quarta-feira, 29 de outubro de 2014


HISTÓRIA DE MARIA (5º Conto)


Parte 3
Eram 7h da manhã e Maria já estava acordada, dado que se encontrava muito nervosa por ter que enfrentar esta nova etapa. A sua tia Júlia já lhe tinha preparado o pequeno-almoço e tentou acalmá-la o mais possível e que se por acaso não se desse bem, ela ali estaria para cuidar dela e tentar arranjar-lhe outro trabalho.
Ainda não eram 9h da manhã e Maria já estava a tocar à porta dos seus novos patrões, para não chegar atrasada e queria dar boa impressão logo no primeiro dia.
A dona casa acolheu-a com muita simpatia para a colocar mais à vontade, dado que notou o nervosismo da sua nova empregada.
D. Amélia era uma senhora com um aspecto frágil e com um olhar meigo mas muito triste. Foi-lhe diagnosticado leucemia há cerca de meio ano e a sua saúde começou a debilitar-se rapidamente, pelo que necessitava de estar acompanhada assiduamente. Maria foi essencialmente contratada para a acompanhar e prestar todo o auxílio à sua patroa.
Maria começou a receber as instruções de tudo o que teria de fazer e o mais importante era estar sempre ao lado da sua senhora, acompanhá-la nos tratamentos do hospital diariamente, uma vez que estes eram muito agressivos.
Nessa mesma manhã, pelas 11h, Maria já teria de se deslocar ao hospital com  a sua senhora e foi-lhe explicado com delicadeza os efeitos secundários do tratamento que iriam administrar para que ela não se assustasse.
Francisco era o motorista da casa e seria sempre ele que as transportaria. Era um homem muito bem-disposto e elegante na sua farda. Foi apresentado a Maria e ficou muito satisfeito com a contratação da sua nova colega, que lhe pareceu deveras simpática.
Na hora marcada D. Amélia despediu-se de Maria para entrar na sala de tratamento e pediu-lhe para esperar cerca de 1h e que quando regressasse deveria estar mais debilitada ainda, colocando-a de sobreaviso, dado que iria levar uma dose muito forte que a deixaria sempre assim, mas era necessário para tentar combater aquela terrível doença.
Quando Maria viu D. Amélia sair de cadeira de rodas do tratamento ficou perplexa e mesmo tendo sido alertada não conteve um ar de pânico e correu de imediato para a auxiliar e se inteirar do seu estado, se era normal, se tinha corrido tudo dentro da normalidade e o que teria de fazer naquele momento, mas não obteve grandes respostas porque D. Amélia nem conseguia falar e reparou que ela transportava um saco de plástico onde era já visível que servia para acatar os vómitos contínuos, efeito da sobre-dosagem que levou.
Sabia que teria de a transportar na cadeira de rodas até ao carro onde se estava Francisco à espera como de costume e de olhos cravejados de lágrimas, por ver a sua patroa a sofrer assim, foi empurrando-a com a coragem que conseguiu arranjar, tentando não demonstrar o pânico em que se encontrava.
Francisco pegou ao colo D. Amélia, tarefa que já era rotineira no dia-a-dia, e colocou-a com o maior cuidado no banco de trás do carro e Maria entrou de seguida para junto dela, encostando-se e apoiando-a junto ao seu corpo para que se sentisse amparada.

Como era costume Francisco tratou logo de animar o ambiente dizendo algumas piadas que sabia que eram bem aceites por D. Amélia e que a faziam sorrir mesmo estando atordoada e cheia de dores. Depois colocava a sua música clássica preferida, que a acalmava até ao aconchego dos seus aposentos.
(continua...)

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