sexta-feira, 23 de maio de 2008

Conto 3: "Traição" - Parte 11

Passaram-se meses e o pequeno Tiago nunca mais apareceu no seu consultório.
Manuel todos os dias, no final do expediente, pedia à sua secretária a listagem das marcações para verificar se figurava o nome do seu amigo, mas com muita pena sua, parece que tinha desistido de lá ir. Todas as pessoas que lhe eram mais importantes acabavam sempre por se ir embora. Parecia sina.
Por causa desta situação Manuel andou outro período bastante triste, nada o animava, só vivia para o trabalho e nisso era sempre bastante profissional.
A sua secretária já sabia que quando lhe pedia a lista das marcações era por causa do seu paciente Tiago e certo dia obteve um telefonema de sua mãe a marcar uma consulta. Dispôs-se a marcar logo no primeiro furo que tinham porque sabia que o Dr. Manuel sonhava há muito em encontrar de novo aquele miúdo que o animava demais. Mal terminou o telefonema, correu à sala de atendimento.
- Dr. Manuel, tenho uma surpresa para si! – disse sorrindo …
- Diga Maria, que se passa?
- Sabe quem acabou de marcar uma consulta?
- Não faço ideia, espero que a Maria me diga, é alguém especial?
- Tenho a certeza que é muito especial para si, é o pequeno Tiago Manuel.
- A sério? Já não acreditava mais em vê-lo, para quando marcou? – disse todo entusiasmado e com uma felicidade que já não se via há algum tempo.
- Tivemos uma desistência para amanhã às 15,30h e encaixei logo nesse horário, a mãe do pequeno aceitou e então ficou marcada. Parece que é mesmo a mãe que o traz desta vez.
- Óptimo, fez muito bem, até que enfim uma boa notícia, obrigada Maria.
A face de Manuel rejuvenesceu e notava-se já um sorriso há muito ausente. Como é que uma criança consegue transfigurar logo uma pessoa.
O dia custou a passar, estava muito impaciente e queria que o dia de amanhã chegasse rápido.
Quando saiu do trabalho, não resistiu em passar numa loja de brinquedos e comprar um carro telecomandado. Queria felicitar o seu amigo por voltar ao seu consultório. Sentia-se feliz de novo e desejoso de o rever.
Finalmente aproximava-se a hora da consulta e Manuel não parava de olhar para o relógio.
Muitas vezes não conseguia que as consultas marcadas fossem exactamente a essa hora mas nesse dia conseguiu acelerar para que não houvesse atrasos e que a do seu amigo fosse mesmo às 15,30h, os seguintes que esperassem mais um pouco, aquela consulta era especial para ele.
Mal saiu o paciente antes de Tiago Manuel, ligou para a extensão da sua secretária.
- Maria, já chegou o pequeno Tiago?
- Sim Sr. Doutor, já está na sala de espera com a sua mãe, posso mandar entrar?
- Claro que sim e se demorar mais um pouco já sabe porque foi, avise os próximos e invente qualquer desculpa, a Maria sabe sempre ser convincente – disse sorrindo.
- Esteja descansado doutor e boa consulta ao Tiaguinho, ele está lindo e já se fartou de perguntar por si, até já!
A secretária pediu à mãe e ao filho que entrassem, que o doutor já os esperava.
Tiago correu sem esperar pela mãe e nem bateu na porta, abrindo-a de rompante correndo para o colo de Manuel, abraçando-o com toda a força.
- Voltei, eu não disse que voltaria? – disse Tiago cheio de alegria.
- Eu sabia que te voltaria a ver mas já estava a perder a esperança, demoraste!
Estavam tão entretidos a felicitar-se um ao outro que a mãe do pequeno se encontrava parada na porta incrédula e observar aquela cena.
Quando Manuel se apercebeu que ainda não tinha visto a mãe de Tiago, olhou para a porta e simplesmente parou de espanto.

---Trecho escrito por Paula Costa --- 23.05.2008 ----- (continua)

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