quinta-feira, 31 de julho de 2008

Conto 3: "Traição" - Parte 16

Terminado o jantar, sentiam-se ambos mais leves depois de tomarem conhecimento das suas vidas passadas quando deixaram de se ver com o terminar da sua relação.
Manuel tentava a todo o custo esconder os seus sentimentos mas Gabriela deixava transparecer toda a sua felicidade em ver que conseguiu conversar e fazer entender tudo o que se passou com ela e que nunca deixou de ter esperança em um dia ainda ser feliz com ele.
Saíram do restaurante e Manuel cortesmente ofereceu-se para levar Gabriela a casa, porque já passava das 23h e não era adequado uma senhora ir apanhar um transporte até casa.
- Gabriela, eu levo-te a casa, quando chegarmos ao Porto só tens de me dizer onde fica.
- Muito obrigada Manuel, indicarei sim.
Seguiram viagem de volta e pelo caminho combinaram então o tal jantar em casa dela e com o seu filho.
- E quando te dá jeito ires a minha casa jantar? Por mim pode ser qualquer dia, o meu filho Tiago todos os dias fala nisso.
- Bem, terei de ver a minha agenda no consultório com a minha secretária, não sei de cor, normalmente só vejo de um dia para o outro e sei que amanhã me será impossível. Depois de consultar te telefonarei, agora já tenho o teu número, mas em principio ficará para o fim-de-semana se não for quando o Tiago vai para o pai.
- Por acaso não vai, se estiveres livre fica então para sábado, confirma-me só amanhã!
- Certo, fica combinado, assim é melhor porque ambos não trabalhamos.
Passado mais de meia hora Gabriela já estava em casa e despediram-se como bons amigos.
Manuel quando chegou a sua casa, tomou um duche e foi-se deitar. O sono não havia maneira de aparecer, Gabriela e aquele jantar a dois não lhe saía da cabeça, mas sentia-se muito contente e ao mesmo tempo não queria sentir aquilo, sabendo que lhe tinha feito bem aquela aproximação, o seu outro lado ainda pensava na traição do passado. A muito custo sensibilizou-se que estava alegre e teria de seguir por esse caminho e não virar as costas, porque se o fizesse é que se iria sentir mal. Pensou e disse para si mesmo:
- Todos erramos e todos merecemos uma segunda oportunidade, acho que devo ser menos cabeça dura e tentar também ser feliz. Que seja o que Deus quiser e aquele menino diz-me tanto, não posso deixar de aproveitar. Espero não me arrepender!

---Trecho escrito por Paula Costa --- 31.07.2008 ----- (continua)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Conto 3: "Traição" - Parte 15

Manuel, embora pouco à vontade, depois de tanto tempo, começou por falar.
- Desculpa Gabriela, não podia ir a tua casa jantar na frente do teu filho, depois do que aconteceu. Ele não sabe do nosso passado e portanto antes disso acontecer devemos combinar o que tem e não tem que saber, não podemos cair em contradições.
- Eu sei disso Manuel, mas queria é voltar a ver-te e o meu filho, nem imaginas as vezes que fala em ti. Pensei que se te propusesse um encontro antes, que provavelmente nem aceitarias. Estou feliz que o tenhas feito e também espero que depois de tanto tempo o teu coração tenha amolecido e depois de ouvires tudo o que se passou na realidade na minha vida me possas perdoar.
Manuel não quis dar o braço a torcer e rematou que iria àquele jantar na casa dela apenas pelo pequeno Tiago.
- Eu adoro o teu filho e estou a fazer tudo isto por ele, não quero que penses outras coisas Gabriela – e baixou os olhos ao fazer este comentário para que ela não visse no seu olhar que o que disse poderia não corresponder à verdade.
- Está bem Manuel mas já que aqui estamos podemos conversar sobre as nossas vidas e eu gostava que soubesses tudo o que se passou desde que nos zangamos e eu saí da aldeia.
- Se é da tua vontade, não quero forçar nada, conta então o que achares que deves.
- Como sabes eu fiquei grávida de outro, isso não é novidade, mas não sabes se te traía ou se aconteceu outra coisa. Eu não andava com esse sujeito, ele ía à loja muitas vezes desde que me conheceu quando fez uma compra. Era empresário e começou a prometer-me um emprego melhor e com bom salário. Marcou um dia para eu ir à fábrica dele para uma entrevista e eu fui. Não te disse nada antes porque sabia o quanto eras ciumento e provavelmente me irias questionar com coisas que eu não queria ouvir. Esse senhor era muito bem parecido e sempre muito amável para comigo mas nunca pensei que estivesse interessado em mim além de obter uma empregada nova. Quando fui à entrevista levou-me para o gabinete dele e deu-me a volta duma tal maneira que parece que fiquei hipnotizada e envolveu-me num esquema de sedução que eu parva não resisti e deixei-me levar. Aquilo era tudo novo para mim, muito ingénua ainda, deixei-me cair nas garras dele. Sabes como são as coisas, quando menos esperamos já fizemos a asneira e eu caí. A promessa duma vida melhor levou-me a continuar a ver no que daria aquele envolvimento e por azar engravidei. Só aí vi em que teia fiquei presa, eu amava-te muito mas fui ambiciosa, logo depois me arrependi e quis esconder tudo, mas a minha família sabia e o meu irmão abriu a boca, não resistiu, sabes como a minha família é digna de palavra. Então acabaste comigo e a minha hipótese era então voltar-me para o pai do meu filho. Ele vivia no Porto e tinha negócios na nossa aldeia e por isso passava lá muitas vezes. Com aquela vergonha de toda a gente saber e com a proposta dele para ir viver para o Porto, foi o que decidimos fazer. Os meus pais compraram casa perto e passado uns meses casei com o pai do meu filho. Nunca foi um casamento feliz, só o Tiago me alegrava, nunca o amei e ele também passado pouco tempo perdeu o interesse que inicialmente tinha. A minha vida foi sempre assim, trabalhava na fábrica do meu marido e há pouco tempo, quando decidimos nos divorciar, decidi também procurar outro emprego. Trabalho agora numa empresa de construção civil, sou recepcionista. De 15 em 15 dias o meu filho passa o fim-de-semana com o pai e falamos só o essencial. Se soubesses o tamanho do meu arrependimento e neste tempo todo nunca te esqueci. Quando te vi naquele consultório parecia um milagre. Tens de me perdoar Manuel.
- Na altura nem te podia ver, nunca pensei ser alvo de tamanha traição. Cheguei até a adoecer e fui internado, não tinha nenhuma motivação em viver. Os meus pais é que me ajudaram e com o tempo comecei a restabelecer-me. Saí da aldeia para estudar e ter outro nível de vida, mais nada além de trabalhar me dava ânimo. No Porto comecei a aprender a ser diferente e a experimentar coisas novas. Hoje sou este que vês na frente. Grande coincidência foi vir a ter o teu filho como paciente e voltar a encontrar-te. Pensei que nunca mais te veria na minha frente depois de teres saído da aldeia e ninguém saber para onde. Continuo muito magoado com o que aconteceu e ainda me custa pensar seriamente no passado, por isso tento abstrair-me. Estou mais maduro e agora já consigo entender os mistérios da vida e como também já andei por certos lugares que antes não frequentava, sei como é envolver-se rapidamente com alguém mesmo não querendo. Por isso agora já entendo melhor as coisas e o tempo ajuda a curar as mazelas. Não quero para já pensar noutra coisa senão ter a tua amizade e do teu filho e nada de precipitações. Mais tarde veremos o que o futuro nos proporciona, está bem assim Gabriela?
- Está certíssimo, só quero que sejas meu amigo de novo e não me vejas como uma leviana. Vais ver que não te vais arrepender – disse sorrindo, com os olhos brilhantes.
Aquela pequena esperança que Manuel acabava de lhe dar, fez-lhe palpitar o coração de felicidade e sabia que com calma voltaria a conquistá-lo mas não ía apressar-se, devagarinho iria dar-lhe a volta e convencê-lo com o seu amor.

---Trecho escrito por Paula Costa --- 17.07.2008 ----- (continua)