segunda-feira, 12 de maio de 2008

Conto 3: "Traição" - Parte 10

De entre tantas crianças que atendia diariamente, havia um rapazinho de nome Tiago Manuel que simpatizava mais do que as outras e era sempre uma alegria todas as vezes que se deslocava ao seu consultório na companhia duma empregada de seus pais, para ser consultado.
Não sabia muito bem responder o porquê desta afinidade mas talvez fosse porque o fazia lembrar alguém e também por ter aquele nome. Recordava-se de quando namorava a sua Gabriela e falavam em ter filhos, de escolherem os nomes que colocariam aos seus e o de Tiago Manuel era um deles.
Tiago era um miúdo lindo, com uns caracóis muito loiros e uns olhitos azuis radiantes, sempre muito espevitado e cuidado.
Aquelas consultas eram um divertimento para ambos e demoravam sempre mais que as outras. Além de o consultar e ver se estava tudo bem, conversavam muito e Manuel queria sempre saber o que fazia na escola, a que gostava de brincar e todas as vezes que lá ia punham a conversa em dia. Tornaram-se verdadeiros amigos além da relação que mantinham de médico/paciente. Manuel via-o como o filho que sempre sonhou ter.
Na primeira vez que foi ao seu consultório foi levado pelo pai e foi informado que nas próximas consultas o filho seria levado pela sua empregada, dado que ele e a mãe trabalhavam e não tinham muita disponibilidade para o levar nas horas que eram marcadas.
Manuel nunca soube o nome da mãe porque desde início o nome que figurou foi sempre o do pai quando fez a sua inscrição. Escolheu esse Pediatra dado ter ouvido falar muito bem por outros pais conhecidos que também levavam os filhos para aí serem consultados.
Na última consulta ao pequeno Tiago, foi informado pela empregada que o acompanhava, que os pais estavam em vias de separação e a casa onde moravam seria vendida, prevendo-se que o miúdo dali para a frente iria viver com a mãe, mas não sabia bem para que zona, porque ainda ia adquirir casa. Se mudasse para perto do consultório ainda poderia ser que a mãe continuasse a levá-lo ao mesmo pediatra, dado que ela ficaria só ao serviço do seu patrão. Caso contrário teria de mudar para outro que ficasse mais perto da sua residência ou área de trabalho. Também dependeria das economias da mãe, porque até agora o pai é quem pagava as despesas e tinha posses para isso, dado ser um grande empresário na área do mobiliário. A mãe era uma simples empregada de balcão e estas consultas poderiam manter-se se obtivesse uma boa pensão do ex-marido.
Tiago Manuel, embora com 6 aninhos, já o tinham feito ver que provavelmente deixaria de ir ter com o seu médico amigo e isto devido à separação dos seus pais. Via-se nele uma grande tristeza que antes nunca era pressentida, dada a sua traquinice e felicidade até aí vivida.
O miúdo no final dessa consulta deu um grande abraço a Manuel e meio choroso prometeu pedir muito à mãe que o continuasse a levar ao seu consultório, nem que fosse um pouco mais longe, mas queria ser sempre consultado pelo seu querido médico.
Manuel ficou muito triste com aquela situação e esperava não ter sido aquela a última vez que via aquele seu pequeno amigo de que tanto gostava.

---Trecho escrito por Paula Costa --- 12.05.2008 ----- (continua)

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