
Depois de tudo voltar ao normal, Manuel não se sentia mais satisfeito com a vida que levava, faltava-lhe algo para poder tapar o buraco que parecia enfiado. Depois do trabalho não convivia com ninguém e mal saía de casa.
Começou a pensar em fazer alguma coisa para melhorar a sua vida e decidiu recomeçar a estudar à noite, matriculando-se no 11º ano que foi onde parou nos estudos. Aplicou-se a fundo e num ano lectivo conseguiu também fazer o 12º ano. Conviveu nesse período com novos colegas e muitas das alunas interessavam-se por ele mas nunca mais quis ter algo com alguém. Não se divertia e nunca aceitava convites que lhe faziam e só pensava em estudar.
O exame final estava à porta e preparou-se com afinco, estudando a matéria sempre que lhe era possível, para poder tirar boas notas e ingressar na faculdade. Queria ter uma profissão mais digna e a vida de motorista já não lhe dizia quase nada. Estava na hora de mudar-se para uma grande cidade e deixar de vez a sua aldeia que não lhe dava futuro algum e as pessoas que ainda por lá habitavam eram já bastante idosas, os jovens desapareciam mal começavam a frequentar universidades e depois arranjavam empregos em cidades mais longes. Só voltavam de visita aos familiares e eram poucos os que ficavam a viver na aldeia depois de estudar fora.
Chegou a data do exame final e Manuel sentia-se preparado, teve sempre boas notas durante o ano lectivo e tinha a matéria na ponta da língua, mas estava muito nervoso, como é natural nestas alturas.
O exame foi bem complicado mas estava confiante que teria uma boa nota, só não sabia se a média final lhe dava para poder optar pela área de Medicina que era o que queria seguir.
Passaram alguns dias e finalmente saíram os resultados. Soube por um colega, que lhe telefonou, mas ainda não sabia a sua nota, saindo de casa apressado directamente à escola. Estavam montes de colegas na sua frente a fazer o mesmo e não podia chegar à pauta, esgueirando-se entre imensas cabeças para ver o seu nome, até que lá conseguiu e deu um pulo de alegria.
- Uauuu, tirei 17 valores! – e começou a abraçar os seus colegas que lhe davam os parabéns.
Ouviam-se gritos de felicidade de mais alunos e também alguns lamentos por parte de outros que não conseguiram passar ou tiveram uma nota menos boa e já não dava para ingressar numa área mais favorável na faculdade.
Com a nota que obteve, Manuel concorreu a várias universidades, colocando por ordem a que mais lhe apetecia. Em 1º lugar escolheu a Universidade de Medicina do Porto, depois a de Coimbra e em terceiro a de Lisboa, que lhe ficava mais longe e as despesas seriam maiores, mas se tivesse que ser, iria estudar para lá.
Mais tarde, recebeu uma carta a dar-lhe a notícia que entrou na Universidade do Porto, deixando-o muito feliz. Não via a hora de começar este novo capítulo na sua vida.
Fez algumas viagens até ao Porto, que ficava a cerca de 90km da sua aldeia, alugou um quarto para permanecer durante a semana de estudo e também tratou de todas as burocracias, matriculas e papeladas para este propósito. Aos fins-de-semana regressaria a casa dos pais.
Por causa da sua entrada na faculdade, não poderia mais trabalhar como motorista e apresentou a demissão na Empresa de Transportes, com muita pena dos seus superiores que sempre lhes agradou os seus bons serviços.
Agora teria de viver das suas economias e da ajuda dos seus pais. Depois já no Porto tentaria arranjar um partime à noite para ajudar nas despesas.
Finalmente chegou o dia em que tinha que se afastar por mais tempo daquela aldeia e da família para começar os estudos na Faculdade. A mãe meia chorosa e já cheia de saudades do filho querido, não parava de se agarrar a Manuel, sempre com conselhos para que corresse tudo bem.
Deu um abraço aos pais e despediu-se até ao próximo fim-de-semana. Tinha de apanhar o comboio das 18h até ao Porto porque no dia seguinte, segunda-feira, começava logo cedo a sua primeira aula.
A partir daquele dia, a vida de Manuel teria um novo rumo.
---Trecho escrito por Paula Costa --- 26.03.2008 ----- (continua)