quinta-feira, 6 de março de 2008

Conto 3: "Traição" - Parte 5

A notícia correu rápido pela aldeia, sendo um meio muito pequeno, logo se fica a saber tudo o que se passa. Só se ouvia cochichar que já não havia casamento do Manuel com a Gabriela e andavam todos curiosos em saber o motivo. Rapidamente começaram a surtir boatos da razão daquele desenlace. Uns comentavam que ele devia ter tido algum arranjinho por fora e a noiva tinha descoberto, outros diziam o contrário, que no local onde Gabriela trabalhava era muito fácil ter caído de amores por algum rapazola que lá passasse, dado que a rapariga era muito bonita e bastante cortejada pela classe masculina.
As famílias envergonhadas pouco saíam de casa e não davam muitas informações a quem deles se aproximavam a tentar tirar nabos da púcara.
Manuel, depois daquele dia, nunca mais foi o mesmo, mal saía do quarto, não se alimentava e pediu baixa médica, não se sentia com forças para trabalhar. O seu aspecto degradava-se de dia para dia, passava o tempo a chorar e sempre com ideias maquiavélicas em acabar de vez com o seu sofrimento. Tinha emagrecido imenso e nem de si tratava, sempre com a barba por fazer, mal tomava banho e se não fosse sua mãe sempre a forçá-lo a fazer as coisas teria se deixado morrer naquela cama.
Os pais, sabendo das suas ideias suicidas, tinham tratado de fazer desaparecer tudo o que pudesse ser um arremesso às ideias do filho. Assim esconderam todos os medicamentos, armas e munições, fecharam os armários que continham facas à chave e andavam sempre atentos ao seu comportamento.
Passou-se um mês e Manuel continuava com este sofrimento, acabando por adoecer bastante. O médico foi chamado a casa e depois de o consultar chegou à conclusão que estava com uma anemia muito grave e tinha de ser hospitalizado. Os sintomas de fadiga, fraqueza, palidez, dificuldade de concentração, vertigens e tonturas, rapidamente o fizeram diagnosticar aquela doença e pediu de imediato que chamassem uma ambulância, dado que Manuel nem se aguentava de pé.
Foram dias complicados para se curar dado que Manuel pouco se dignava em colaborar e era submetido muitas vezes a soro e sedado para que não retirasse a agulha do braço.
O tempo que permaneceu naquele hospital, os companheiros de quarto e os médicos começaram a fazê-lo ver que a vida pode tomar outro rumo e ainda vir a ser muito feliz. Tinha apoio psicológico e depressa começou a melhorar a olhos vistos. A sua palidez começou a desaparecer, já tinha vontade de comer e também já tinha engordado um pouco. Nos últimos exames ao sangue obteve níveis bastante favoráveis e informaram-no que dentro de uma semana já poderia ter alta do hospital e fazer o resto da recuperação em casa, dado que a nível psicológico também estava mais restabelecido e as suas ideias no lugar.
Era um homem muito triste, em comparação com alegria que emanava anteriormente, mas com acompanhamento de pessoas adequadas poderia voltar ao que era dantes.
E assim foi, estava de regresso a casa de seus pais, teria de enfrentar a vida dali para a frente com animosidade.

---Trecho escrito por Paula Costa --- 06.03.2008 ----- (continua)

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