quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Conto 3 - "Traição" - Parte 2

Terminado o expediente de trabalho, Manuel regressou a casa e, para surpresa sua, tinha à sua espera o futuro cunhado, portanto irmão de Gabriela. Como não era costume vê-lo àquela hora e ainda por cima em sua casa sem avisar começou a achar muito estranho deixando-o logo preocupado e perguntou de rajada se tinha acontecido alguma coisa de anormal com a sua noiva.
- Que se passa Jorge? Porque me esperas a esta hora e ainda por cima com essa cara de caso? A Gabriela está bem?
- Sim está bem, mas eu vim aqui para falar de uma coisa muito chata, não sei como hei-de começar mas nem eu e nem meus pais ficava-mos bem se não te informasse-mos do que se está a passar…
- Diz logo, estás a deixar-me muito preocupado, é assim tão grave? A tua cara diz-me que vem aí bomba.
- É mesmo isso, uma bomba! Sempre fomos amigos e as nossas famílias uniram-se muito depois que tu e minha irmã começaram a namorar e marcaram o casamento, mas não podemos deixar passar em branco o que se passa neste momento.
Manuel começou a ficar nervoso e já transpirava por todos os lados, começava a imaginar o que seria de tão grave mas nada lhe vinha à ideia – sabia é que não era boa coisa.
- Fala duma vez homem, não me deixes assim! – disse Manuel irritado.
- Ok Manel, a minha irmã confessou-nos uma coisa esta semana que não podemos deixar impune. Ela está muito arrependida, confessou porque não aguentou a culpa e só anda aos prantos pela casa toda. De tanto pressionada que foi pela minha mãe, que lhe perguntava o porquê daquelas lágrimas, decidiu desabafar dizendo-lhe que estava grávida de outro sujeito.
A fisionomia de Manuel transfigurou-se, ficou branco como a cal e não queria acreditar no que estava a ouvir, a sua Gabriela que tanto amava e se dizia também tão apaixonada, tinha-o traído duma maneira que nunca esperaria. Ela que se dizia pura e que queria chegar virgem ao casamento, evitando-o sempre a todo custo, mesmo depois de algumas investidas, andava a pavonear-se com outro nas suas costas. Só não esperava que o azar lhe batesse à porta a uma semana do casamento. A culpa e o medo de ser descoberta foi mais forte e a fez confessar à família.
- Não posso acreditar Jorge, isso é mesmo verdade? A tua irmã que nunca queria que lhe tocasse? Eu respeitei-a sempre e ela faz-me isto? – e deitou as mãos à cabeça, já com as lágrimas nos olhos – E agora? Eu não caso com ela assim, desculpa-me tu e os teus pais, toda a família, mas eu não sou capaz, ela apunhalou-me pelas costas, foi uma leviana como eu nunca supus.
- Calma Manel, compreendo mas estás a receber a notícia agora a quente, pensa direito, fala com os teus pais e depois fala com ela, vocês têm de entender-se. Falta uma semana e olha o escândalo que vai ser na aldeia.
- Eu não quero saber! - disse cheio de raiva – Com ela eu não caso! – e deu um pontapé violento numa cadeira que foi ter ao outro lado da sala.
Jorge tentou acalmá-lo, colocando-lhe o braço por cima dos ombros, tentou dar-lhe apoio e que pensasse bem, nada como uma boa conversa para lhe clarificar as ideias.
- Manel, não sei que te diga mais, acho que deves ficar sozinho, pensar muito bem, falares com as pessoas certas para te aconselharem, mas não deves tomar decisões assim tão repentinas, tenta primeiro acalmar-te.
- Quem é o fulano que a engravidou? – perguntou de seguida – Eu conheço?
- Ela não quis contar Manel, só disse à minha mãe que ia muito à loja onde trabalha e que é casado, por isso não quis divulgar o nome para não haver ainda mais escândalo.
- Vagabunda! A tua irmã não presta, fui muito cego Jorge, mato-me a trabalhar até tarde quando ela saía mais cedo e sabendo os caminhos por onde eu andava, ficava à vontade para se meter na cama com outro. É uma vagabunda!
- Calma, já te disse, a carne é fraca e tu, como homem, sabes como é fácil seduzir uma mulher se tivermos uma boa lábia. A Gabriela é muito bonita, tu sabes, e caiu na teia de algum que a soube levar, mesmo não querendo. Fala com ela, perdoa-a por favor!
- Não, nunca! Deixa-me agora sozinho, tenho de pensar e ver como vou acabar com toda esta palhaçada– disse com ódio no olhar.
Jorge foi-se embora entristecido por não conseguir dar aquela notícia sem fazer muitos estragos mas estava visto que as coisas se afiguravam muito feias.

---Trecho escrito por Paula Costa --- 14.02.2008 ----- (continua)

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