quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Conto 3 - "Traição" - Parte 3

Manuel permaneceu no quarto e fechou-se por dentro inconformado com o que se estava a passar, chorando copiosamente sem saber o que fazer. Tinha de ganhar coragem para contar a situação aos seus pais e de seguida a toda a gente, que vergonha! Sentia-se sem forças para enfrentar o mundo e tudo lhe vinha à cabeça, até acabar com a própria vida.
Deitado na cama, lembrava o passado a girar em volta de si, todas as pessoas que o cercavam e de seguida antevia as reacções quando soubessem do sucedido. Não se sentia capaz de enfrentar tal situação, estava de rastos. Queria desaparecer, que fazer?
Começou a basculhar as gavetas em busca de algo que o fizesse amenizar o seu sofrimento. Sabia que tinha uma arma algures no quarto e não parou até encontrá-la. Estava descarregada e sabia que seu pai tinha munições no quarto, mas não conseguia sair dali, tinha receio de ser visto assim transfigurado na frente da família. Continuou a procurar e encontrou uma gaveta cheia de medicamentos, que usava de vez em quando, e pegou numa caixa cheia de anti-depressivos. Retirou todos os comprimidos da embalagem e preparava-se para os tomar todos juntos e assim acabar de vez com tudo. Foi interrompido por sua mãe a tentar entrar no quarto que estava fechado à chave e começou a bater à porta.
- Manuel, porque tens a porta a fechada? Que se passa? Abre por favor filho! Está na hora do jantar.
- Deixa-me mãe, preciso estar sozinho, não me apetece comer nada! – disse com uma voz de choro que deixou a mãe preocupada e que a fez não desistir de bater.
- Que tens? Abre já a porta, tu não estás bem, deixa-me ajudar-te Manuel!
Colocou repentinamente todos os comprimidos soltos dentro da gaveta e decidiu abrir a porta com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara.
A mãe ficou aflita ao vê-lo naquela figura e cheia de preocupação quis saber o motivo daquele pranto.
Manuel começou a contar, no meio de soluços e lamentos, as suas intenções de desaparecer de vez. Tinha vergonha de ser visto na aldeia depois daquela desgraça. Todos o iam apontar como corno, que foi enganado pela namorada.
A mãe tentou acalmá-lo, também ela chocada com o que a sua futura nora tinha feito. Concordava em que não deveria casar com ela grávida, mas tinham de ponderar bem as coisas, estava tudo tratado para o casamento e não paravam de chegar presentes. Teriam de ser devolvidos e explicarem o sucedido. Naquela aldeia do interior iria ser um grande escândalo.
Mãe e filho choravam abraçados.
Dada a demora para o jantar o pai também apareceu no quarto, deparando-se com os dois naquela situação.
- Não se janta hoje? Que foi que aconteceu para estarem os dois a chorar? – disse Joaquim preocupado.
Foi então colocado ao corrente dos acontecimentos, concordando com o filho que o melhor era não casar, mas a decisão seria dele.
Os pais deram-lhe toda a força e aconselharam-no para que não fizesse asneiras. O tempo ajudaria a curar todas as feridas e depressa ultrapassaria aquela má situação e quem sabe encontrar outra pessoa que o merecesse.
Teriam rapidamente de achar uma solução para aquele problema dado o aproximar da data do casamento e o dia seguinte seria o ideal. Haveria ou não casamento?
Já ninguém jantou naquela casa e recolheram-se cada qual aos seus aposentos. Provavelmente nem pregariam olho toda a noite.

---Trecho escrito por Paula Costa --- 20.02.2008 ----- (continua)

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