ir ver o doente.

Quando Gonçalo a viu na sua frente,
seus olhos brilharam de emoção,
um abraço entre eles era urgente,
comovidos depois de toda a aflição.

Laura ficou ao corrente do incidente,
sentindo-se meia culpada do sucedido,
e do futuro ficou ainda mais temente,
com receio que Joana mate o marido.

Avisou que ao hospital não podia voltar,
porque as visitas não lhe eram concedidas,
se o seu estado não se viesse a agravar,
logo seriam curadas todas as feridas.

Parte 9

Permaneceu no hospital mais 1 semana,
e só tinha a visita dos seus familiares,
falava bem ao filho mas ignorava Joana,
dirigindo-se a ela em assuntos peculiares.

Quando o filho não estava presente,
fez ver à esposa as suas intenções,
o que já tinha dito era ponto assente,
ela que arranjasse novas soluções.

Joana ouvia-o e só conseguia chorar,
depois do acidente piorou a situação,
teria que ter força e a sua vida mudar,
não havia clima para uma reconciliação.

Com Laura só falava ao telemóvel,
prometendo poder vê-la brevemente,
sentia-se melhor e menos imóvel,
tendo alta só a queria ver na frente.

Avisou os seus pais da sua decisão,
ficaram tristes mas compreenderam,
amavam-no e estenderam-lhe a mão,
e o regresso ao seu lar lhe propuseram.

Rapidamente voltou a casa recuperado,
mas com algumas restrições do hospital,
trabalhar e sair de casa não era adequado,
poderia ainda ter náuseas e sentir-se mal.

Enquanto permanecia meio preso,
o telefone era o objecto de comunicação,
com a esposa continuava o seu desprezo,
para que não tivesse esperanças na relação.

Na semana seguinte deixaria de vez o lar,
na casa dos seus pais iria voltar a residir,
não queria por enquanto de Laura falar,
mas no futuro era com ela que se ia unir.

Tudo a seu tempo se iria encaixar,
sem pressas e sem ferir ninguém,
até lá algum sigilo, mas podia namorar,
e mais tarde no altar poder dizer amém.

Passaram-se alguns meses neste impasse,
os papéis do divórcio em andamento,
parecia estar mais perto o seu novo enlace,
mas queria com Joana ter bom entendimento.

Havia um filho, fruto daquela união,
que gostaria que os pais se entendessem,
já era desgostoso viver com a separação,
pior seria se mãe e pai se indispusessem.

Parte 10

Nesse período de um certo sigilo,
Gonçalo e Laura viam-se às escondidas,
preferiu assim para andar mais tranquilo,
e mais tarde não ter surpresas indevidas.

No início do namoro já assumido,
finalmente o desejo falou mais alto,
entregaram-se a um amor destemido,
e nos braços dele Laura deu o salto.

Sentia-se mais segura para o fazer,
sabia que Gonçalo a amava de verdade,
com ele todos os dias queria amanhecer,
e permanecer para toda a prosperidade.

Chegou o dia de à família a apresentar,
dado aos pais Gonçalo já ter contado,
convidou o filho mas antes quis falar,
e prepará-lo para depois não ser julgado.

Tiago já tinha idade para compreender,
ouviu-o atento e deu-lhe consentimento,
embora com receio de a conhecer,
com medo dum futuro afastamento.

Mas o pai depressa o fez sossegar,
que nunca o abandonaria por nada,
e nenhuma mulher os faria separar,
sendo mesmo a sua namorada.

Disse que Laura iria ser sua amiga,
porque era uma mulher especial,
tinha a certeza que não haveria briga,
e manteriam uma relação sensacional.

Pediu para à sua mãe ainda não contar,
pelo menos até ao divórcio sair,
porque sua vida poderia complicar,
se Joana, traída se pudesse sentir.

Estava tudo preparado para o jantar,
Laura encontrava-se muito nervosa,
havia sempre o medo de não agradar,
mas sentia-se confiante e corajosa.

Os pais de Gonçalo se esmeraram,
queriam que o filho se sentisse satisfeito,
e um jantar com requinte elaboraram,
preparado com gosto para esse efeito.

Laura é uma mulher linda mas modesta,
que transborda simplicidade e simpatia,
seria apenas um jantar e não uma festa,
bom entendimento é o que mais queria.

Foi buscar o filho e deixou-o nos avós,
para depois ir ter com sua amada,
transmitindo-lhe confiança ainda a sós,
levando-a depois menos assustada.

Quando a viu ficou deslumbrado,
tinha-se produzido ainda mais,
estava linda e ele fascinado,
outra mulher assim não teria jamais.

Beijou-a orgulhoso e apaixonado,
seu dias eram cada vez melhores,
a felicidade afinal tinha voltado,
depois daqueles tempos piores.

Estava pronta para a apresentação,
sentia ter um amor verdadeiro,
tinha a certeza naquela relação,
mas Tiago teria de conquistar primeiro.

Iria ser muito fácil com certeza,
porque Laura é uma mulher adorável,
e quando estivessem todos à mesa,
seria um jantar bem agradável.

Parte 11

Finalmente todos se enfrentaram,
foram feitas as devidas apresentações,
juntos à mesa conversaram e jantaram,
com serenidade e sem complicações.

Notava-se que Laura tinha tido sucesso,
pela alegria com que todos se encontravam,
e Gonçalo sentiu um grande progresso,
orgulhoso pelo encontro que efectuaram.
Sentiu-se com coragem para uma surpresa,
que antes não tinha ainda decidido fazer,
mas preparou-se para a fazer com a certeza,
que ela tinha sido aceite por todos com prazer.

Retirou do bolso uma linda caixinha preta,
para sua amada se virou e disse de seguida:
- Laura amo-te muito mas não sou poeta;
- Queres casar comigo minha querida?

Bateram-se palmas em redor daquela mesa,
Laura abriu a caixinha que continha um anel,
sem contar ficou espantada e disse com subtileza:
- É lindo! Ser tua mulher vai ser o meu papel.

Uma garrafa de champanhe foi aberta,
para festejar este pedido de casamento,
e os pais de Gonçalo fizeram uma oferta,
de um ramo de rosas para este momento.

Parte 12

O divórcio saiu passado pouco tempo,
agora já não havia perigo de se saber,
a todos mostravam o seu sentimento,
namoravam abertamente sem se esconder.

Joana veio a saber desta relação,
mas há muito que já desconfiava,
sofreu bastante com esta revelação,
mas era passado, não podia ficar brava.

Tinha também que sobreviver,
era jovem e bonita para ficar só,
resolveu valorizar-se e emagrecer,
conhecer alguém para o forró.

Passado poucos meses Gonçalo casou,
em casa de sua amada foi acolhido,
dado ter enriquecido quando enviuvou,
herdando todos os bens do seu marido.

Laura era empresária duma loja de ouro,
foi desta forma que o ex marido investiu,
era dona e senhora dum grande tesouro,
e com a morte dele, ela prosseguiu.

Por isso sua casa era muito espaçosa,
não foi preciso procurarem casa nova,
bem decorada porque Laura era habilidosa,
um gosto requintado que qualquer um aprova.

Tiago, com o pai passava muito tempo,
embora judicialmente fosse quinzenalmente,
a boa relação com Joana dava consentimento,
e se o filho queria, a mãe não era intransigente.

A felicidade reinava neste novo lar,
só faltava ver aumentada a família,
e ambos decidiram por isso lutar,
ao filho Tiago dar um irmão um dia.

Laura, nas suas regras sentiu um ligeiro atraso,
fez análises em segredo para não dar esperança,
não fosse o resultado negativo por acaso,
e afinal não estar à espera duma criança.

Mas a boa notícia veio rapidamente,
era verdade que estava de esperanças,
quando o marido chegou disse suavemente:
- Querido, senta-te aqui e vê se descansas!

Gonçalo estranhou esta sua atitude,
ficou preocupado e também curioso,
quis logo saber se estava boa de saúde,
ao que ela o descansou em tom amoroso.

Sobre a sua barriga colocou a mão dele,
sorriu graciosamente para o seu marido,
Gonçalo entendeu que momento era aquele,
e as lágrimas escorreram-lhe agradecido.

Parte 13

Ao filho Tiago quis dar a boa nova,
dando-lhe a noticia quando apareceu,
queria saber se não haveria reprova,
por deixar de ser o único filho seu.

Tiago riu-se muito daquela novidade,
porque seriam sim mais dois irmãos,
pois sua mãe também estaria na maternidade,
dali a uns meses haveria dois bebés chorões.

Para Gonçalo foi uma grande surpresa,
porque ainda não sabia que Joana namorava,
ela tinha pedido segredo para sua defesa,
com medo que ele sabendo o filho resgatava.

Estavam ambas grávidas com o mesmo tempo,
prevendo-se que nascessem em Dezembro,
Se fosse a 25 seria um grande acontecimento,
sendo o Menino Jesus esse novo membro.

Passaram meses e tudo corria muito bem,
o filho Tiago era o pombo-correio,
acarinhado por todos neste vaivém,
fazer um convívio juntos era seu anseio.

Então os seus pais resolveu convidar,
cada qual com o seu acompanhante,
para travarem conhecimento num jantar,
e no final brindarem com espumante.

Passado uns dias o jantar aconteceu,
os pais orgulharam-se do seu filho,
com a sua atitude a amizade fortaleceu,
davam-se todos bem e não havia sarilho.

Já existiam mais dois irmãos no Natal,
nasceu a irmã Filipa e um irmão João;
Tiago sentia uma felicidade sem igual,
tinha duas famílias que amava de coração.

E para comemorar melhor esta benção,
resolveram fazer a festa em conjunto,
em casa de Laura fizeram a junção,
de familiares e o Natal foi todo junto.


F i m


Paula Costa

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 19

Final


Ao filho Tiago quis dar a boa nova,
Dando-lhe a noticia quando apareceu,
Queria saber se não haveria reprova,
Por deixar de ser o único filho seu.

Tiago riu-se muito daquela novidade,
Porque seriam sim mais dois irmãos,
Pois sua mãe também estaria na maternidade,
Dali a uns meses haveria dois bebés chorões.

Para Gonçalo foi uma grande surpresa,
Porque ainda não sabia que Joana namorava,
Ela tinha pedido segredo para sua defesa,
Com medo que ele sabendo o filho resgatava.

Estavam ambas grávidas com o mesmo tempo,
Prevendo-se que nascessem em Dezembro,
Se fosse a 25 seria um grande acontecimento,
Sendo o Menino Jesus esse novo membro.

Passaram meses e tudo corria muito bem,
O filho Tiago era o pombo correio,
Acarinhado por todos neste vaivém,
Fazer um convívio juntos era seu anseio.

Então os seus pais resolveu convidar,
Cada qual com o seu acompanhante,
Para travarem conhecimento num jantar,
E no final brindarem com espumante.

Passado uns dias o jantar aconteceu,
Os pais orgulharam-se do seu filho,
Com a sua atitude a amizade fortaleceu,
Davam-se todos bem e não havia sarilho.

Já existiam mais dois irmãos no Natal,
Nasceu a irmã Filipa e um irmão João;
Tiago sentia uma felicidade sem igual,
Tinha duas famílias que amava de coração.

E para comemorar melhor esta benção,
Resolveram fazer a festa em conjunto,
Em casa de Laura fizeram a junção,
De familiares e o Natal foi tudo junto.

Paula Costa - 26.12.2008

------------------Fim--------------------

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 18


O divórcio saiu passado pouco tempo,
Agora já não havia perigo de se saber,
A todos mostravam o seu sentimento,
Namoravam abertamente sem se esconder.

Joana veio a saber desta relação,
Mas há muito que já desconfiava,
Sofreu bastante com esta revelação,
Mas era passado, não podia ficar brava.

Tinha também que sobreviver,
Era jovem e bonita para ficar só,
Resolveu valorizar-se e emagrecer,
Conhecer alguém para o forró.

Passado poucos meses Gonçalo casou,
Em casa de sua amada foi acolhido,
Dado ter enriquecido quando enviuvou,
Herdando todos os bens do seu marido.

Laura era empresária duma loja de ouro,
Foi desta forma que o ex marido investiu,
Era dona e senhora dum grande tesouro,
E com a morte dele, ela prosseguiu.

Por isso sua casa era muito espaçosa,
Não foi preciso procurarem casa nova,
Bem decorada porque Laura era habilidosa,
Um gosto requintado que qualquer um aprova.

Tiago, com o pai passava muito tempo,
Embora judicialmente fosse quinzenalmente,
A boa relação com Joana dava consentimento,
E se o filho queria, a mãe não era intransigente.

A felicidade reinava neste novo lar,
Só faltava ver aumentada a família,
E ambos decidiram por isso lutar,
Ao filho Tiago dar um irmão um dia.

Laura, nas suas regras sentiu um ligeiro atraso,
Fez análises em segredo para não dar esperança,
Não fosse o resultado negativo por acaso,
E afinal não estar à espera duma criança.

Mas a boa notícia veio rapidamente,
Era verdade que estava de esperanças,
Quando o marido chegou disse suavemente:
- Querido, senta-te aqui e vê se descansas!

Gonçalo estranhou esta sua atitude,
Ficou preocupado e também curioso,
Quis logo saber se estava boa de saúde,
Ao que ela o descansou em tom amoroso.

Sobre a sua barriga colocou a mão dele,
Sorriu graciosamente para o seu marido,
Gonçalo entendeu que momento era aquele,
E as lágrimas escorreram-lhe agradecido.
Paula Costa - 19.12.2008...(continua....)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 17


Finalmente todos se enfrentaram,
Foram feitas as devidas apresentações,
Juntos à mesa conversaram e jantaram,
Com serenidade e sem complicações.

Notava-se que Laura tinha tido sucesso,
Pela alegria com que todos se encontravam,
E Gonçalo sentiu um grande progresso,
Orgulhoso pelo encontro que efectuaram.

Sentiu-se com coragem para uma surpresa,
Que antes não tinha ainda decidido fazer,
Mas preparou-se para a fazer com a certeza,
Que ela tinha sido aceite por todos com prazer.

Retirou do bolso uma linda caixinha preta,
Para sua amada se virou e disse de seguida:
- Laura amo-te muito mas não sou poeta,
- Queres casar comigo minha querida?

Bateram-se palmas em redor daquela mesa,
Laura abriu a caixinha que continha um anel,
Sem contar ficou espantada e disse com subtileza:
- É lindo! Ser tua mulher vai ser o meu papel.

Uma garrafa de champanhe foi aberta,
Para festejar este pedido de casamento,
E os pais de Gonçalo fizeram uma oferta,
De um ramo de rosas para este momento.
Paula Costa - 18.12.2008...(continua....)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 16


Os pais de Gonçalo se esmeraram,
Queriam que o filho se sentisse satisfeito,
E um jantar com requinte elaboraram,
Preparado com gosto para esse efeito.

Laura é uma mulher linda mas modesta,
Que transborda simplicidade e simpatia,
Seria apenas um jantar e não uma festa,
Bom entendimento é o que ele mais queria.

Foi buscar o filho e deixou nos avós,
Para depois ir ter com sua amada,
Transmitindo-lhe confiança ainda a sós,
Levando-a depois menos assustada.

Quando a viu ficou deslumbrado,
Tinha-se produzido ainda mais,
Estava linda e ele fascinado,
Outra mulher assim não teria jamais.

Beijou-a orgulhoso e apaixonado,
Seu dias eram cada vez melhores,
A felicidade afinal tinha voltado,
Depois daqueles tempos piores.

Estava pronta para a apresentação,
Sentia ter um amor verdadeiro,
Tinha a certeza naquela relação,
Mas Tiago teria de conquistar primeiro.

Iria ser muito fácil com certeza,
Porque Laura é uma mulher adorável,
E quando estivessem todos à mesa,
Seria um jantar bem agradável.

Paula Costa - 15.12.2008...(continua....)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 15


Nesse período de um certo sigilo,
Gonçalo e Laura viam-se às escondidas,
Preferiu assim para andar mais tranquilo,
E mais tarde não ter surpresas indevidas.

No início do namoro já assumido,
Finalmente o desejo falou mais alto,
Entregaram-se a um amor destemido,
E nos braços dele Laura deu o salto.

Sentia-se mais segura para o fazer,
Sabia que Gonçalo a amava de verdade,
Com ele todos os dias queria amanhecer,
E permanecer para toda a prosperidade.

Chegou o dia de à família a apresentar,
Dado aos pais Gonçalo já ter contado,
Convidou o filho mas antes quis falar,
E prepará-lo para depois não ser julgado.

O filho já tinha idade para compreender,
Ouviu-o atento e deu-lhe consentimento,
Embora com receio de a conhecer,
Com medo dum futuro afastamento.

Mas o pai depressa o fez sossegar,
Que nunca o abandonaria por nada,
E nenhuma mulher os faria separar,
Sendo mesmo a sua namorada.

Disse que Laura iria ser sua amiga,
Porque era uma mulher especial,
Tinha a certeza que não haveria briga,
E manteriam uma relação sensacional.

Pediu para à sua mãe ainda não contar,
Pelo menos até ao divórcio sair,
Porque sua vida poderia complicar,
Se Joana, traída se pudesse sentir.

Estava tudo preparado para o jantar,
Laura é que estava muito nervosa,
Havia sempre o medo de não agradar,
Mas sentia-se confiante e corajosa.


Paula Costa - 12.12.2008...(continua....)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 14


Enquanto permanecia meio preso,
O telefone era o objecto de comunicação,
Com a esposa continuava o seu desprezo,
Para que não tivesse esperanças na relação.

Na semana seguinte deixaria de vez o lar,
Na casa dos seus pais iria voltar a residir,
Não queria por enquanto de Laura falar,
Mas no futuro era com ela que se ia unir.

Tudo a seu tempo se iria encaixar,
Sem pressas e sem ferir ninguém,
Até lá algum sigilo, mas podia namorar,
E mais tarde no altar poder dizer amén.

Passaram-se alguns meses neste impasse,
Os papéis do divórcio em andamento,
Parecia estar mais perto o seu novo enlace,
Mas queria com Joana ter bom entendimento.

Havia um filho, fruto daquela união,
Que gostaria que os pais se entendessem,
Já era desgostoso viver com a separação,
Pior seria se mãe e pai se indispusessem.

Paula Costa - 05.12.2008...(continua....)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 13


Permaneceu no hospital mais 1 semana,
E só tinha a visita dos seus familiares,
Falava bem ao filho mas ignorava Joana,
Dirigindo-se a ela em assuntos peculiares.

Quando o filho não estava presente,
Fez ver à esposa as suas intenções,
O que já tinha dito era ponto assente,
Ela que arranjasse novas soluções.

Joana ouvia-o e só conseguia chorar,
Depois do acidente piorou a situação,
Teria que ter força e a sua vida mudar,
Não havia clima para uma reconciliação.

Com Laura só falava ao telemóvel,
Prometendo poder vê-la brevemente,
Sentia-se melhor e menos imóvel,
Tendo alta só a queria ver na frente.

Avisou os seus pais da sua decisão,
Ficaram tristes mas compreenderam,
Amavam-no e estenderam-lhe a mão,
E o regresso ao seu lar lhe propuseram.

Rapidamente voltou a casa recuperado,
Mas com algumas restrições do hospital,
Trabalhar e sair de casa não era adequado,
Poderia ainda ter náuseas e sentir-se mal.

Paula Costa - 04.12.2008...(continua....)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 12


Nessa noite Laura mal conseguiu dormir,
Gonçalo não saía do seu pensamento,
Um amor assim ninguém podia destruir,
Teria de acabar logo com este sofrimento.

Cedo ligou à senhora que a ajudou,
Quis saber de alguma novidade,
Depressa muito bem disposta ficou,
Sabendo que acabou aquela fatalidade.

Pediu novamente para o visitar,
Queria muito vê-lo acordado,
Só depois é que poderia avaliar,
O que na verdade se tinha passado.

Teve novamente consentimento,
Mas não podia deixar ser sempre,
Compreendeu sua dor e sofrimento,
Permitindo-a de ir ver o doente.

Quando Gonçalo a viu na sua frente,
Seus olhos brilharam de emoção,
Um abraço entre eles era urgente,
Comovidos depois de toda a aflição.

Laura ficou ao corrente do incidente,
Sentindo-se meia culpada do sucedido,
E do futuro ficou ainda mais temente,
Com receio que Joana mate o marido.

Avisou que ao hospital não podia voltar,
Porque as visitas não lhe eram concedidas,
Se o seu estado não se viesse a agravar,
Logo seriam curadas todas as feridas.

Paula Costa - 27.11.2008...(continua....)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 11


Voltou ao hospital depois das sete,
Passou por enfermeira de bata branca,
Tinha a indicação do quarto num bilhete,
Mas sentia-se como uma saltimbanca.

Conseguiu finalmente ver o seu amor,
Chorou imenso ao vê-lo inanimado,
Estava muito pálido e quase sem cor,
Queria tanto que estivesse acordado.

Pegou na sua mão para lhe dar calor,
Impressionava-a estar todo entubado,
Falava-lhe ao ouvido palavras de amor,
E custava-lhe deixá-lo ali abandonado.

Permaneceu junto dele até poder,
Não se cansava de o acariciar,
Mas o tempo passava a correr,
Teria de ir embora sem ele acordar.

De repente sentiu-o mexer a mão,
Quando na sua houve uma pressão,
Era um sinal de que ouviu sua oração,
E a deixou com esperança no coração.

Foi logo avisar o médico de serviço,
Que satisfeito verificou as melhoras,
Disse-lhe que ela quebrou o feitiço,
Agora era esperar as próximas horas.

Não podia permanecer mais tempo,
Beijou-o apaixonada e foi embora,
Esperançosa por este acontecimento,
E animada por esta grande melhora.

Paula Costa - 24.11.2008...(continua....)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 10


Dirigiu-se ao hospital da sua zona,
Porque era o único que por lá havia,
Com ar sofredor e meia chorona,
Deu o nome dele para ver se existia.

Informaram-na que estava lá internado,
E que o seu estado era muito complicado,
Em coma profundo era o seu estado,
E ao acordar poderia ficar incapacitado.

Quis saber se o poderia visitar,
Mas as visitas eram só para a família,
A uma funcionária tentou implorar,
Uma escapadela rápida nesse dia.

A senhora viu o seu ar preocupado,
Disse-lhe para voltar depois das visitas,
Que a fazia passar por outro lado,
Como enfermeira que leva as marmitas.

Laura agradeceu imenso a simpatia,
E comoveu-se com tanta gratidão,
Quis retribuir com uma certa quantia,
Mas foi-lhe logo negada essa doação.

Foi embora era quase hora de almoço,
Sua cabeça estava a mil e meia confusa,
Esperava que não houvesse alvoroço,
E não viesse a ser tida como intrusa.

Paula Costa - 20.11.2008...(continua....)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 9


Joana ficou em pânico e muito aflita,
Seu filho entrou no quarto assustado,
Viu o pai esvair-se em sangue e grita,
-Acudam que meu pai está desmaiado.

Ligaram ao 115 e foi para o hospital,
Diagnosticando-lhe uma grave fractura,
Gonçalo encontrava-se mesmo mal,
Um coma profundo era realidade pura.

Joana teve de prestar declarações,
E justificou-se com auto-defesa,
Mostrou o pescoço com escoriações,
O marido a queria matar de certeza.

Ficou ilibada de qualquer culpa,
Mas martirizava-se do mal do marido,
Chorava e dizia que não tinha desculpa,
Não devia tê-lo agredido e ferido.

Passava os dias no hospital com o filho,
À espera que acordasse ou dum sinal,
Sua vida deixou de ter qualquer brilho,
E nunca mais sua relação seria igual.

Laura não sabia de nada deste drama,
Nem uma única notícia de seu amado,
Estranhava a ausência de quem ama,
Encontrava sempre o telemóvel desligado.

Decidiu rondar sua casa a ver se o via,
Mas só conseguiu avistar a família,
Mais preocupada ficou ao fim do dia,
Porque não entrou nesse tempo de vigília.

Sabia onde trabalhava, era Guarda-Fiscal,
No dia seguinte foi pedir uma informação,
Foi quando soube que estava no hospital,
Deixando-lhe um grande aperto no coração.

Paula Costa - 18.11.2008...(continua....)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 8


Finalmente chegou o dia decisivo,
Gonçalo chamou Joana para conversar,
Falou calmamente e sem ser agressivo,
Para não a assustar e nem enervar.

Estranhou o marido mas já calculava,
Sabia que um dia o poderia perder,
Para Gonçalo, era uma simples escrava,
E como mulher só o fazia aborrecer.

Começou por falar da monotonia,
Já não mantinham uma relação feliz,
Não havia entusiasmo, nem euforia,
Continuar juntos, seriam uns imbecis.

Não era o fim do mundo por terminar,
Eram ainda jovens para refazer a vida,
O primeiro impacto iria magoar,
Mas o tempo curaria essa ferida.

Joana ouviu-o mantendo-se calada,
Sabia que ia acontecer mas não acreditava,
Com esta realidade sentiu uma alfinetada,
E subitamente ficou bastante brava.

Começaram a agredir-se verbalmente,
Já não era uma conversa amena,
Insultavam-se indecentemente,
Pareciam dois touros numa arena.

Joana começou a ter medo de Gonçalo,
Mas disse que não haveria separação!
Encrespou-se para ela como um galo,
Suas mãos ao pescoço, foi a reacção!

Ela esbracejou tentando se soltar,
À cómoda do quarto ficou encostada,
De costas tentou com as mãos achar,
Algo duro para lhe dar uma paulada.

Uma boneca de porcelana foi a arma,
Bateu-lhe com força, violentamente,
Gonçalo caiu inanimado sobre a cama,
Com a cabeça a sangrar do incidente.

Paula Costa - 12.11.2008...(continua....)

domingo, 9 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 7


Laura sabia de tudo o que se passava,
Falava muitas vezes com seu amado,
Também ela com esta situação andava,
Com um nervoso miudinho instalado.

Tinha receio da reacção de Joana,
Que pudesse colocar algum entrave,
Punha-se no lugar dela, era humana,
E previa sempre tudo muito grave.

Passava as noites meia acordada,
O pensamento cheio de remorsos,
Sentia culpa e a consciência pesada,
Seria compensador tantos esforços?

Por vezes pensava retroceder,
Um casamento podia terminar,
Mas amava tanto aquele ser,
Que ficar sem ele não ia aguentar.

Decidiu esperar sem interferir,
Para que não sentisse tanta culpa,
O destino se encarregaria de agir,
Para no futuro não pagar multa.

Paula Costa - 09.11.2008...(continua....)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 6


Gonçalo começou a andar nervoso,
Não sabia como enfrentar sua mulher,
Toda esta situação o deixava ansioso,
Teria de ser forte e conseguir resolver.

O seu filho Tiago começou por alertar,
Que seus pais andavam insatisfeitos,
Se não se davam o melhor era separar,
Do que andar toda a vida a pôr defeitos.

Mas acontecendo nunca será esquecido,
Porque foi sempre desejado e adorado,
Para seu pai será sempre muito querido,
Mesmo longe irá ser sempre bem amado.

Nunca lhe deixará faltar necessidades,
Qualquer coisa vai ser um pai presente,
Sempre dentro das suas possibilidades,
Só falhará se sofrer algum acidente.

Tiago com 13 anos já compreendia,
Embora com uma certa tristeza,
Queria ter mais a sua companhia,
Mas era melhor, disso tinha a certeza.

Já tinha desconfiado imensas vezes,
As discussões já eram em todo o lado,
E se arrastavam há alguns meses,
Que o deixavam deveras incomodado.

Pediu ao filho para sua mãe ajudar,
Iria ser uma batalha bastante difícil,
Um casamento de 15 anos iria terminar,
Quando desse a notícia seria um míssil.

Sua mãe não deveria aceitar inicialmente,
Tentaria demove-lo de todas as maneiras,
Mas uma solução para ambos era urgente,
Não podiam continuar a cometer asneiras.

Decidiu esperar o próximo fim-de-semana,
Conversariam com mais calma e com tempo,
Se corresse para o torto apoiaria Joana,
Neste período inicial seria um tormento.


Paula Costa - 06.11.2008 ... (Continua....)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 5


Laura por momentos deixou-se envolver,
Mas sua consciência logo a veio alertar,
Há tanta coisa a ponderar antes do prazer,
Seria melhor ir com calma para não errar.

Gonçalo foi muito compreensivo,
Não forçou e encheu-a mais de carinho,
Dado que era seu grande objectivo,
Ambos seguirem pelo mesmo caminho.

Teria de resolver primeiro a sua situação,
Não queria ser apanhado em contra fé,
Conversar amigavelmente e sem agressão,
Para que cada um siga a vida pelo seu pé.

Estiveram juntos até antes do jantar,
Acharam por bem o encontro terminar,
Para que a esposa não viesse a perguntar,
Porque tinha chegado tarde sem avisar.

Ficaram muitas promessas no ar,
E Laura incutiu-lhe muita coragem,
Despediram-se até data a combinar,
Talvez com mais novidades na bagagem.

Paula Costa - 05.11.2008 ... (Continua...)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 4


No dia seguinte Gonçalo quis se produzir,
Queria causar muito boa impressão,
Um futuro melhor queria construir,
E Laura estava presente no seu coração.

Foi trabalhar de manhã com a cabeça na lua,
Às 13 horas queria estar no local marcado,
Para a tarde arranjou quem o substitua,
Depois do almoço seria como um dia feriado.


Chegaram praticamente ao mesmo tempo,
Ambos pareciam ansiar por aquele almoço,
Chegaram antes, não houvesse contratempo,
Mais vale chegar cedo e não haver alvoroço.

Laura apareceu deveras fascinante,
Gonçalo ficou ainda mais apaixonado,
Juntos faziam um casal brilhante,
A quem deitavam um olho arregalado.

Foram almoçar com animosidade,
E combinaram a seguir ir passear,
Havia muita coisa que era novidade,
Que queriam saber e desvendar.

Laura notou o interesse de Gonçalo,
Mas o ser casado colocava-lhe travão,
Gostava dele mas seria um abalo,
Se viessem a saber dessa situação.

Gonçalo disse que não era feliz,
Um filho não resolve uma união,
Podia sempre vê-lo, é sua raiz,
Mas o divórcio era a solução.

Se ela estivesse disposta a arriscar,
Era nítido que se entendiam bem,
Experimentavam uns tempos namorar,
E mais tarde podiam ir mais além.

À praia decidiram ir passear,
Caminharam no passadiço de madeira,
Deram as mãos e foram a conversar,
Horas a fio e sempre na brincadeira.

Sentaram-se na areia a dada altura,
Olharam-se seriamente e com ternura,
Suas bocas colaram-se com doçura,
Era o primeiro passo daquela loucura.


Paula Costa - 28.10.2008...(continua...)

domingo, 26 de outubro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 3


Ao chegar a casa teve discussão,
Já era de prever dada a hora tardia,
Disfarçou inventando uma situação,
Que seu carro tivera uma anomalia.

A esposa ficou muito desconfiada,
Já não acreditava no seu marido,
O que a deixava mais indignada,
Era o seu ar de comprometido.

Chorou baixinho desesperada,
Seu casamento não tinha remédio,
A separação parecia esperada,
Até quando aguentaria esse tédio?

Sabia que seu filho é que o prendia,
E era nele que tentava se segurar,
Andava a ver se um milagre surgia,
Mas sem esperança de o voltar a amar.

Já não tinha soluções para o agradar,
Pois nem ela já sentia essa vontade,
A monotonia acabou por degradar,
O amor inicial e até a sua amizade.

Teria de esperar por melhores dias,
Quem sabe as coisas podiam mudar,
Já nada lhe trazia grandes alegrias,
Mas queria ter esperança e sonhar.

Há meses que já não se tocavam,
Ainda dormiam juntos por imposição,
Estava certo que já não se amavam,
Um dia terminaria esta situação.

Não faziam programas aos pares,
Tentando não demonstrar a ninguém,
Nem ao filho, nem aos seus familiares,
É assim que o casamento ainda se mantém.

Paula Costa - 26.10.2008...(continua....)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 2


Laura também se surpreendeu,
Não esperava voltar a ver Gonçalo,
Tinha-o perdido na altura do liceu,
Mas nunca o esqueceu nesse intervalo.

Houve um abraço cheio de sentimento,
Nos seus olhares cintilava satisfação,
A saudade sentiu-se nesse momento,
E o reencontro foi cheio de emoção.

Sentaram-se à mesa de um bar,
Quiseram saber tudo de suas vidas,
Com curiosidade não paravam de falar,
Reviveram muitas cenas esquecidas.

Quando Laura soube que era casado,
Baixou a cabeça e seu olhar entristeceu,
Mas passado tantos anos era esperado,
Também ela já foi mas o marido morreu.

Os números de telefone foram anotados,
Não queriam se perder novamente,
E um novo encontro foi agendado,
Num local calmo e com menos gente.

As horas naquela noite pareciam voar,
Gonçalo não queria exceder o tempo,
Em casa teria sermão ao demorar,
E exigidas explicações pelo passatempo.

Daquela noite tiveram de se despedir,
Embora a vontade não fosse nenhuma,
Mas outra oportunidade estava p’ra vir,
No dia seguinte para almoçar há uma.

Paula Costa - 24.10.2008..........(continua...)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Conto 4 - "Um Conto Rimado" - Parte 1


Gonçalo é um grande sonhador,
Que já não se contenta com o que tem,
Sempre em busca do verdadeiro amor,
Percorre caminhos para se sentir bem.


Casado com Joana há cerca de 15 anos,
Construiu um lar e tiveram um filho,
Mas neste percurso também houve danos,
Pois tanta monotonia tinha de dar sarilho.

O afastamento tornou-se mais evidente,
Já era um viver sem grande entusiasmo,
Novas vivências estavam em sua mente,
Queria a todo o custo sair deste marasmo.

Só seu filho o prendia ao casamento,
Era a sua alegria naquele meio sem cor,
Mas não podia continuar em sofrimento,
Queria ter um futuro muito mais animador.

Começou aos poucos a sair com amigos,
E as discussões em casa aumentaram,
Refugiava-se então em outros abrigos,
Assim divertia-se e não o massacravam.

Numa dessas escapadelas de casa,
Encontrou uma amiga de longa data,
Que o entusiasmava e arrastou a asa,
Mas perdeu-lhe o rasto, sorte ingrata.

Mal a viu, seu coração bateu forte,
Foi de imediato ao seu encontro,
Nesse dia sentiu-se com muita sorte,
Como seria este novo reencontro?

Paula Costa - 23.10.2008 ...(continua...)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Conto 3 - "Traição" (na integra)

T r a i ç ã o

Parte 1

Falta uma semana para o casamento. Ultimam-se os preparativos para a boda: número de convidados, restaurante e ementas, decoração e outros extras habituais numa festa desta envergadura.
Manuel anda com a cabeça na lua no seu trabalho. É motorista de uma empresa de camionagem e todos os dias transporta imensa gente na linha que lhe foi atribuída. Já não ouve ninguém, só pensa naquele dia importante que se aproxima e comete alguns descuidos na condução, mas nada de muito grave até agora. Uns pedidos de desculpa, um sorriso e lá segue o seu caminho feliz da vida. Em mente só consegue ter a sua linda e futura esposa vestida de noiva a esperá-lo no altar, a sua Gabriela.
Manuel tem um porte interessante, é bastante alto, 1,90m de altura e muito bem constituído fisicamente. Moreno e duma simpatia para com toda a gente que o faz ainda mais bonito. Sempre atencioso com os seus passageiros, faz com que a maioria deseje ser por ele transportado, pois é sempre uma alegria aquele trajecto.
Dada a sua simpatia e fisionomia, é bastante cortejado pelas mulheres que entram naquele autocarro, mas não tem olhos para mais ninguém além da sua Gabriela, que ama de paixão e com quem vai casar.
A sua noiva também não lhe fica atrás, parece uma modelo. Tem os olhos muito azuis e os cabelos loiros bem longos com uma ligeira ondulação - uma bela combinação que a fazem linda demais. Mas além de bonita é muito simples, teve poucos estudos e por isso não teve oportunidade de singrar numa boa profissão. É balconista numa loja de moda da sua aldeia, lidando com o público em geral e logicamente muito assediada pela classe masculina.
Manuel conheceu a sua namorada na escola, quando ambos entraram para o 7º ano de escolaridade. Moravam muito perto um do outro numa localidade do interior e ainda pouco avançada em relação às grandes cidades. Logo começaram a fazer o trajecto de casa para a escola juntos. Dado isto, não passou muito tempo para que iniciassem o seu namoro. Cedo largaram os estudos para começaram a trabalhar porque suas famílias tinham poucas posses.
Juntos compraram um apartamento com três quartos, não muito longe da zona que residiam, recorrendo ao crédito bancário para o efeito. Sonhavam em ter 3 filhos, naquele período em que namoravam. Suas mentalidades eram ainda do tempo em que tinham que se resguardar até ao casamento para que houvesse certas intimidades que hoje já são pouco usuais e ninguém chega virgem ao casamento. Embora Manuel tentasse muitas vezes ir mais além, Gabriela declinava sempre e pedia para que esperasse, queria que fosse tudo como sonhou – dizia ela.

Parte 2

Terminado o expediente de trabalho, Manuel regressou a casa e, para surpresa sua, tinha à sua espera o futuro cunhado, portanto irmão de Gabriela. Como não era costume vê-lo àquela hora e ainda por cima em sua casa sem avisar começou a achar muito estranho deixando-o logo preocupado e perguntou de rajada se tinha acontecido alguma coisa de anormal com a sua noiva.
- Que se passa Jorge? Porque me esperas a esta hora e ainda por cima com essa cara de caso? A Gabriela está bem?
- Sim está bem, mas vim aqui para falar de uma coisa muito chata, não sei como hei-de começar mas nem eu e nem meus pais ficava-mos bem se não te informasse do que se está a passar…
- Diz logo, estás a deixar-me muito preocupado, é assim tão grave? A tua cara diz-me que vem aí bomba.
- É mesmo isso, uma bomba! Sempre fomos amigos e as nossas famílias uniram-se muito depois que tu e minha irmã começaram a namorar e marcaram o casamento, mas não podemos deixar passar em branco o que se passa neste momento.
Manuel começou a ficar nervoso e já transpirava por todos os lados, começava a imaginar o que seria de tão grave mas nada lhe vinha à ideia – sabia é que não era boa coisa.
- Fala duma vez homem, não me deixes assim! – disse Manuel irritado.
- Ok Manel, a minha irmã confessou-nos uma coisa esta semana que não podemos deixar impune. Ela está muito arrependida, confessou porque não aguentou a culpa e só anda aos prantos pela casa toda. De tanto pressionada que foi pela minha mãe, que lhe perguntava o porquê daquelas lágrimas, decidiu desabafar dizendo-lhe que estava grávida de outro sujeito.
A fisionomia de Manuel transfigurou-se, ficou branco como a cal e não queria acreditar no que estava a ouvir, a sua Gabriela que tanto amava e se dizia também tão apaixonada, tinha-o traído duma maneira que nunca esperaria. Ela que se dizia pura e que queria chegar virgem ao casamento, evitando-o sempre a todo custo, mesmo depois de algumas investidas, andava a pavonear-se com outro nas suas costas. Só não esperava que o azar lhe batesse à porta a uma semana do casamento. A culpa e o medo de ser descoberta foi mais forte e a fez confessar à família.
- Não posso acreditar Jorge, isso é mesmo verdade? A tua irmã que nunca queria que lhe tocasse? Eu respeitei-a sempre e ela faz-me isto? – e deitou as mãos à cabeça, já com as lágrimas nos olhos – E agora? Eu não caso com ela assim, desculpa-me tu e os teus pais, toda a família, mas não sou capaz, ela apunhalou-me pelas costas, foi uma leviana como nunca supus.
- Calma Manel, compreendo mas estás a receber a notícia agora a quente, pensa direito, fala com os teus pais e depois fala com ela, vocês têm de entender-se. Falta uma semana e olha o escândalo que vai ser na aldeia.
- Eu não quero saber! - disse cheio de raiva – Com ela eu não caso! – e deu um pontapé violento numa cadeira que foi ter ao outro lado da sala.
Jorge tentou acalmá-lo, colocando-lhe o braço por cima dos ombros, tentou dar-lhe apoio e que pensasse bem, nada como uma boa conversa para lhe clarificar as ideias.
- Manel, não sei que te diga mais, acho que deves ficar sozinho, pensar muito bem, falares com as pessoas certas para te aconselharem, mas não deves tomar decisões assim tão repentinas, tenta primeiro acalmar-te.
- Quem é o fulano que a engravidou? – perguntou de seguida – Eu conheço?
- Ela não quis contar Manel, só disse à minha mãe que ia muito à loja onde trabalha e não tem a certeza se é casado, por isso não quis divulgar o nome para não haver ainda mais escândalo.
- Vagabunda! A tua irmã não presta, fui muito cego Jorge, mato-me a trabalhar até tarde quando ela saía mais cedo e sabendo os caminhos por onde eu andava, ficava à vontade para se meter na cama com outro. É uma vagabunda!
- Calma, já te disse, a carne é fraca e tu, como homem, sabes como é fácil seduzir uma mulher se tivermos uma boa lábia. A Gabriela é muito bonita, tu sabes, e caiu na teia de um que a soube levar, mesmo não querendo. Fala com ela, perdoa-a por favor!
- Não, nunca! Deixa-me agora sozinho, tenho de pensar e ver como vou acabar com toda esta palhaçada – disse com ódio no olhar.
Jorge foi-se embora entristecido por não conseguir dar aquela notícia sem fazer muitos estragos mas estava visto que as coisas se afiguravam muito feias.

Parte 3

Manuel permaneceu no quarto e fechou-se por dentro inconformado com o que se estava a passar, chorando copiosamente sem saber o que fazer. Tinha de ganhar coragem para contar a situação aos seus pais e de seguida a toda a gente, que vergonha! Sentia-se sem forças para enfrentar o mundo e tudo lhe vinha à cabeça, até acabar com a própria vida.
Deitado na cama, lembrava o passado a girar em volta de si, todas as pessoas que o cercavam e de seguida antevia as reacções quando soubessem do sucedido. Não se sentia capaz de enfrentar tal situação, estava de rastos. Queria desaparecer, que fazer?
Começou a basculhar as gavetas em busca de algo que o fizesse amenizar o seu sofrimento. Sabia que tinha uma arma algures no quarto e não parou até encontrá-la. Estava descarregada e sabia que seu pai tinha munições no quarto, mas não conseguia sair dali, tinha receio de ser visto assim transfigurado na frente da família. Continuou a procurar e encontrou uma gaveta cheia de medicamentos, que usava de vez em quando, e pegou numa caixa cheia de anti-depressivos. Retirou todos os comprimidos da embalagem preparando-se para os tomar todos juntos e assim acabar de vez com tudo. Foi interrompido por sua mãe a tentar entrar no quarto que estava fechado à chave e começou a bater à porta.
- Manuel, porque tens a porta a fechada? Que se passa? Abre por favor filho! Está na hora do jantar.
- Deixa-me mãe, preciso estar sozinho, não me apetece comer nada! – disse com uma voz de choro que deixou a mãe preocupada e que a fez não desistir de bater.
- Que tens? Abre já a porta, tu não estás bem, deixa-me ajudar-te Manuel!
Colocou repentinamente todos os comprimidos soltos dentro da gaveta e decidiu abrir a porta com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara.
A mãe ficou aflita ao vê-lo naquela figura e cheia de preocupação quis saber o motivo daquele pranto.
Manuel começou a contar, no meio de soluços e lamentos, as suas intenções de desaparecer de vez. Tinha vergonha de ser visto na aldeia depois daquela desgraça. Todos o iam apontar como corno, que foi enganado pela namorada.
A mãe tentou acalmá-lo, também ela chocada com o que a sua futura nora tinha feito. Concordava em que não deveria casar com ela grávida, mas tinham de ponderar bem as coisas, estava tudo tratado para o casamento e não paravam de chegar presentes. Teriam de ser devolvidos e explicarem o sucedido. Naquela aldeia do interior iria ser um grande escândalo.
Mãe e filho choravam abraçados.
Dada a demora para o jantar o pai também apareceu no quarto, deparando-se com os dois naquela situação.
- Não se janta hoje? Que foi que aconteceu para estarem os dois a chorar? – disse Joaquim preocupado.
Foi então colocado ao corrente dos acontecimentos, concordando com o filho que o melhor era não casar, mas a decisão seria dele.
Os pais deram-lhe toda a força e aconselharam-no para que não fizesse asneiras. O tempo ajudaria a curar todas as feridas e depressa ultrapassaria aquela má situação e quem sabe encontrar outra pessoa que o merecesse.
Teriam rapidamente de achar uma solução para aquele problema dado o aproximar da data do casamento e o dia seguinte seria o ideal. Haveria ou não casamento?
Já ninguém jantou naquela casa e recolheram-se cada qual aos seus aposentos. Provavelmente nem pregariam olho toda a noite.

Parte 4

No dia seguinte, Gabriela e seus pais apareceram cedo em casa de Manuel. Ela com os olhos vermelhíssimos, demonstrava bem o quanto deve ter chorado a noite inteira por causa da situação de que era causadora.
Notava-se um certo nervosismo em enfrentar o noivo, estava apavorada com receio da sua reacção quando a visse na frente, mas tinha de o fazer, o seu casamento estava em jogo.
Quem abriu a porta foi a mãe de Manuel e também ela apresentava umas olheiras que não escondiam de como foi passada a noite – em claro naturalmente.
- Bom dia D. Ana, queremos pedir desculpa pela invasão a esta hora, mas todos sabemos que é preciso achar uma solução para o problema que a minha filha arranjou – disse meia constrangida a mãe de Gabriela – podemos entrar e conversar? Pode chamar o seu filho?
- Ai que situação que tu nos arranjaste filha – disse D. Ana virando-se para a sua futura nora – nem sei como o Manuel te vai receber, ele ontem estava muito revoltado e ainda nem saiu do quarto. Entrem e esperam na sala que eu vou chamá-lo, vamos ver no que isto vai dar, mas as coisas não estão nada boas, Deus nos ajude!
Gabriela recomeçou a chorar depois daquelas palavras e o medo apoderou-se ainda mais de si.
D. Ana dirigiu-se ao quarto do filho para o chamar mas este já a esperava. Sem ter conseguido dormir, estava acordado quando ouviu o toque da campainha e escutou toda a conversa inicial de sua mãe com a sua noiva e família.
- Filho, como estás? Pela tua cara já vi que nem dormiste, mas nem eu consegui fazê-lo. Ouviste de certeza quem chegou, tens de vir à sala, é preciso resolver as coisas!
- Eu não tenho coragem de olhar para aquela vagabunda, tenho receio de lhe deitar as mãos à cara – disse cheio de raiva.
- Calma, não é com violência que se resolvem as coisas, ainda sais prejudicado desta história. Não queres ir preso por agressão pois não? Depois és tu que ficas mal visto no meio disto tudo. Tens a certeza que não podes perdoar este erro da Gabriela? Tu amas aquela rapariga e eu sei que ela também gosta de ti, foi um descuido de certeza filho…
- Não perdoo mãe! Nunca lhe conseguirei tocar depois disto! Ela nunca deixou pôr-lhe a mão, vem outro gabiru e ela vai para a cama com ele ficando grávida? Nunca mais! Nem sabe o que me custa ir falar com ela agora, mas é preciso, espero ter calma para o fazer e não me atirar a ela.
Arranjou-se, lavou o rosto e tentou disfarçar ao máximo o seu mau aspecto, depois daquela noite mal dormida. Ainda demorou um pouco para tentar estudar como enfrentaria aquela família, o que dizer e o que achava mais acertado.
Já mais decidido, saiu do quarto e dirigiu-se à sala, deparando-se com todos aqueles rostos envergonhados. Gabriela de cabeça baixa, não parava de choramingar e não conseguia olhá-lo nos olhos.
Cumprimentou num tom rude, magoado e com olhar castigador. Foi correspondido pela família e quem começou por falar foi a mãe da noiva.
- Temos como conversar Manuel, a Gabriela fez esta asneira, quer pedir-te desculpa e tentar remediar da melhor forma este grande problema.
- Por mim as coisas já estão resolvidas, não há casamento e pronto! Agora tratem de anular tudo! – disse Manuel enraivecido – da minha família tratamos nós e vocês tratem com a vossa.
Ao ouvir aquilo, Gabriela não aguentou e tentou abraçar-se a ele a pedir perdão.
- Não faças isso, perdoa-me Manuel, eu amo-te! Não consigo viver sem ti! Fui enganada e quase violada, eu não queria, acredita! Se quiseres eu faço um aborto e escondemos isto das gentes da aldeia mas não me deixes, por favor!
- Larga-me! – e afastou-a repentinamente – Nunca te perdoarei e não acredito numa palavra tua. Se foste violada porque não fizeste queixa à polícia, porque não me contaste antes e encobriste? És mentirosa por que nem o nome do sacana queres dizer, não lhe queres estragar a vidinha porque se calhar é casado? Sai duma vez por todas da minha vida, nunca mais te quero ver na frente!
Os pais de ambos assistiam aquela discussão e tentavam manter a calma entre os dois mas chegaram ao final sem que houvesse entendimento. O casamento estava cancelado de vez, agora teriam de tratar de esclarecer a situação a todos os convidados da melhor maneira, para que não houvesse tanto escândalo, mas era inevitável.
Manuel pediu para que deixassem de vez aquela casa e não queria mais qualquer tipo de contacto com eles, desaparecendo repentinamente da sala.
Não havia volta a dar, o casamento estava desfeito, era preciso tratar de anular tudo e avisar todos os convidados.

Parte 5

A notícia correu rápido pela aldeia, sendo um meio muito pequeno, logo se fica a saber tudo o que se passa. Só se ouvia cochichar que já não havia casamento do Manuel com a Gabriela e andavam todos curiosos para saber o motivo. Rapidamente começaram a surtir boatos da razão daquele desenlace. Uns comentavam que ele devia ter tido algum arranjinho por fora e a noiva tinha descoberto, outros diziam o contrário, que no local onde Gabriela trabalhava era muito fácil ter caído de amores por algum rapazola que lá passasse, dado que a rapariga era muito bonita e bastante cortejada pela classe masculina.
As famílias envergonhadas pouco saíam de casa e não davam muitas informações a quem deles se aproximavam a tentar tirar nabos da púcara.
Manuel, depois daquele dia, nunca mais foi o mesmo, mal saía do quarto, não se alimentava e pediu baixa médica, não se sentia com forças para trabalhar. O seu aspecto degradava-se de dia para dia, passava o tempo a chorar e sempre com ideias maquiavélicas em acabar de vez com o seu sofrimento. Tinha emagrecido imenso e nem de si tratava, sempre com a barba por fazer, mal tomava banho e se não fosse sua mãe sempre a forçá-lo a fazer as coisas teria se deixado morrer naquela cama.
Os pais, sabendo das suas ideias suicidas, tinham tratado de fazer desaparecer tudo o que pudesse ser um arremesso às ideias do filho. Assim esconderam todos os medicamentos, armas e munições, fecharam os armários que continham facas à chave e andavam sempre atentos ao seu comportamento.
Passou-se um mês e Manuel continuava com este sofrimento, acabando por adoecer bastante. O médico foi chamado a casa e depois de o consultar chegou à conclusão que estava com uma anemia muito grave e tinha de ser hospitalizado. Os sintomas de fadiga, fraqueza, palidez, dificuldade de concentração, vertigens e tonturas, rapidamente o fizeram diagnosticar aquela doença e pediu de imediato que chamassem uma ambulância, dado que Manuel nem se aguentava de pé.
Foram dias complicados para se curar dado que Manuel pouco se dignava em colaborar e era submetido muitas vezes a soro e sedado para que não retirasse a agulha do braço.
O tempo que permaneceu naquele hospital, os companheiros de quarto e os médicos começaram a fazê-lo ver que a vida pode tomar outro rumo e ainda vir a ser muito feliz. Tinha apoio psicológico e depressa começou a melhorar a olhos vistos. A sua palidez começou a desaparecer, já tinha vontade de comer e também já tinha engordado um pouco. Nos últimos exames ao sangue obteve níveis bastante favoráveis e informaram-no que dentro de uma semana já poderia ter alta do hospital e fazer o resto da recuperação em casa, dado que a nível psicológico também estava mais restabelecido e as suas ideias no lugar.
Era um homem muito triste, em comparação com alegria que emanava anteriormente, mas com acompanhamento de pessoas adequadas poderia voltar ao que era dantes.
E assim foi, estava de regresso a casa de seus pais, teria de enfrentar a vida dali para a frente com animosidade.

Parte 6

Mal começou a percorrer a sua aldeia no regresso a casa, as recordações de Gabriela voltaram. Enquanto esteve no hospital conseguiu abstrair-se um pouco da sua vida, por ser um meio diferente de onde residia e também porque lidava com pessoas de outros locais. Tinha permanecido internado cerca de 6 meses e durante esse período o tema do casamento e tudo o que lhe dizia respeito, foi mantido em absoluto silêncio, não soube mais notícias da sua ex-noiva, se ainda estava grávida ou tinha abortado, se já se sabia quem era o pai da criança e se houve mais acontecimentos depois do seu afastamento.
Estava deveras curioso mas sem coragem em abordar o assunto com os seus pais, mas tinha de o fazer porque não conseguia deixar de pensar.
Sozinho no seu quarto, não resistiu e foi directo ao álbum de fotografias, tinha de saber o que sentiria ao rever as fotos daquela que o traiu. As lágrimas começaram a escorrer-lhe pelo rosto, como foi possível ter-lhe feito tão mal depois do amor que sentiam um pelo outro? Mas estava ciente que não a perdoava e o futuro teria de ser vivido noutra direcção, diferente do de Gabriela.
A mãe entrou no quarto quando estava com o álbum nas mãos e ficou preocupada vendo-lhe o rosto molhado. Ficou aflita e com medo de uma recaída do filho.
- Manuel, larga isso que te trás más recordações, esquece essa rapariga!
- Mãe já passou, não te preocupes que o teu filho vai recuperar. Mas queria saber, o que aconteceu com ela? Que se passou depois do meu internamento?
- Não queria nada tocar mais neste assunto mas já que insistes: Quando na aldeia se soube que Gabriela estava grávida foi um grande escândalo, foi aí que te deram toda a razão, porque muitos pensavam que a culpa era tua e que tinhas arranjado outra. A família dela mal saía à rua e andavam todos curiosos em saber quem era o pai da criança. Nunca ninguém soube quem era, mas passados 2 meses de ficares hospitalizado, foi colocado um cartaz na casa da família de Gabriela de “Vende-se!” e foram vistos a fazer a mudança. Não deram satisfações a ninguém e desapareceram da aldeia. Uns dizem que ela se deve ter juntado com o pai da criança, mas é tudo boatos, ninguém tem uma certeza. Acho que foi o melhor que aconteceu, assim não darás mais de caras com ela.
Manuel ouviu aquilo com admiração, não supunha que deixaria de ver de uma vez por todas a mulher que o fez sonhar em formar uma família feliz.
O seu coração ressentiu-se e parecia que tinha saudades mas ao mesmo tempo debatia-se porque não queria ter esse sentimento. Era uma mistura de ódio e amor. Achou que foi melhor que tivesse acontecido assim, esqueceria mais depressa estando longe do seu olhar.
A mãe viu a tristeza nos olhos do filho e pediu que se desfizesse de todas as recordações para não sofrer mais e ele achou por bem fazer isso mesmo.
- Tens razão mãe, estas fotos vão ser todas rasgadas e vai tudo para o caixote do lixo. Os presentes e lembranças colocarei tudo num saco para dares na igreja, é pecado deitar coisas boas fora. Não vai restar nada dela, só o meu pensamento não posso deitar no lixo mas um dia nem isso restará, deixarei de pensar nela, prometo-te mãe! – e começou violentamente a rasgar tudo em bocadinhos.
A mãe ajudou nessa tarefa e depressa ficou livre daquele peso, agora queria uma vida nova, recuperar a sua saúde e começar a trabalhar logo que possível naquilo que fazia e sempre gostou. Tinha saudades daquelas pequenas viagens e dos clientes que sempre o adoraram como motorista.

Parte 7

Depressa Manuel recuperou e recomeçou a trabalhar. Todos lhe davam as boas-vindas e estavam alegres pelo seu regresso, dado que a pessoa que o substituiu tinha mais idade e era de poucas palavras, parecia que andava sempre mal disposto. Manuel nunca mais foi aquela pessoa alegre de antes, mas todos compreendiam, pelo menos aqueles que souberam da sua história.
Depois de tudo voltar ao normal, Manuel não se sentia mais satisfeito com a vida que levava, faltava-lhe algo para poder tapar o buraco que parecia enfiado. Depois do trabalho não convivia com ninguém e mal saía de casa.
Começou a pensar em fazer alguma coisa para melhorar a sua vida e decidiu recomeçar a estudar à noite, matriculando-se no 11º ano que foi onde parou nos estudos. Aplicou-se a fundo e num ano lectivo conseguiu também fazer o 12º ano. Conviveu nesse período com novos colegas e muitas das alunas interessavam-se por ele mas nunca mais quis ter algo com alguém. Não se divertia e nunca aceitava os convites que lhe faziam, só pensava em estudar.
O exame final estava à porta e preparou-se com afinco, estudando a matéria sempre que lhe era possível, para poder tirar boas notas e ingressar na faculdade. Queria ter uma profissão mais digna e a vida de motorista já não lhe dizia quase nada. Estava na hora de mudar-se para uma grande cidade, deixar de vez a sua aldeia que não lhe dava futuro algum e as pessoas que ainda por lá habitavam eram já bastante idosas, os jovens desapareciam mal começavam a frequentar universidades e depois arranjavam empregos em cidades mais longes. Só voltavam de visita aos familiares e eram poucos os que ficavam a viver na aldeia depois de estudar fora.
Chegou a data do exame final e Manuel sentia-se preparado, teve sempre boas notas durante o ano lectivo e tinha a matéria na ponta da língua, mas estava muito nervoso, como é natural nestas alturas.
O exame foi bem complicado mas estava confiante que teria uma boa nota, só não sabia se a média final lhe dava para poder optar pela área de Medicina que era o que queria seguir.
Passaram alguns dias e finalmente saíram os resultados. Soube por um colega, que lhe telefonou, mas ainda não sabia a sua nota, saindo de casa apressado directamente à escola. Estavam montes de colegas na sua frente a fazer o mesmo e não podia chegar à pauta, esgueirando-se entre imensas cabeças para ver o seu nome, até que lá conseguiu e deu um pulo de alegria.
- Uauuu, tirei 17 valores! – e começou a abraçar os seus colegas que lhe davam os parabéns.
Ouviam-se gritos de felicidade de mais alunos e também alguns lamentos por parte de outros que não conseguiram passar ou tiveram uma nota menos boa que já não dava para ingressar numa área mais favorável na faculdade.
Com a nota que obteve, Manuel concorreu a várias universidades, colocando por ordem a que mais lhe convinha. Em 1º lugar escolheu a Universidade de Medicina do Porto, depois a de Coimbra e em terceiro a de Lisboa, que lhe ficava mais longe e as despesas seriam maiores, mas se tivesse que ser, iria estudar para lá.
Mais tarde, recebeu uma carta a dar-lhe a notícia que entrou na Universidade do Porto, deixando-o muito feliz. Não via a hora de começar este novo capítulo da sua vida.
Fez algumas viagens até ao Porto, que ficava a cerca de 90km da sua aldeia, alugou um quarto para permanecer durante a semana de estudo e também tratou de todas as burocracias, matrículas e papeladas para este propósito. Aos fins-de-semana regressaria a casa dos pais.
Por causa da sua entrada na faculdade, não poderia mais trabalhar como motorista e apresentou a demissão na Empresa de Transportes, com muita pena dos seus superiores que sempre lhes agradou os seus bons serviços.
Agora teria de viver das suas economias e da ajuda dos seus pais. Depois já no Porto tentaria arranjar um partime à noite para ajudar nas despesas.
Finalmente chegou o dia em que tinha que se afastar por mais tempo daquela aldeia e da família para começar os estudos na Faculdade. A mãe meia chorosa e já cheia de saudades do filho querido, não parava de se agarrar a Manuel, sempre com conselhos para que corresse tudo bem.
Deu um abraço aos pais e despediu-se até ao próximo fim-de-semana. Tinha de apanhar o comboio das 18h até ao Porto porque no dia seguinte, segunda-feira, começava logo cedo a sua primeira aula.
A partir daquele dia, a vida de Manuel teria um novo rumo.

Parte 8

A adaptação ao meio citadino foi bastante complicada para Manuel e mesmo com os colegas de faculdade a convivência inicial era mínima, depois das aulas metia-se em casa a estudar e mal se divertia nos tempos livres. Sempre habituado ao meio rural, estranhou os costumes e hábitos daqueles que já habitavam na cidade há muito tempo. A maneira de vestir, de falar e até mesmo na alimentação, era tudo diferente. Mas seria uma questão de tempo, teria de se moldar aquele novo ambiente se queria singrar na carreira que escolheu.
Passado aquele período menos bom de adaptação, Manuel começou a integrar-se melhor, acabou por fazer novas amizades entre os colegas de turma, embora fosse com dois deles que se juntava mais, dado também serem de fora da cidade, tanto para estudar como para deambular pela cidade do Porto, quando lhes era oportuno.
Para conhecerem melhor a cidade, visitaram nos seus tempos livres os locais históricos e também os sítios mais “in” onde a juventude parava para se divertir.
Rapidamente começou a desenvolver uma forma diferente de estar, de ser e de vestir. Era tudo novo para ele, na sua aldeia nunca saíra com amigos para apanhar uma carraspana e agora, em tempo de praxe, acabou por apanhar a primeira de caixão à cova que o fez conhecer outros prazeres da vida.
Quando acordou no dia seguinte, estava numa cama que não era a sua e de pouco se lembrava. Nunca se tinha sentido tão zonzo e mal disposto depois de na noite anterior ter bebido uma série de copos, quando se deixou arrastar pelos seus colegas, que para não ficar mal visto não quis recusar.
Além de percorrer alguns dos bares da zona da Ribeira, acabou finalmente por conhecer uma discoteca, levado pelo seu grupo divertido. Nunca tinha dançado e entrado num lugar assim.
Como já ia bem disposto das bebidas anteriores, nem parecia o mesmo, deixando-se agarrar pelas raparigas mais atrevidas que o levavam para dançar e correspondeu todo animado.
Da dança a outro tipo de envolvimento foi um ápice, dado que já não pensava por si sóbrio mas encharcado de álcool que lhe aturdia as ideias e o fazia deixar-se levar com uma descontracção tremenda.
Assim, foi apanhado na teia por uma das meninas mais animadas, que já antes se tinha interessado por ele, mas ainda não tinha tido sorte.
Agora ambos bem bebidos, conseguiram descontrair-se e agarrarem-se com um certo prazer, acabando a noite no quarto dessa colega de turma.
E foi nessa noite que Manuel perdeu a virgindade em muitas das coisas que ainda não tinha tido o prazer de viver.
Acordou meio desnorteado e uma certa vergonha de se ver na cama da sua amiga. Pareceu-lhe tudo um sonho, mas afinal tinha sido realidade.

Parte 9

Depois daquele dia Manuel não teve mais entraves no que respeita à sua sexualidade e ficou mais liberto na sua maneira de pensar, embora não quisesse nenhum compromisso sério com nenhuma rapariga depois do desgosto com a sua primeira namorada.
A vida académica ensinou-o a levar a vida com descontracção e a convivência com os seus colegas fez com que aprendesse a ser de outra forma.
Queria terminar o seu curso mas nas horas vagas também queria divertir-se sempre que pudesse e mulheres não lhe faltavam, dado a sua aparência física ser bastante boa e agora que sabia vestir-se melhor, era muito bem visto pela classe feminina, que o disputavam, mas nenhuma conseguiu até agora que Manuel a namorasse seriamente.
Passaram-se alguns meses e sentiu a necessidade de ter mais dinheiro, pois as despesas eram muitas e como deixou de trabalhar as suas economias já de pouco lhe valiam e não podia estar sempre a cargo dos seus pais. Então, como tinha pensado inicialmente, conseguiu arranjar um partime num bar e trabalhava à noite servindo às mesas, com o acordo do seu patrão de que quando fosse preciso faltar por causa dos exames teria sempre autorização.
Rapidamente se passaram 5 anos e Manuel conseguiu terminar o seu curso de Medicina com distinção. Foi-lhe atribuído um estágio no Hospital de S. João do Porto na área de Pediatria, que foi a especialidade que tinha escolhido, dado que sempre adorou lidar com crianças.
Agora já não necessitava de trabalhar à noite porque já obtinha um bom salário como Médico Pediatra.
Foi sempre muito bem sucedido em tudo e depressa se tornou um médico com valor e bastante solicitado por todos o que começaram a conhecê-lo e apreciavam o seu atendimento.
Com o passar do tempo comprou a sua própria casa, uma moradia, e as visitas à sua aldeia começaram a escassear, sendo mais os seus pais que o iam visitar ao Porto do que ao contrário. Tinha trocado de vez a aldeia pela cidade e fez o convite aos pais para se mudarem também para lá mas as raízes eram mais fortes e nunca o quiseram tendo recusado, quando lhes fosse oportuno visitar-se-iam mutuamente.
A vida corria-lhe às mil maravilhas e decidiu montar o seu próprio consultório, embora continuasse a dar consultas no hospital.
Depressa se tornou num homem muito distinto, a única coisa que nunca conseguiu remediar foi a sua vida amorosa, ficou-lhe marcada a sua primeira experiência, nunca conseguiu amar mais ninguém como aconteceu com a sua Gabriela e foi sempre muito desconfiado com todas as mulheres que por ele passavam.

Parte 10

De entre tantas crianças que atendia diariamente, havia um rapazinho de nome Tiago Manuel que simpatizava mais do que as outras e era sempre uma alegria todas as vezes que se deslocava ao seu consultório na companhia duma empregada de seus pais, para ser consultado.
Não sabia muito bem responder o porquê desta afinidade mas talvez fosse porque o fazia lembrar alguém e também por ter aquele nome. Recordava-se de quando namorava a sua Gabriela e falavam em ter filhos, de escolherem os nomes que colocariam aos seus e o de Tiago Manuel era um deles.
Tiago era um miúdo lindo, com uns caracóis muito loiros e uns olhitos azuis radiantes, sempre muito espevitado e cuidado.
Aquelas consultas eram um divertimento para ambos e demoravam sempre mais que as outras. Além de o consultar e ver se estava tudo bem, conversavam muito e Manuel queria sempre saber o que fazia na escola, a que gostava de brincar e todas as vezes que lá ia punham a conversa em dia. Tornaram-se verdadeiros amigos além da relação que mantinham de médico/paciente. Manuel via-o como o filho que sempre sonhou ter.
Na primeira vez que foi ao seu consultório foi levado pelo pai, sendo informado que nas próximas consultas o filho seria levado pela sua empregada, dado que ele e a mãe trabalhavam e não tinham muita disponibilidade para o levar nas horas que eram marcadas.
Manuel nunca soube o nome da mãe porque desde início o nome que figurou foi sempre o do pai quando fez a sua inscrição. Escolheu esse Pediatra dado ter ouvido falar muito bem por outros pais conhecidos que também levavam os filhos para aí serem consultados.
Na última consulta ao pequeno Tiago, foi informado pela empregada que o acompanhava, que os pais estavam em vias de separação e a casa onde moravam seria vendida, prevendo-se que o miúdo dali para a frente iria viver com a mãe, mas não sabia bem para que zona, porque ainda ia adquirir casa. Se mudasse para perto do consultório ainda poderia ser que a mãe continuasse a levá-lo ao mesmo pediatra, dado que ela ficaria só ao serviço do seu patrão. Caso contrário teria de mudar para outro que ficasse mais perto da sua residência ou área de trabalho. Também dependeria das economias da mãe, porque até agora o pai é quem pagava as despesas e tinha posses para isso, dado ser um grande empresário na área do mobiliário. A mãe era uma simples empregada de balcão e estas consultas poderiam manter-se se obtivesse uma boa pensão do ex-marido.
Tiago Manuel, embora com 6 aninhos, já o tinham feito ver que provavelmente deixaria de ir ter com o seu médico amigo e isto devido à separação dos seus pais. Via-se nele uma grande tristeza que antes nunca era pressentida, dada a sua traquinice e felicidade até aí vivida.
O miúdo no final dessa consulta deu um grande abraço a Manuel e meio choroso prometeu pedir muito à mãe que o continuasse a levar ao seu consultório, nem que fosse um pouco mais longe, mas queria ser sempre consultado pelo seu querido médico.
Manuel ficou muito triste com aquela situação e esperava não ter sido aquela a última vez que via aquele seu pequeno amigo de que tanto gostava.

Parte 11

Passaram-se meses e o pequeno Tiago nunca mais apareceu no seu consultório.
Manuel todos os dias, no final do expediente, pedia à sua secretária a listagem das marcações para verificar se figurava o nome do seu amigo, mas com muita pena sua, parece que tinha desistido de lá ir. Todas as pessoas que lhe eram mais importantes acabavam sempre por se ir embora. Parecia sina.
Por causa desta situação Manuel andou outro período bastante triste, nada o animava, só vivia para o trabalho e nisso era sempre bastante profissional.
A sua secretária já sabia que quando lhe pedia a lista das marcações era por causa do seu paciente Tiago e certo dia obteve um telefonema de sua mãe a marcar uma consulta. Dispôs-se a marcar logo no primeiro furo que tinham porque sabia que o Dr. Manuel sonhava há muito em encontrar de novo aquele miúdo que o animava demais. Mal terminou o telefonema, correu à sala de atendimento.
- Dr. Manuel, tenho uma surpresa para si! – disse sorrindo …
- Diga Maria, que se passa?
- Sabe quem acabou de marcar uma consulta?
- Não faço ideia, espero que a Maria me diga, é alguém especial?
- Tenho a certeza que é muito especial para si, é o pequeno Tiago Manuel.
- A sério? Já não acreditava mais em vê-lo, para quando marcou? – disse todo entusiasmado e com uma felicidade que já não se via há algum tempo.
- Tivemos uma desistência para amanhã às 15,30h e encaixei logo nesse horário, a mãe do pequeno aceitou e então ficou marcada. Parece que é mesmo a mãe que o traz desta vez.
- Óptimo, fez muito bem, até que enfim uma boa notícia, obrigada Maria.
A face de Manuel rejuvenesceu e notava-se já um sorriso há muito ausente. Como é que uma criança consegue transfigurar assim uma pessoa.
O dia custou a passar, estava muito impaciente e queria que o dia de amanhã chegasse rápido.
Quando saiu do trabalho, não resistiu em passar numa loja de brinquedos e comprar um carro telecomandado. Queria felicitar o seu amigo por voltar ao seu consultório. Sentia-se feliz de novo e desejoso de o rever.
Finalmente aproximava-se a hora da consulta e Manuel não parava de olhar para o relógio.
Muitas vezes não conseguia que as consultas marcadas fossem exactamente a essa hora mas nesse dia conseguiu acelerar para que não houvesse atrasos e que a do seu amigo fosse mesmo às 15,30h, os seguintes que esperassem mais um pouco, aquela consulta era especial para ele.
Mal saiu o paciente antes de Tiago Manuel, ligou para a extensão da sua secretária.
- Maria, já chegou o pequeno Tiago?
- Sim Sr. Doutor, já está na sala de espera com a sua mãe, posso mandar entrar?
- Claro que sim e se demorar mais um pouco já sabe porque foi, avise os próximos e invente qualquer desculpa, a Maria sabe sempre ser convincente – disse sorrindo.
- Esteja descansado doutor e boa consulta ao Tiaguinho, ele está lindo e já se fartou de perguntar por si, até já!
A secretária pediu à mãe e ao filho que entrassem, que o doutor já os esperava.
Tiago correu sem esperar pela mãe e nem bateu na porta, abrindo-a de rompante correndo para o colo de Manuel, abraçando-o com toda a força.
- Voltei, eu não disse que voltaria? – disse Tiago cheio de alegria.
- Eu sabia que te voltaria a ver mas já estava a perder a esperança, demoraste!
Estavam tão entretidos a felicitar-se um ao outro que a mãe do pequeno se encontrava parada na porta incrédula e observar aquela cena.
Quando Manuel se apercebeu que ainda não tinha visto a mãe de Tiago, olhou para a porta e simplesmente parou de espanto.

Parte 12

Não conseguia encontrar as palavras certas para pronunciar na frente do miúdo, pois quem estava na sua frente era a sua ex-namorada Gabriela. Nunca supôs voltar a encontrá-la e muito menos que seria a mãe daquela criança que tanto adorava.
Agora sim, conseguiu finalmente perceber quem era a pessoa que Tiago lhe fazia lembrar. As expressões, aquele olhar azul, o cabelo loiro encaracolado – era a cara da mãe. Como não conseguiu logo aperceber-se disso? Tinha apagado de vez aquela época que não queria sequer voltar a viver tais recordações.
Gabriela estava mais acabada e com um semblante triste. Mas a sua beleza era ainda bastante evidente. Talvez um pouco mais desleixada, mas nada que um belo trato a fizesse voltar a ser a mulher que conheceu.
No meio daquele silêncio que se fez quando ambos se olharam, o pequeno Tiago quebrou o gelo:
- Manuel, esta é a minha mãe, tive de lhe pedir muito para cá vir porque só tu me podias curar! – disse sorrindo com ar matreiro.
Tanto Gabriela como Manuel não queriam demonstrar nada que fizesse Tiago aperceber-se do que se tinha passado há alguns anos atrás, mas também não queriam mentir ao miúdo de que já se conheciam. Quem decidiu falar primeiro foi Gabriela.
- Bom dia Manuel, nunca imaginei que fosses o médico do meu filho e muito menos que te tivesses tornado médico, mas que grande surpresa – e virando-se para Tiago disse: - Filho, afinal a mãe e o Sr. Doutor já se conheciam há muitos anos, vivemos na mesma aldeia e fomos colegas de escola.
- Pois é, depois de saíres da aldeia já não podias saber mas decidi voltar a estudar e tirei o curso de Pediatria. É uma surpresa muito grande saber que Tiago é o teu filho, é a criança que eu mais adoro consultar e somos verdadeiros amigos – disse Manuel.
- Eu sei disso, ele não pára de falar de ti e sempre a pedir-me para cá vir. Até inventa doenças de propósito e diz que só tu o sabe tratar. Quando o levava a outro médico nunca via melhoras nele. Nós agora vivemos bastante afastados desta zona, desde que me separei do pai de Tiago – disse Gabriela um pouco timidamente, devido à relação que ambos tiveram e olhando nos olhos de Manuel, interpretando se havia algo no seu olhar que ainda lhe dissesse que a sua história lhe interessava.
- Lamento muito a vossa separação, os filhos é que sofrem com isso – disse meio encabulado e sem saber que mais pronunciar sem que Tiago percebesse que a sua mãe e ele já foram namorados e estiveram para casar – conheci o pai mas nunca supus que afinal já conhecia a mãe e fiquei muito triste quando soube que poderia não voltar a ver aqui o meu amiguinho.
De repente Tiago diz:
- Que bom que já se conheciam, agora já podemos sair todos juntos e o Manuel já pode ir comer a nossa casa não é mamã?
Gabriela ficou gelada com aquela reacção do filho e simplesmente abanou a cabeça a dizer que sim, completando:
- Sim filho, claro que pode mas moramos longe e não sei se o Manuel poderá ir porque tem muito trabalho, mas será um prazer – virou-se para Manuel sorrindo mas ao mesmo tempo com receio de obter uma recusa. Sabia que se portou muito mal no passado e provavelmente nunca seria perdoada.
Manuel não quis por enquanto contradizer Gabriela na frente do filho, teria tempo depois de pensar bem no assunto e estava ainda de cabeça quente com tais acontecimentos, decidiu responder:
- Terei de arranjar um tempinho querido, sabes que tenho muitos meninos como tu para atender. Mas prometo que irei ver-te a ti e à tua mãe e vamos fazer um grande jantar – disse fazendo-lhe carícias pela cabeça e mantendo-o no seu colo.
Vendo aquela cena Gabriela aproveitou, dado que não foi recusada e para que não caísse no esquecimento, pediu o numero de telefone a Manuel para mais tarde ligar a convidar a ir lá a casa jantar.
Manuel viu-se quase que na obrigação de o fornecer. Como é que aquele miúdo o podia fazer coisas que pensava nunca mais acontecer. Se não fosse ele, provavelmente não aceitaria qualquer convite vindo de Gabriela. Ao mesmo tempo algo o fazia palpitar com aquela aproximação. Seria por ela ou seria pelo filho?

Parte 13

Passou uma semana depois de se reverem.
Gabriela não quis ser precipitada e deixou passar uns dias mas estava ansiosa para fazer aquele convite prometido antes que fosse tarde.
O seu coração voltou a palpitar quando teve a surpresa de voltar a ver Manuel, o amor que nunca esqueceu, e que por uma asneira perdeu, fazendo-a desviar-se dele. Mas depois daquele encontro, decidiu que ainda poderia lutar para ser feliz, o que viveu anteriormente não podia ficar esquecido, se tivesse tacto e pudesse demonstrar o quanto ainda o amava, que foi o único homem que amou na vida, não poderia descurar agora de o fazer com todas as forças. Além disso o seu filho adorava Manuel, até nisso poderia ter ajuda. Parece que Deus não dorme nestas alturas e nos faz testes para ver como nos conseguimos desenvencilhar das barreiras que nos coloca na frente.
Gabriela decidiu nesse dia telefonar a Manuel. Treinou direitinho o que dizer para na altura não vir a gaguejar. Estava super nervosa mas tinha de ser, era aquilo que queria, o pior que podia acontecer era não ser correspondida, mas iria utilizar toda a sua sensualidade e fazer crer a Manuel que ainda lhe era muito importante e que o seu filho também não parava de falar nele, sempre a pedir para o convidar.
Eram 19,30h e achou aquela hora apropriada, pensando que Manuel já não estaria a trabalhar e talvez já estivesse em casa. Ligou para o número de telemóvel que lhe foi dado. Esperou pacientemente. Demorou a atender mas finalmente teve sucesso.
- Estou sim! – disse Manuel
- Boa tarde Manuel, fala a Gabriela, como tens passado?
Assim tão rapidamente Manuel não contava voltar a falar com ela e ficou meio calado com a surpresa e a medir as palavras para responder.
- Olá Gabriela, estou bem obrigado, não estava à espera de ouvir-te e desculpa o meu silêncio mas fiquei surpreso. Passa-se alguma coisa com o Tiaguinho?
- Não, ele está bem, mas desde aquele dia que estivemos no teu consultório e ficou prometido fazermos um jantar, que todos os dias me chateia para te convidar. Desculpa Manuel mas já não o posso ouvir e também será um prazer receber-te em minha casa. Adoraria convidar-te para jantar, amanhã ou depois, depende da tua disponibilidade. Mas por favor não digas que não, temos de conversar, eu sei que há muita coisa a dizer mas erros todos nós cometemos e se soubesses o quanto estou arrependida….
Manuel pensou rapidamente no que dizer e decidiu falar:
- Bem Gabriela, claro que não vou recusar, mais pelo pequeno Tiago, não conseguiria fazer-lhe essa desfeita, mas penso que temos muito que conversar antes de nos enfrentarmos de novo na frente do teu filho. Há coisas que temos de saber jogar e não cairmos em contradição na frente do miúdo, ele não sabe de nada do que se passou e não podemos ficar constrangidos com algo que surja na altura. Portanto seria melhor encontrarmo-nos um dia antes desse jantar e podermos combinar o que dizer e o que não dizer. O que achas?
- Acho muito bem, também era essa a minha opinião mas tive receio de te pedir. Eu saio do meu trabalho às 18,30h e a partir dessa hora poderás marcar uma hora e o local. Digo à minha mãe para ir buscar o meu filho ao infantário e estarei disponível.
- Combinado, por mim pode ser amanhã às 19h. Dá-te jeito na Avenida dos Aliados ou preferes outro local? Não sei onde moras mas eu tenho carro e poderei deslocar-me até lá.
- Pode ser, não me fica muito longe – disse Gabriela.
- Então está marcado, frente aos CTT à hora marcada. Depois vemos onde ir. Até amanhã!
- Até amanha Manuel e muito obrigada – e meio timidamente decidiu dizer – um beijo.
Manuel ainda pensou se responderia de igual modo mas simplesmente desligou o telemóvel. Não conseguiu dizer o que o seu coração mandava mas foi a sua cabeça quem venceu.

Parte 14

Ambos tentaram esmerar-se para aquele encontro. Gabriela fazia mais sentido porque queria conquistar novamente o seu antigo amor. Agora Manuel, que recusava a si mesmo qualquer tipo de relação com a sua ex-namorada, não conseguia perceber porque queria tanto dar nas vistas e sentir uma grande ansiedade para aquele encontro chegar depressa. Martirizava-se de pensar assim, dizia que não queria mas não tinha forças para lutar contra o seu coração.
Era época de verão, mês de Julho, e esse dia estava muito quente.
Gabriela decidiu usar um vestido bem leve de vários tons de azul e branco com alcinhas, cintado, um pouco acima do joelho. Completou com uma sandália com tirinhas brancas de salto alto e uma carteira pequena da mesma cor. Maquilhou-se em tons suaves a condizer com o que vestia. Estava uma linda senhora e pronta para conquistar Manuel, mas bastante nervosa e com medo de não conseguir limpar o seu passado.
Manuel olhou várias vezes para o seu guarda-roupa e experimentou algumas peças, indignando-se em perder tanto tempo, quando em dias normais escolhia rapidamente. Queria mostrar que se tinha tornado numa pessoa de bem com a vida depois do afastamento que tiveram. Aquele aldeão de antigamente já não tinha nada a ver com ele e agora era um doutor e muito bem conceituado. Decidiu vestir uma camisa rosa clara com umas listas brancas muito fininhas. A calça era em tom azul-escuro e o casaco, que completava o fato, decidiu levar na mão e ficaria no carro porque estava calor, mas à noite poderia ser preciso. Os sapatos que decidiu levar foram os que lhe ficou mais caro, pretos e de pele genuína.
Na hora marcada, Gabriela já se encontrava à espera quando apareceu Manuel no seu BMW preto e fez final para que entrasse. Gabriela ficou muito admirada com o carro em que apareceu, nunca pensou que tivesse subido tão rápido na vida.
- Boa tarde Manuel, tens um lindo carro! Posso entrar?
- Olá, claro que sim. Posso levar-te a um sítio para jantar e conversarmos à vontade ou tens pressa?
- Podes sim, avisei a minha mãe que iria me encontrar contigo e pela hora que marcamos poderia chegar mais tarde e até depois do jantar, portanto estou à vontade. Só terei depois de lhe telefonar para ver se está tudo bem com o meu filho.
- Então podemos ir jantar a Espinho, conheço lá um bom restaurante e com bom espaço onde poderemos conversar mais reservadamente e sem muitas orelhas a escutarem – a caminho.
Mantiveram-se quase calados nesse pequeno trajecto de cerca de 20 km. Nenhum quis puxar o assunto que ali os levavam e preferiram deixar para ser discutido na mesa de jantar. As poucas palavras que trocaram foram sobre o pequeno Tiago, coisas vãs que se falam, como o tempo, as férias, o trabalho, etc.
Entretanto chegaram ao local e deslocaram-se lado a lado para o restaurante.
Manuel quis impressionar e escolheu um restaurante de requinte. Gabriela estava sem palavras e pouco à vontade com aquele luxo.
Foram encaminhados para uma mesa ao fundo da sala e onde não havia quase ninguém nas mesas do lado.
Muito bem decorado, a meia-luz, as mesas redondas contendo uma jarrinha com uma rosa e uma vela num castiçal. As tolhas eram vermelhas e compridas com outra mais pequena por cima de tom bege.
Sentaram-se e foi-lhes entregue o menu para escolherem. Gabriela preferiu que Manuel escolhesse, dado já conhecer o restaurante.
A especialidade do restaurante era Cabritinho em forno a lenha e decidiu pedir, porque também sabia os gostos de Gabriela. Pediu também vinho tinto do Douro.
Enquanto esperavam pelo jantar, comeram algumas das entradas que lhe foram colocadas na mesa e começaram então a conversar sobre o que ali os levava.

Parte 15

Manuel, embora pouco à vontade, depois de tanto tempo, começou por falar.
- Desculpa Gabriela, não podia ir a tua casa jantar na frente do teu filho, depois do que aconteceu. Ele não sabe do nosso passado e portanto antes disso acontecer devemos combinar o que tem e não tem que saber, não podemos cair em contradições.
- Eu sei disso Manuel, mas queria é voltar a ver-te e o meu filho, nem imaginas as vezes que fala em ti. Pensei que se te propusesse um encontro antes, que provavelmente nem aceitarias. Estou feliz que o tenhas feito, também espero que depois de tanto tempo o teu coração tenha amolecido e depois de ouvires tudo o que se passou na realidade na minha vida me possas perdoar.
Manuel não quis dar o braço a torcer e rematou que iria àquele jantar na casa dela apenas pelo pequeno Tiago.
- Eu adoro o teu filho e estou a fazer tudo isto por ele, não quero que penses outras coisas Gabriela – e baixou os olhos ao fazer este comentário para que ela não visse no seu olhar que o que disse poderia não corresponder à verdade.
- Está bem Manuel mas já que aqui estamos podemos conversar sobre as nossas vidas e gostava que soubesses tudo o que se passou desde que nos zangamos e saí da aldeia.
- Se é da tua vontade, não quero forçar nada, conta então o que achares que deves.
- Como sabes eu fiquei grávida de outro, isso não é novidade, mas não sabes se te traía ou se aconteceu outra coisa. Eu não andava com esse sujeito, ele ia à loja muitas vezes desde que me conheceu quando fez uma compra. Era empresário e começou a prometer-me um emprego melhor e com bom salário. Marcou um dia para eu ir à fábrica dele para uma entrevista e eu fui. Não te disse nada antes porque sabia o quanto eras ciumento e provavelmente me irias questionar com coisas que eu não queria ouvir. Esse senhor era muito bem parecido e sempre muito amável para comigo mas nunca pensei que estivesse interessado em mim além de obter uma empregada nova. Quando fui à entrevista levou-me para o gabinete dele e deu-me a volta duma tal maneira que parece que fiquei hipnotizada envolvendo-me num esquema de sedução que eu parva não resisti deixando-me levar. Aquilo era tudo novo para mim, muito ingénua ainda, deixei-me cair nas garras dele. Sabes como são as coisas, quando menos esperamos já fizemos a asneira e eu caí. A promessa duma vida melhor levou-me a continuar a ver no que daria aquele envolvimento e por azar engravidei. Só aí vi em que teia fiquei presa, eu amava-te muito mas fui ambiciosa, logo depois me arrependi e quis esconder tudo, mas a minha família sabia e o meu irmão abriu a boca, não resistiu, sabes como a minha família é digna de palavra. Então acabaste comigo e a minha hipótese era então voltar-me para o pai do meu filho. Ele vivia no Porto e tinha negócios na nossa aldeia e por isso passava lá muitas vezes. Com aquela vergonha de toda a gente saber e com a proposta dele para ir viver para o Porto, foi o que decidimos fazer. Os meus pais compraram casa perto e passados uns meses casei com o pai do meu filho, depois de se ter divorciado da mulher dele. Nunca foi um casamento feliz, só o Tiago me alegrava, nunca o amei e ele também passado pouco tempo perdeu o interesse que inicialmente tinha. A minha vida foi sempre assim, trabalhava na fábrica do meu marido e há pouco tempo, quando decidimos nos divorciar, decidi também procurar outro emprego. Trabalho agora numa empresa de construção civil, sou recepcionista. De 15 em 15 dias o meu filho passa o fim-de-semana com o pai e falamos só o essencial. Se soubesses o tamanho do meu arrependimento e neste tempo todo nunca te esqueci. Quando te vi naquele consultório parecia um milagre. Tens de me perdoar Manuel!...
- Na altura nem te podia ver, nunca pensei ser alvo de tamanha traição. Cheguei até a adoecer e fui internado, não tinha nenhuma motivação em viver. Os meus pais é que me ajudaram e com o tempo comecei a restabelecer-me. Saí da aldeia para estudar e ter outro nível de vida, mais nada além de trabalhar me dava ânimo. No Porto comecei a aprender a ser diferente e a experimentar coisas novas. Hoje sou este que vês na frente. Grande coincidência foi ter o teu filho como paciente e voltar a encontrar-te. Pensei que nunca mais te veria na frente depois de teres saído da aldeia e ninguém saber para onde. Continuo muito magoado com o que aconteceu e ainda me custa pensar seriamente no passado, por isso tento abstrair-me. Estou mais maduro, agora já consigo entender os mistérios da vida e como também já andei por certos lugares que antes não frequentava, sei como é envolver-se rapidamente com alguém mesmo não querendo. Por isso agora já entendo melhor as coisas e o tempo ajuda a curar as mazelas. Não quero para já pensar noutra coisa senão ter a tua amizade e do teu filho, nada de precipitações. Mais tarde veremos o que o futuro nos proporciona, está bem assim Gabriela?
- Está certíssimo, só quero que sejas meu amigo de novo e não me vejas como uma leviana. Vais ver que não te vais arrepender – disse sorrindo, com os olhos brilhantes.
Aquela pequena esperança que Manuel acabava de lhe dar, fez-lhe palpitar o coração de felicidade e sabia que com calma voltaria a conquistá-lo mas não ia apressar-se, devagarinho iria dar-lhe a volta e convencê-lo com o seu amor.

Parte 16

Terminado o jantar, sentiam-se ambos mais leves depois de tomarem conhecimento das suas vidas passadas quando deixaram de se ver com o terminar da sua relação.
Manuel tentava a todo o custo esconder os seus sentimentos mas Gabriela deixava transparecer toda a sua felicidade em ver que conseguiu conversar, fazer entender tudo o que se passou com ela e que nunca deixou de ter esperança em um dia ainda ser feliz com ele.
Saíram do restaurante e Manuel cortesmente ofereceu-se para levar Gabriela a casa, porque já passava das 23h e não era adequado uma senhora ir apanhar um transporte até casa.
- Gabriela, eu levo-te a casa, quando chegarmos ao Porto só tens de me dizer onde fica.
- Muito obrigada Manuel, indicarei sim.
Seguiram viagem de volta e pelo caminho combinaram o tal jantar em casa dela e com o seu filho, decidindo dizer-lhe que foram só simples amigos e nunca namorados.
- E quando te dá jeito ires a minha casa jantar? Por mim pode ser qualquer dia, o meu filho Tiago todos os dias fala nisso.
- Bem, terei de ver a minha agenda no consultório com a minha secretária, não sei de cor, normalmente só vejo de um dia para o outro e sei que amanhã me será impossível. Depois de consultar te telefonarei, agora já tenho o teu número, mas em principio ficará para o fim-de-semana se não for quando o Tiago vai para o pai.
- Por acaso não vai, se estiveres livre fica então para sábado, confirma-me só amanhã!
- Certo, fica combinado, assim é melhor porque ambos não trabalhamos.
Passado mais de meia hora Gabriela já estava em casa e despediram-se como bons amigos.
Manuel quando chegou a sua casa, tomou um duche e foi-se deitar. O sono não havia maneira de aparecer, Gabriela e aquele jantar a dois não lhe saía da cabeça, sentia-se muito contente e ao mesmo tempo não queria sentir aquilo, sabendo que lhe tinha feito bem aquela aproximação, o seu outro lado ainda pensava na traição do passado. A muito custo sensibilizou-se que estava alegre, só teria de seguir por esse caminho e não virar as costas, porque se o fizesse é que se iria sentir mal. Pensou e disse para si mesmo:
- Todos erramos e todos merecemos uma segunda oportunidade, acho que devo ser menos cabeça dura e tentar também ser feliz. Que seja o que Deus quiser e aquele menino diz-me tanto, não posso deixar de aproveitar. Espero não me arrepender!

Parte 17

No dia seguinte, já no seu consultório, verificou que não tinha nenhum extra para sábado e a meio da manhã confirmou a Gabriela a sua disponibilidade em ir jantar a casa dela.
O dia de trabalho custou a passar e a ansiedade de voltar a vê-la e ao pequeno Tiago fazia ainda mais aquele dia parecer maior. Lá conseguiu abstrair-se com as imensas consultas que tinha pela frente terminando o expediente quando já passava das 19,30h.
À noite quando adormeceu passou por alguns sobressaltos devido a sonhos e pensamentos com o jantar que se aproximava. Quando acordou de manha sentia-se um pouco cansado, sabia com quem tinha sonhado, embora não lembra-se exactamente do conteúdo do sonho. Deixou-se ficar deitado a pensar na vida e no que a noite lhe reservaria.
Depois do pequeno-almoço ainda fez algumas compras de mercearia para sua casa e ao passar numa loja de moda não resistiu em comprar roupa nova, umas calças e um pólo, com a intenção de vestir à noite. Comprou também um brinquedo para Tiago e decidiu levar um bom vinho para beberem ao jantar.
O resto do dia foi passado normalmente, sempre de olho no relógio que parecia andar muito lentamente.
Com o aproximar da hora, tomou um banho, vestiu-se com as roupas novas e perfumou-se. Sentia-se bem apresentado e estava ansioso por chegar.
Chegou a casa de Gabriela antes das 20h e decidiu tocar à porta. Quem lhe abriu a porta foi Tiago que se atirou para os braços dele, dando-lhe um abraço e um beijinho.
- Olá, que bom que já chegaste, estou muito contente – disse com um sorriso de orelha a orelha – entra que a minha mãe está na cozinha e já vem.
- Olá querido, estás tão bonito, já tinha saudades tuas, estás bem? – perguntou Manuel.
- Estou e não tenho ficado doente mas já me apeteceu fingir para te poder ver – e deu uma piscadela ao seu amigo rindo muito.
- És um safado, um dia ainda ficas mesmo doente e a tua mãe não acredita. Trouxe-te uma surpresa, aqui tens! – e deu-lhe o embrulho para as mãos.
Rasgou de imediato o papel e abriu a caixa que continha uma bola de futebol profissional.
- Ena que fixe, depois vais jogar comigo, é o máximo, muito obrigado.
- De nada tu mereces, eu fico na baliza e tu chutas, está bem?
Entretanto apareceu Gabriela deslumbrante para cumprimentar o seu convidado.
- Boa noite Manuel, obrigada por apareceres e sê bem-vindo a minha casa.
- Olá Gabriela, estás muito bonita!
- Tu também estás lindo – disse sorrindo e com simpatia rematou: – tu sempre foste mas agora ainda estás mais.
- Exagerada Gabriela – sentiu-se corar e para disfarçar disse – trouxe um vinho para acompanhar o teu jantar.
- Obrigada, não era preciso trazer nada, mas já que tiveste a gentileza, logicamente que servirei neste jantar, até combina com o prato que fiz. Anda, vamos para a sala! Mas antes, queres que te sirva um aperitivo? Um martini ou outra coisa?
- Pode ser, aceito a ideia, mas também me acompanhas.
- Claro que sim, também já aprendi a gostar destas coisas.
De seguida Gabriela quis mostrar a sua casa a Manuel para fazer tempo a que o jantar termina-se de se fazer.
Tinha 2 quartos, uma sala, 2 WC, cozinha e um pequeno terraço para Tiago poder brincar. Era pequena mas o suficiente para viver com o seu filho e Manuel elogiou a decoração e a boa organização da casa, tudo muito bem arrumado.
- Foi o que se arranjou depois da minha separação, mas acho que é suficiente – disse Gabriela.
- É muito bonita a tua casa, a sério. Na próxima mostro-vos a minha, fica já prometido – e virando-se para Tiago – o teu quarto é muito janota, tantos brinquedos, que sorte hein?
- Pois é, vou mostrar-te os brinquedos todos e vamos brincar depois, está bem?
Gabriela cortou aquele entusiasmo e disse:
- Bem, agora vamos jantar e depois brincas filho, o Manuel já deve estar com fome e tu também.
E dirigiram-se de novo para a sala de jantar. Gabriela indicou os lugares de cada um e foi à cozinha buscar a comida. Um cheirinho agradável já se tinha feito notar.
- Fiz um bacalhau assado porque sei que gostas muito, não me esqueci.
- Adoro e cheira muito bem. Está com uma apresentação suprema!
Jantaram animadamente, correu tudo muito bem e depois como prometido Manuel ainda brincou bastante tempo com Tiago, até que a mãe disse que estava na hora de ir dormir, já se notava o cansaço no miúdo e começava a ficar irritante. Embora não quisesse, acatou as ordens da mãe e adormeceu, ficando depois os dois sozinhos.
Estavam felizes e a conversar no sofá, lado a lado, e ao mesmo tempo deitavam o olho à televisão mas sem prestar muita atenção. Preferiam falar deles próprios. Gabriela depois de se sentir mais à vontade disse:
- Temos de repetir mais vezes, agora não vais desaparecer pois não? – e colocou a sua mão por cima da dele.
- Não vou desaparecer não senhor e nem quero, estou tão feliz Gabriela! – e agarrou-lhe na mão, olhou-a intensamente e aproximou-se do rosto dela.
Foi inevitável, suas bocas colaram-se num beijo apaixonado, ansiado por ambos há já muito tempo.

Parte 18

Aquele beijo deu azo à liberdade de gestos e carinhos que permaneceram fechados durante um longo período como que num armário e agora tinha sido reaberto. A reciprocidade entre ambos era evidente e pareciam famintos de tanto tempo de abstinência. Não se largavam e devoravam-se com uma vontade louca de pela primeira vez se terem um ao outro. Naquela luta de paixão Manuel não aguentou e disse:
- Vamos para o teu quarto Gabriela?
- Vamos sim – e pegou-lhe na mão, encaminhando-o.
Nesse pequeno trajecto não se largaram, beijavam-se, gemiam de prazer e ansiedade.
Saiu tudo como se conhecessem desde sempre e tiveram a sua primeira noite de amor juntos.
Tudo de mal que se tinha passado desde a separação, quiseram esquecer e só queriam ser felizes. Prometeram um ao outro que nunca mais se iriam separar, que dali para a frente seriam uma família e que apenas fizeram um intervalo, mas agora não haveria outra experiência igual.
Depois de tanto amor naquela noite, adormeceram abraçados e quando acordaram de manhã havia um sorriso em seus rostos que testemunhava a sua felicidade.
- Bom dia meu amor! – disse Gabriela, acordando-o com um beijo.
- Bom dia querida, não foi um sonho pois não? – e agarrou-a contra si, beijando-a ainda mais.
Estavam entretidos naqueles carinhos quando se ouve a voz de Tiago a chamar pela mãe. Gabriela disse a Manuel para esperar na cozinha e foi ao encontro do filho no seu quarto, muito sorridente.
- Bom dia querido filho, estou a ver que já acordaste! Tenho uma grande surpresa para ti!
- Espero que seja boa e pelo teu sorriso, o que é mamã? – perguntou curioso.
- Lembras o que me pediste muito? De veres mais vezes o Manuel? Pois agora vais vê-lo sempre, porque a mamã e o Manuel começaram a namorar.
- A sério? Que bom! – e correu para o colo da mãe dando-lhe um grande abraço.
- Anda tomar o pequeno-almoço que o Manuel já está à nossa espera na cozinha!
Ao ouvir isto, Tiago saltou da cama e correu de imediato ao encontro dele.
- Manuel, a mamã já me contou do namoro, estou muito contente, vou ter outro pai – e abraçou-se ao seu pescoço.
Foi gargalhada geral ao ouvir aquele desabafo e a mãe juntou-se, dando os três um grande abraço.
A partir daquele dia a felicidade reinou nas suas vidas. Os familiares de ambos ficaram satisfeitos com a notícia, porque sabiam que aqueles dois eram feitos um para o outro e andavam tão infelizes separados.
Passou pouco tempo até que decidiram casar e foram viver para a moradia de Manuel, que tinha melhores condições que o apartamento de Gabriela.
Quiseram logo aumentar a família e dar um irmãozinho a Tiago. Nasceu um ano depois e foi uma menina. Baptizaram-na de Ana Filipa, e também ela era muito bonita, tinha a quem sair, aos seus pais evidentemente.
Formavam uma família perfeita que passou por uma barreira difícil mas que o amor conseguiu derrubar.
É preciso medir bem os sentimentos e deixar o orgulho de lado quando somos levados a cometer erros, saber perdoar quando sabemos que nos vai fazer melhor e enfrentar o futuro com maior felicidade.
Manuel e Gabriela, conseguiram superar os maus momentos e entregaram-se ao Amor, agora com mais confiança.
Foram muito felizes juntos.

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Autoria: Paula Costa