quarta-feira, 12 de março de 2008

Conto 3: "Traição" - Parte 6

Mal começou a percorrer a sua aldeia no regresso a casa, as recordações de Gabriela voltaram. Enquanto esteve no hospital conseguiu abstrair-se um pouco da sua vida, por ser um meio diferente de onde residia e também porque lidava com pessoas de outros locais. Tinha permanecido internado cerca de 6 meses e durante esse período o tema do casamento e tudo o que lhe dizia respeito, foi mantido em absoluto silêncio, não soube mais notícias da sua ex-noiva, se ainda estava grávida ou tinha abortado, se já se sabia quem era o pai da criança e se houve mais acontecimentos depois do seu afastamento.
Estava deveras curioso mas sem coragem em abordar o assunto com os seus pais, mas tinha de o fazer porque não conseguia deixar de pensar.
Sozinho no seu quarto, não resistiu e foi directo ao álbum de fotografias, tinha de saber o que sentiria ao rever as fotos daquela que o traiu. As lágrimas começaram a escorrer-lhe pelo rosto, como foi possível ter-lhe feito tão mal depois do amor que sentiam um pelo outro? Mas estava ciente que não a perdoava e o futuro teria de ser vivido noutra direcção, diferente do de Gabriela.
A mãe entrou no quarto quando estava com o álbum nas mãos e ficou preocupada vendo-lhe o rosto molhado. Ficou aflita e com medo de uma recaída do filho.
- Manuel, larga isso que te trás más recordações, esquece essa rapariga!
- Mãe já passou, não te preocupes que o teu filho vai recuperar. Mas queria saber, o que aconteceu com ela? Que se passou depois do meu internamento?
- Não queria nada tocar mais neste assunto mas já que insistes: Quando na aldeia se soube que Gabriela estava grávida foi um grande escândalo, foi aí que te deram toda a razão, porque muitos pensavam que a culpa era tua e que tinhas arranjado outra. A família dela mal saía à rua e andavam todos curiosos em saber quem era o pai da criança. Nunca ninguém soube quem era, mas passados 2 meses de ficares hospitalizado, foi colocado um cartaz na casa da família de Gabriela de “Vende-se!” e foram vistos a fazer a mudança. Não deram satisfações a ninguém e desapareceram da aldeia. Uns dizem que ela se deve ter juntado com o pai da criança, mas é tudo boatos, ninguém tem uma certeza. Acho que foi o melhor que aconteceu, assim não darás mais de caras com ela.
Manuel ouviu aquilo com admiração, não supunha que deixaria de ver de uma vez por todas a mulher que o fez sonhar em formar uma família feliz.
O seu coração ressentiu-se e parecia que tinha saudades mas ao mesmo tempo debatia-se porque não queria ter esse sentimento. Era uma mistura de ódio e amor. Achou que foi melhor que tivesse acontecido assim, esqueceria mais depressa estando longe do seu olhar.
A mãe viu a tristeza nos olhos do filho e pediu que se desfizesse de todas as recordações para não sofrer mais e ele achou por bem fazer isso mesmo.
- Tens razão mãe, estas fotos vão já ser todas rasgadas e vai tudo para o caixote do lixo. Os presentes e lembranças colocarei tudo num saco e vais dar para igreja, é pecado deitar coisas boas fora. Não vai restar nada dela, só o meu pensamento não posso deitar no lixo mas um dia nem isso restará, deixarei de pensar nela, prometo-te mãe! – e começou violentamente a rasgar tudo em bocadinhos.
A mãe ajudou nessa tarefa e depressa ficou livre daquele peso, agora queria uma vida nova, recuperar a sua saúde e começar a trabalhar logo que possível naquilo que fazia e sempre gostou. Tinha saudades daquelas pequenas viagens e dos clientes que sempre o adoraram como motorista.

---Trecho escrito por Paula Costa --- 12.03.2008 ----- (continua)

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