HISTÓRIA DE MARIA (5º Conto)
Parte 3

Ainda não eram 9h da manhã e Maria
já estava a tocar à porta dos seus novos patrões, para não chegar atrasada e
queria dar boa impressão logo no primeiro dia.
A dona casa acolheu-a com muita simpatia
para a colocar mais à vontade, dado que notou o nervosismo da sua nova
empregada.
D. Amélia era uma senhora com um
aspecto frágil e com um olhar meigo mas muito triste. Foi-lhe diagnosticado
leucemia há cerca de meio ano e a sua saúde começou a debilitar-se rapidamente,
pelo que necessitava de estar acompanhada assiduamente. Maria foi
essencialmente contratada para a acompanhar e prestar todo o auxílio à sua
patroa.
Maria começou a receber as
instruções de tudo o que teria de fazer e o mais importante era estar sempre ao
lado da sua senhora, acompanhá-la nos tratamentos do hospital diariamente, uma
vez que estes eram muito agressivos.
Nessa mesma manhã, pelas 11h, Maria
já teria de se deslocar ao hospital com
a sua senhora e foi-lhe explicado com delicadeza os efeitos secundários
do tratamento que iriam administrar para que ela não se assustasse.
Francisco era o motorista da casa e
seria sempre ele que as transportaria. Era um homem muito bem-disposto e
elegante na sua farda. Foi apresentado a Maria e ficou muito satisfeito com a
contratação da sua nova colega, que lhe pareceu deveras simpática.
Na hora marcada D. Amélia
despediu-se de Maria para entrar na sala de tratamento e pediu-lhe para esperar
cerca de 1h e que quando regressasse deveria estar mais debilitada ainda,
colocando-a de sobreaviso, dado que iria levar uma dose muito forte que a
deixaria sempre assim, mas era necessário para tentar combater aquela terrível doença.
Quando Maria viu D. Amélia sair de
cadeira de rodas do tratamento ficou perplexa e mesmo tendo sido alertada não
conteve um ar de pânico e correu de imediato para a auxiliar e se inteirar do
seu estado, se era normal, se tinha corrido tudo dentro da normalidade e o que
teria de fazer naquele momento, mas não obteve grandes respostas porque D.
Amélia nem conseguia falar e reparou que ela transportava um saco de plástico
onde era já visível que servia para acatar os vómitos contínuos, efeito da
sobre-dosagem que levou.
Sabia que teria de a transportar na
cadeira de rodas até ao carro onde se estava Francisco à espera como de costume
e de olhos cravejados de lágrimas, por ver a sua patroa a sofrer assim, foi
empurrando-a com a coragem que conseguiu arranjar, tentando não demonstrar o
pânico em que se encontrava.
Francisco pegou ao colo D. Amélia,
tarefa que já era rotineira no dia-a-dia, e colocou-a com o maior cuidado no
banco de trás do carro e Maria entrou de seguida para junto dela, encostando-se
e apoiando-a junto ao seu corpo para que se sentisse amparada.
Como era costume Francisco tratou
logo de animar o ambiente dizendo algumas piadas que sabia que eram bem aceites
por D. Amélia e que a faziam sorrir mesmo estando atordoada e cheia de dores.
Depois colocava a sua música clássica preferida, que a acalmava até ao aconchego
dos seus aposentos.
(continua...)
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